E agora, José Graziano?
Se alguém entendeu que o problema da fome passa pela oferta de alimentos, que por sua vez passa pela disponibilidade de terras, esse alguém é a FAO. Um grupo de engenheiros franceses que desenvolve o modelo bioenergético "TIMES" já mostrou matematicamente (de verdade!) que, se a demanda por alimentos dos demais países convergir para o nível dos EUA, o preço de uma caloria vai ao infinito em 2035.
Em outras palavras: se todo mundo se esforçar para ter o padrão de vida do cidadão estadunidense médio - e todo mundo está se esforçando para isso! -, haverá uma catástrofe de segurança alimentar daqui a 20 anos. Os pesquisadores apontam as seguintes soluções: (1) demanda alimentar convergindo para um cenário "green", que implica em que cada cidadão utilizará tão somente a quantidade de calorias estritamente necessária para a sua sobrevivência (com desperdício zero - ou seja, a utopia das utopias); (2) aumento extremamente elevado da produtividade na produção de alimentos combinado com aumento do desmatamento; (3) uma combinação das opções (1) e (2).
A FAO sabe muito bem disso.
Roma, 21 março de 2013 (com texto da FAO)
No primeiro Dia Internacional das Florestas, celebrado hoje pela Organização das Nações Unidas, o Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva, propôs que os países apoiem a meta de Desmatamento Ilegal Zero no âmbito do debate sobre a agenda de desenvolvimento pós-2015.
“Em muitos países, o desmatamento ilegal degrada ecossistemas, reduz a disponibilidade de água e limita a oferta de lenha, o que contribui para a redução da segurança alimentar, especialmente no caso dos mais pobres”, afirmou Graziano da Silva em uma cerimônia que marca o Dia Internacional das Florestas. “Parar o desmatamento ilegal e a degradação florestal ajudaria muito na erradicação da fome e da pobreza extrema e na promoção da sustentabilidade”, acrescentou.
“É por isso que quero encorajar os países a promover o plantio de árvores e a considerar a meta de Desmatamento Ilegal Zero no contexto do debate pós-2015. Estes dois objetivos devem estar estreitamente ligados. Podemos alcançar resultados positivos se os países, as instituições financeiras internacionais, as Nações Unidas, a sociedade civil e o setor privado se unirem para enfrentar estas questões.”
Os países mediterrânicos respondem às ameaças
Em paralelo, os países mediterrânicos estão hoje reunidos na Terceira Semana Florestal do Mediterrâneo, que se realiza em Tlemcen, na Argélia (17-21 de março), para discutir o estado das florestas da região e adotar um Marco Estratégico para Florestas Mediterrânicas.
De acordo com o primeiro relatório da FAO sobre O Estado das Florestas do Mediterrâneo, também lançado hoje, estima-se que as florestas mediterrânicas sejam bastante afetadas pelas alterações climáticas e que sofram uma enorme pressão por causa do crescimento da população. Isso resultará no aumento da competição por água e alimentos, recursos já escassos na região.
As mudanças climáticas e o crescimento da população
As temperaturas no Mediterrâneo aumentaram um grau centígrado durante o século XX e as precipitações diminuiram 20 por cento em algumas áreas. No final deste século, se espera que as temperaturas subam mais dois graus, o que vai provavelmente colocar algumas espécies florestais em perigo de extinção, resultando numa perda de biodiversidade.
A expectativa de crescimento populacional na zona do Mediterrâneo é de um aumento de quase 500 milhões de pessoas para 625 milhões em 2050. Isto resultará numa crescente pressão sobre as florestas como fonte de alimentação e água.
A situação é diferente em toda a região. Nos países do norte do Mediterrâneo o abandono de terras florestadas levou a um aumento dramático da ocorrência de incêndios florestais. No Sul, o crescimento populacional levou ao pastoreio excessivo ou à perda de florestas em benefício da agricultura e da expansão urbana. Em ambos os casos, o resultado é o desmatamento e a degradação florestal, agravadas pelos efeitos das alterações climáticas e das crises econômicas. De acordo com o estudo da FAO, novas estratégias colaborativas para a gestão sustentável destes ecossistemas frágeis e vitais são urgentemente necessárias. Em países como a Turquia e a Tunísia, onde existe uma forte vontade política, a área de florestas foi significativamente recuperada nas últimas décadas.
“A região do Mediterrâneo está enfrentando muitas alterações sociais, climáticas e de estilos de vida”, advertiu o Diretor-Geral Adjunto da FAO do Departamento de Engenharia Florestal, Eduardo Rojas-Briales. “Se não forem bem gerenciadas, tais alterações podem ter impactos negativos sobre os meios de subsistência, a biodiversidade, as bacias hidrográficas, e aumentam o risco de incêndios florestais e a desertificação. É fundamental avaliar regularmente o estado das florestas do Mediterrâneo a partir de dados objetivos e confiáveis e gerir de forma mais sustentável os recursos florestais ameaçados.
Novas estratégias para assegurar os serviços ambientais
As florestas mediterrânicas são importantes para a captura do carbono. Em 2010 estocaram cerca de 5 bilhões de toneladas de carbono, o que representa 1,6% do estoque global de carbono florestal. Também prestam serviços valiosos aos ecossistemas, tais como a regulação da água e do clima, fornecimento de madeira e de produtos não-madeireiros e a conservação da biodiversidade. A região do Mediterrâneo é uma das mais importantes do mundo para biodiversidade. No Mediterrâneo encontram-se mais de 25.000 espécies de plantas, em comparação com cerca de 6.000 existentes na Europa Central e do Norte.
O relatório destaca que o valor da floresta mediterrânica e o seu papel na adaptação e mitigação das alterações climáticas devem ser reconhecido a nível local, regional e nacional. Convida também os governos e os engenheiros florestais para promoverem o uso da madeira e dos produtos florestais não-madeireiros, como a cortiça, para armazenamento de carbono a longo prazo e para reforçar o potencial de investimento dos pequenos produtores que trabalham em indústrias madeireiras e não-madeireiras (pinhões, esparto, cogumelos, mel, etc.
O estudo sugere aos engenheiros florestais que utilizem a grande variedade de recursos genéticos florestais nas suas atividades e que promovam espécies florestais com maior potencial de se adaptarem às novas condições climáticas.
Em uma escala local, os engenheiros florestais também devem melhorar o planejamento florestal para gerenciar os ecossistemas de forma a manter uma densidade ideal de árvores e para lidar com a escassez de água enquanto que as atividades de grande escala devem incluir uma prevenção sistemática de incêndios florestais.
Prevenção dos incêndios florestais
O relatório da FAO alerta que as mudança climáticas podem resultar numa maior ocorrência de incêndios e no aumento da sua gravidade. Entre 2006 e 2010, aproximadamente dois milhões de hectares de florestas foram atingidas por incêndios na região do Mediterrâneo. Sem medidas de prevenção adequadas, incluindo a redução do risco de incêndios e de queimadas controladas de biomassa durante a temporada de inverno para reduzir os níveis de combustível, as condições climáticas extremas podem causar incêndios catastróficos.
O relatório foi elaborado por mais de 20 instituições científicas e técnicas e ONGs, incluindo cerca de 50 autores e outras contribuições coordenadas pela FAO e o Plan Bleu, o centro que serve como o principal apoio da Comissão Mediterrânica para o Desenvolvimento Sustentável. A FAO pretende publicar O Estado das Florestas do Mediterrâneo a cada cinco anos, proporcionando assim mais oportunidades para unificarar e mobilizar parceiros na gestão sustentável das florestas e bosques mediterrânicos.
Com base nas recomendações chaves adotadas na Declaração de Tlemcen durante a rodada de alto nível, a futura implementação do Marco Estratégico para as Florestas Mediterrânicas poderá ser uma ferramenta regional útil para adaptação das políticas florestais nacionais em vista das alterações globais em curso que afetam a região do Mediterrâneo.
Se alguém entendeu que o problema da fome passa pela oferta de alimentos, que por sua vez passa pela disponibilidade de terras, esse alguém é a FAO. Um grupo de engenheiros franceses que desenvolve o modelo bioenergético "TIMES" já mostrou matematicamente (de verdade!) que, se a demanda por alimentos dos demais países convergir para o nível dos EUA, o preço de uma caloria vai ao infinito em 2035.
Em outras palavras: se todo mundo se esforçar para ter o padrão de vida do cidadão estadunidense médio - e todo mundo está se esforçando para isso! -, haverá uma catástrofe de segurança alimentar daqui a 20 anos. Os pesquisadores apontam as seguintes soluções: (1) demanda alimentar convergindo para um cenário "green", que implica em que cada cidadão utilizará tão somente a quantidade de calorias estritamente necessária para a sua sobrevivência (com desperdício zero - ou seja, a utopia das utopias); (2) aumento extremamente elevado da produtividade na produção de alimentos combinado com aumento do desmatamento; (3) uma combinação das opções (1) e (2).
A FAO sabe muito bem disso.
Roma, 21 março de 2013 (com texto da FAO)
No primeiro Dia Internacional das Florestas, celebrado hoje pela Organização das Nações Unidas, o Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva, propôs que os países apoiem a meta de Desmatamento Ilegal Zero no âmbito do debate sobre a agenda de desenvolvimento pós-2015.
“Em muitos países, o desmatamento ilegal degrada ecossistemas, reduz a disponibilidade de água e limita a oferta de lenha, o que contribui para a redução da segurança alimentar, especialmente no caso dos mais pobres”, afirmou Graziano da Silva em uma cerimônia que marca o Dia Internacional das Florestas. “Parar o desmatamento ilegal e a degradação florestal ajudaria muito na erradicação da fome e da pobreza extrema e na promoção da sustentabilidade”, acrescentou.
“É por isso que quero encorajar os países a promover o plantio de árvores e a considerar a meta de Desmatamento Ilegal Zero no contexto do debate pós-2015. Estes dois objetivos devem estar estreitamente ligados. Podemos alcançar resultados positivos se os países, as instituições financeiras internacionais, as Nações Unidas, a sociedade civil e o setor privado se unirem para enfrentar estas questões.”
Os países mediterrânicos respondem às ameaças
Em paralelo, os países mediterrânicos estão hoje reunidos na Terceira Semana Florestal do Mediterrâneo, que se realiza em Tlemcen, na Argélia (17-21 de março), para discutir o estado das florestas da região e adotar um Marco Estratégico para Florestas Mediterrânicas.
De acordo com o primeiro relatório da FAO sobre O Estado das Florestas do Mediterrâneo, também lançado hoje, estima-se que as florestas mediterrânicas sejam bastante afetadas pelas alterações climáticas e que sofram uma enorme pressão por causa do crescimento da população. Isso resultará no aumento da competição por água e alimentos, recursos já escassos na região.
As mudanças climáticas e o crescimento da população
As temperaturas no Mediterrâneo aumentaram um grau centígrado durante o século XX e as precipitações diminuiram 20 por cento em algumas áreas. No final deste século, se espera que as temperaturas subam mais dois graus, o que vai provavelmente colocar algumas espécies florestais em perigo de extinção, resultando numa perda de biodiversidade.
A expectativa de crescimento populacional na zona do Mediterrâneo é de um aumento de quase 500 milhões de pessoas para 625 milhões em 2050. Isto resultará numa crescente pressão sobre as florestas como fonte de alimentação e água.
A situação é diferente em toda a região. Nos países do norte do Mediterrâneo o abandono de terras florestadas levou a um aumento dramático da ocorrência de incêndios florestais. No Sul, o crescimento populacional levou ao pastoreio excessivo ou à perda de florestas em benefício da agricultura e da expansão urbana. Em ambos os casos, o resultado é o desmatamento e a degradação florestal, agravadas pelos efeitos das alterações climáticas e das crises econômicas. De acordo com o estudo da FAO, novas estratégias colaborativas para a gestão sustentável destes ecossistemas frágeis e vitais são urgentemente necessárias. Em países como a Turquia e a Tunísia, onde existe uma forte vontade política, a área de florestas foi significativamente recuperada nas últimas décadas.
“A região do Mediterrâneo está enfrentando muitas alterações sociais, climáticas e de estilos de vida”, advertiu o Diretor-Geral Adjunto da FAO do Departamento de Engenharia Florestal, Eduardo Rojas-Briales. “Se não forem bem gerenciadas, tais alterações podem ter impactos negativos sobre os meios de subsistência, a biodiversidade, as bacias hidrográficas, e aumentam o risco de incêndios florestais e a desertificação. É fundamental avaliar regularmente o estado das florestas do Mediterrâneo a partir de dados objetivos e confiáveis e gerir de forma mais sustentável os recursos florestais ameaçados.
Novas estratégias para assegurar os serviços ambientais
As florestas mediterrânicas são importantes para a captura do carbono. Em 2010 estocaram cerca de 5 bilhões de toneladas de carbono, o que representa 1,6% do estoque global de carbono florestal. Também prestam serviços valiosos aos ecossistemas, tais como a regulação da água e do clima, fornecimento de madeira e de produtos não-madeireiros e a conservação da biodiversidade. A região do Mediterrâneo é uma das mais importantes do mundo para biodiversidade. No Mediterrâneo encontram-se mais de 25.000 espécies de plantas, em comparação com cerca de 6.000 existentes na Europa Central e do Norte.
O relatório destaca que o valor da floresta mediterrânica e o seu papel na adaptação e mitigação das alterações climáticas devem ser reconhecido a nível local, regional e nacional. Convida também os governos e os engenheiros florestais para promoverem o uso da madeira e dos produtos florestais não-madeireiros, como a cortiça, para armazenamento de carbono a longo prazo e para reforçar o potencial de investimento dos pequenos produtores que trabalham em indústrias madeireiras e não-madeireiras (pinhões, esparto, cogumelos, mel, etc.
O estudo sugere aos engenheiros florestais que utilizem a grande variedade de recursos genéticos florestais nas suas atividades e que promovam espécies florestais com maior potencial de se adaptarem às novas condições climáticas.
Em uma escala local, os engenheiros florestais também devem melhorar o planejamento florestal para gerenciar os ecossistemas de forma a manter uma densidade ideal de árvores e para lidar com a escassez de água enquanto que as atividades de grande escala devem incluir uma prevenção sistemática de incêndios florestais.
Prevenção dos incêndios florestais
O relatório da FAO alerta que as mudança climáticas podem resultar numa maior ocorrência de incêndios e no aumento da sua gravidade. Entre 2006 e 2010, aproximadamente dois milhões de hectares de florestas foram atingidas por incêndios na região do Mediterrâneo. Sem medidas de prevenção adequadas, incluindo a redução do risco de incêndios e de queimadas controladas de biomassa durante a temporada de inverno para reduzir os níveis de combustível, as condições climáticas extremas podem causar incêndios catastróficos.
O relatório foi elaborado por mais de 20 instituições científicas e técnicas e ONGs, incluindo cerca de 50 autores e outras contribuições coordenadas pela FAO e o Plan Bleu, o centro que serve como o principal apoio da Comissão Mediterrânica para o Desenvolvimento Sustentável. A FAO pretende publicar O Estado das Florestas do Mediterrâneo a cada cinco anos, proporcionando assim mais oportunidades para unificarar e mobilizar parceiros na gestão sustentável das florestas e bosques mediterrânicos.
Com base nas recomendações chaves adotadas na Declaração de Tlemcen durante a rodada de alto nível, a futura implementação do Marco Estratégico para as Florestas Mediterrânicas poderá ser uma ferramenta regional útil para adaptação das políticas florestais nacionais em vista das alterações globais em curso que afetam a região do Mediterrâneo.
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