Produtores rurais financiam preservação ambiental no Brasil

Área pre­ser­va­da pe­lo agrone­gó­cio cor­res­pon­da a um pa­trimô­nio imo­bi­li­za­do de R$ 3,1 tri­lhões

É fre­quen­te a acu­sa­ção de que o agrone­gó­cio se­ria um dos gran­des, se não o prin­ci­pal, ini­mi­go do meio am­bi­en­te. No en­tan­to, tal vi­são não cor­res­pon­de aos fa­tos, co­mo apon­ta re­cen­te es­tu­do da Em­bra­pa. As áre­as de ve­ge­ta­ção na­ti­va pre­ser­va­das por agri­cul­to­res, pe­cu­a­ris­tas, sil­vi­cul­to­res e ex­tra­ti­vis­tas equi­va­lem a 25,6% do ter­ri­tó­rio bra­si­lei­ro.

Es­ti­ma-se que a área pre­ser­va­da pe­lo agrone­gó­cio cor­res­pon­da a um pa­trimô­nio imo­bi­li­za­do de R$ 3,1 tri­lhões. Pa­ra men­su­rar a con­tri­bui­ção fi­nan­cei­ra do agrone­gó­cio na pre­ser­va­ção do meio am­bi­en­te, a Em­bra­pa fez tam­bém um cál­cu­lo da re­cei­ta anu­al que se­ria ge­ra­da pe­lo plan­tio de mi­lho – que é uma cul­tu­ra pre­sen­te em to­do o ter­ri­tó­rio na­ci­o­nal – nas áre­as de re­ser­va le­gal. O va­lor anu­al che­ga­ria a R$ 6 bi­lhões, com ge­ra­ção de 74 mil em­pre­gos. Po­de-se di­zer, sem exa­ge­ro, que, além de se­rem os res­pon­sá­veis pe­la mai­or par­ce­la de ter­ras pre­ser­va­das no País, os pro­du­to­res ru­rais são os que mais in­ves­tem re­cur­sos na pro­te­ção da ve­ge­ta­ção na­ti­va.

“Sa­bia-se que ha­via uma con­tri­bui­ção dos agri­cul­to­res na pre­ser­va­ção, po­rém os nú­me­ros des­sa par­ti­ci­pa­ção eram des­co­nhe­ci­dos”, afir­ma Eva­ris­to de Mi­ran­da, che­fe-ge­ral da Em­bra­pa Ter­ri­to­ri­al. “Ma­pe­a­mos os da­dos do Bra­sil in­tei­ro e cons­ta­ta­mos que não há país do mun­do no qual o se­tor agrí­co­la de­di­que tan­to pa­trimô­nio e re­cur­sos à pre­ser­va­ção do meio am­bi­en­te.”

Pa­ra es­se es­tu­do, a Em­bra­pa uti­li­zou os da­dos do Sis­te­ma Na­ci­o­nal de Ca­das­tro Am­bi­en­tal Ru­ral (SiCAR), o re­gis­tro pú­bli­co obri­ga­tó­rio de to­dos os imó­veis ru­rais, que reú­ne in­for­ma­ções so­bre as áre­as de pre­ser­va­ção per­ma­nen­te, de uso res­tri­to, re­ser­vas le­gais, re­ma­nes­cen­tes de flo­res­tas e ou­tras for­mas de ve­ge­ta­ção na­ti­va. O SiCAR foi cri­a­do pe­lo Có­di­go Flo­res­tal (Lei 12.651/2012).

Es­ses da­dos per­mi­ti­rão ao po­der pú­bli­co apri­mo­rar o con­tro­le, o mo­ni­to­ra­men­to, o pla­ne­ja­men­to am­bi­en­tal e econô­mi­co e o com­ba­te ao des­ma­ta­men­to em to­do o ter­ri­tó­rio na­ci­o­nal. “Ao re­gis­trar o CAR, o pro­du­tor fez uma es­pé­cie de im­pos­to de ren­da no qual, além de de­cla­rar seu apar­ta­men­to, foi obri­ga­do a de­ta­lhar seus li­mi­tes, a do­cu­men­tar a plan­ta do imó­vel e a dis­po­si­ção dos mó­veis, com o com­pro­mis­so de não me­xer mais ne­les”, dis­se Eva­ris­to de Mi­ran­da. Até o iní­cio do ano, 4,8 mi­lhões de pro­du­to­res ru­rais ha­vi­am ca­das­tra­do su­as pro­pri­e­da­des, o que equi­va­le a 94% dos imó­veis cons­tan­tes do Cen­so Agro­pe­cuá­rio de 2006.


Com da­dos em­pí­ri­cos, o es­tu­do da Em­bra­pa com­pro­va o acer­to do Su­pre­mo Tri­bu­nal Fe­de­ral (STF) ao re­co­nhe­cer, em fe­ve­rei­ro des­te ano, a am­pla con­cor­dân­cia do Có­di­go Flo­res­tal de 2012 com a Cons­ti­tui­ção.

Em pri­mei­ro lu­gar, não se pro­te­ge o meio am­bi­en­te pe­la sim­ples im­po­si­ção de re­gras mais rí­gi­das, co­mo se o ob­je­ti­vo da le­gis­la­ção am­bi­en­tal fos­se a ex­tin­ção do agrone­gó­cio. A re­a­li­da­de bra­si­lei­ra in­di­ca que a pre­ser­va­ção do meio am­bi­en­te vem pre­ci­sa­men­te pe­lo equi­lí­brio das nor­mas jurídicas. Sen­do o pro­du­tor ru­ral quem pre­ser­va mais de um quar­to do ter­ri­tó­rio na­ci­o­nal, não faz ne­nhum sen­ti­do es­tran­gu­lá-lo com uma le­gis­la­ção dra­co­ni­a­na. A Lei 12.651/2012 é exem­plo in­ter­na­ci­o­nal de equi­lí­brio en­tre pro­du­ção ru­ral, res­pei­to ao meio am­bi­en­te e sus­ten­ta­bi­li­da­de.

Além dis­so, foi o Có­di­go Flo­res­tal, com a cri­a­ção do SiCAR, que pos­si­bi­li­tou re­a­li­zar o di­ag­nós­ti­co pre­ci­so da pre­ser­va­ção am­bi­en­tal no País. An­tes, por não ha­ver da­dos em­pí­ri­cos, as dis­cus­sões so­bre o te­ma ba­se­a­vam-se fre­quen­te­men­te em es­te­reó­ti­pos, com pro­pos­tas que, em vez de in­cen­ti­va­rem quem de fa­to pre­ser­va o meio am­bi­en­te, per­se­gui­am o pro­du­tor ru­ral, co­mo se ele fos­se um ini­mi­go a ser com­ba­ti­do.

Con­tra­por a pre­ser­va­ção do meio am­bi­en­te com o agrone­gó­cio é um er­ro, com efei­tos de­le­té­ri­os so­bre o de­sen­vol­vi­men­to econô­mi­co, so­ci­al e am­bi­en­tal do País. É o dis­cur­so do re­tro­ces­so. O es­tu­do da Em­bra­pa re­ve­la uma re­a­li­da­de ain­da mais con­tun­den­te – tal con­tra­po­si­ção é sim­ples­men­te fal­sa. O pro­du­tor ru­ral é o gran­de ali­a­do da pre­ser­va­ção am­bi­en­tal.

Texto publicado originalmente no jornal O Estado de São Paulo.

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Comentários

Aleluia! Até que enfim o bom senso foi confirmado pela Embrapa, e já teve político idiota querendo acabar com a Embrapa.
Acaba com o Ibama!