Entenda como os filhos de produtores rurais americanos criam raízes na agropecuária

Antes de crescer para se tornarem produtores rurais, um número surpreendente de crianças rurais da América aprendem a construir foguetes. Todo ano, os céus das áreas rurais desse país ficam cheios de mini-mísseis construídos por crianças. Os maiores voam centenas de metros, levando altímetros e paraquedas. Os campos de beisebol são locais populares de lançamento, bem como os campos de cultivo de alfafa: esse último tende a ser maior e, comparado com outras colheitas, a alfafa tolera um pouco de pisoteio. Isso explica muito sobre as fazendas americanas.

Uma organização de jovens está por trás de milhares desses lançamentos de foguetes rurais: a 4-H club, sigla que deriva de um juramento envolvendo cabeça, coração, mãos e saúde. Entre as pessoas da cidade, a 4-H não é muito bem conhecida. Porém, sua existência e sua história revelam muita coisa sobre as diferentes visões da América sobre produção rural e de alimentos. Para muitos, esse nome evoca uma única imagem: um filho de um fazendeiro, vestindo jeans e botas de cowboy, levando seus animais para eventos. Muitos membros do clube realmente criam e exibem animais, isso é verdade: um dos pontos turísticos do verão americano é assistir uma criança de 11 anos em uma feira estadual guiando um novilho de meia tonelada a juízes do 4-H.

Porém, a 4-H nasceu para disseminar ciência e formar caráter. Cerca de dois milhões de crianças participam, dos clubes e acampamentos do grupo, enquanto milhões mais seguem os programas 4-H nas escolas. Um grande impulso está em andamento para alcançar mais crianças urbanas, com esquemas como incubadoras de ovos na sala de aula de forma que crianças de oito anos aprendam que a “o frango não vem do McDonald’s”. Em Estados rurais como o Nebraska, a organização alcança uma criança em cada três. Os clubes e acampamentos 4-H formam a ala jovem de uma parceria entre o governo e as universidades públicas financiadas por presentes da terra federal, que remonta à guerra civil e é configurado para transmitir novas tecnologias para todas as regiões na união.

Visitando a Nebraska State Fair recentemente, a equipe do blog Lexington, do The Economist, visitou o pavilhão dos projetos 4-H. Algumas coisas podem ser encontradas em feiras em muitos países: potes de geleia, legumes e madeira premiados. Porém, havia uma ênfase notável em ciência e negócios também. Junto com longas prateleiras de modelos de foguetes, as exposições incluíam uma exibição de uma dissecação do olho de um porco e uma análise estatística sobre doenças de frangos. Cole Urmacher, de 11 anos, membro da quarta geração do 4-H, fez uma demonstração de robótica. Becca Laub, de 16 anos, falou sobre seus planos para uma empresa de tomate e criação de peixes e sua ambição de estudar engenharia. As pessoas acham que os produtores rurais não têm educação, ela zombou. Seu pai tem graduação em economia e usa isso para avaliar as tendências de mercado. Além disso, graças às engenhocas de posicionamento global, um dos tratores da família pode se dirigir sozinho, o que é muito legal.

Os rivais em outras terras têm teorias desdenhosas sobre por que a América, um país rico, é tão bom na produção de alimentos baratos. Eles pintam os produtores rurais americanos como peões de corporações agrícolas gigantes, intimidados pelas forças de mercado para produzir alimentos geneticamente modificados. O Lexington não esqueceu a cara de um ministro da agricultura francês, entrevistado durante uma postagem anterior para a Europa, quando zombou da produção agrícola “asséptica” da América.

Os americanos têm pensado de forma diferente sobre a agricultura há muito tempo – e não por acidente. Estabelecidas em uma onda de migração, cujo pico foi nos anos de 1880, os campos de Nebraska foram divididas por alemães, tchecos, dinamarqueses, suecos e até mesmo luxemburgueses pioneiros. Desde o início o plano era converter os colonos do Velho Mundo para formas científicas do Novo Mundo. À medida que o sistema se desenvolveu, o Congresso enviou agentes regionais de universidades para ensinar aos homens e suas esposas sobre agricultura moderna e habilidades como tomates em conserva. Nos anos de 1920, trens educacionais percorreram os campos, puxando vagões com animais e cultivos de demonstração. Em cada parada, centenas se reuniriam para palestras públicas. Os mais velhos resistiram às ideias modernas de plantas milho híbrido comprado de comerciantes ao invés de suas sementes de milho de suas próprias colheitas. Surgiu o movimento 4-H, que deu aos jovens sementes híbridas para plantar, e então esperou pelo choque de ver como o milho das crianças ultrapassou o de seus pais. Mais tarde, os mais jovens promoveram essas inovações, como computadores.

Como a América não era um país novo, argumentou Greg Ibach, chefe de agricultura do governo do Estado de Nebraska, uma preocupação primária era alimentar uma crescente população e transportar alimentos em grandes distâncias.

Nebraska, um grande produtor de carne bovina e milho, sente-se otimista de várias maneiras. Fala-se muito da classe média da China que está demandando carne e de uma população global de rápido crescimento. No ano passado, produtores rurais graduados na Universidade de Nebraska em Lincoln podiam escolher dentre várias ofertas de emprego. A América está “completamente estabelecida” para suprir a crescente demanda global , contanto que possa continuar usando culturas geneticamente modificadas e outras tecnologias, disse Will Miller, um estudante da UNL que criou novilhas suficientes como membro da 4-H para pagar seu caminho até a universidade.

Nem todos os jovens agricultores estão interessados em biotecnologia. A 4-H oferece projetos orgânicos também. Porém, muitos são empreendedores. A América planta ciência e capitalismo em suas crianças rurais. Assim eles mantêm raízes profundas.

Comentário BeefPoint: traduzimos e adaptamos esse artigo da revista The Economist com o objetivo de aumentar a vontade de nós, produtores brasileiros, criarmos maneiras e projetos de incentivar a criação de novos talentos e lideranças no agro brasileiro.

Fonte: The Economist, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

Comentários

e1000 disse…
Olha..se eu pudesse levar minha fazenda, mudava pros EUA.. enquanto eles tem o 4-H, a gente aqui tem MST, FUNAI, IBAMA, CAR, LAU..nao tem estrada nem ferrovia nem porto..
emanuel disse…
> Eu aconselho meus dois filhos a NÃO SE TORNAREM PRODUTORES RURAIS no Brasil e eu mesmo vou sair na primeira oportunidade! Aqui nos temos MST, FUNAI, quilombola, Via Campesina, não temos estradas, nem comunicação, nem escolas, nem programas de saneamento e habitação rural, etc...um horror e a FUNAI (como apoio total do Governo Federal) EXPROPRIA SEM PAGAR NADA o patrimônio de quem ha 50, 100 anos trabalha e cria sua família numa terra!!!!!! País que não respeita seus cidadãos!!