A dádiva do zebu e os preconceitos urbanoides, por Aldo Rebelo

Se a cana-de-açúcar fez a riqueza do Recife, o ouro a de Vila Rica, o café a de São Paulo, Uberaba é uma dádiva do zebu. Subespécie multirracial, originária da Índia, como a jaca e a manga, introduzida por volta de 1870, o boi rústico encontrou no Triângulo Mineiro seu habitat perfeito. Na observação literária do escritor Mário Palmério, coube ao uberabense “botar mais sangue zebu na vacada de cria”, isto é, fazer melhoramentos genéticos que distinguem a região como um nicho econômico-científico da agropecuária no Brasil.

Entre outras proezas de laboratório, a Ciência no Brasil marcou um gol de placa ao realizar, com inteligência e recursos exclusivamente nacionais, o sequenciamento do genoma de raças zebuínas. A façanha foi empreendida apenas três anos depois do pioneiro sequenciamento do genoma do boi, realizado por um consórcio de 300 cientistas de 25 países. O feito brasileiro abre caminho para um futurismo genético no qual o produtor poderá determinar, antes de a cria nascer, sua produção de leite, resistência a doenças e maciez do filé mignon.

O que ainda é futuro em outros países já é presente no Brasil, graças a um extraordinário avanço no experimento científico e na inovação tecnológica obtida por nossos centros de pesquisa em associação com os produtores.

Ao contrário do que parece, a agropecuária desses países concorre ferozmente com a brasileira na exportação de carnes, de boi e frango, e de grãos, como soja e milho, além de frutas e açúcar. O Brasil responde com qualidade e produtividade. Apesar da queda dos preços internacionais, o aumento do volume exportado manteve em 2014 um rendimento próximo dos US$100 bilhões faturados em 2013. Com expansão de 6,91% em 2014, a pecuária salvou a economia de um déficit crítico num ano em que o PIB cresceu apenas 0,1%.

Mas essa galinha de ovos de ouro da economia brasileira é incompreendida porque preconceitos urbanoides, sustentados por desinformação, interesses externos e uma legislação inadequada, durante anos caracterizaram o homem do campo como um delinquente a desmatar e semear agrotóxicos. Até o nosso boi tem sido estigmatizado por arrotar em demasia e produzir o gás metano que aumenta o efeito estufa na atmosfera. Das leis, ao menos, começamos a cuidar, removendo o código penal verde que reprimia a atividade rural. Quando relatamos na Câmara dos Deputados o projeto do novo Código Florestal, inscrevemos na futura lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, a filosofia ambivalente de que a agropecuária tem de ser tão protegida quanto a natureza.

Aldo Rebelo é ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Comentários

Euclides Sordi disse…
O Ministro Aldo Rebelo teve o mérito de relatar o código florestal e mostrar a versão correta sobre a agropecuária brasileira.Isto ninguém lhe pode tirar. Pena que esteja vinculado com este governo petista . Não consigo entender como ele pode conviver com toda esta mentira .