Tirando o bode da sala

Em entrevista publicada ontem no Valor Econômico on-line o amazonólogo Beto Veríssimo do IMAZON acenou com a possibilidade de haver racionalidade na redução, em certas circunstâncias, do percentual de Reserva Legal na Amazônia para 50%.

Segue trecho da entrevista:

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Valor: Quais os riscos das mudanças no Código Florestal para a Amazônia?
Veríssimo: Temos um problema no Brasil que é o seguinte: Brasília entende muito pouco de Amazônia. Geralmente o que sai de Brasília são fórmulas genéricas de aplicação para o território da Amazônia. E a Amazônia é muito heterogênea. Então, parte das tentativas de conservar a Amazônia são generalizadas, assim como as iniciativas de flexibilizar também o são. Um bom exemplo é a questão do Código Florestal. O jeito que a bancada ruralista resolveu este movimento é sempre uma permissão para desmatar mais. A reforma do Código tem que permitir que, naquelas áreas que têm aptidão para desenvolver agropecuária, que se possa intensificar o uso da terra. O Brasil precisa concluir o zoneamento econômico- ecológico, que tinha que ter sido feito há muito tempo e foi sempre adiado porque não havia interesse de fato em resolver esta questão. Agora se tornou uma questão quase imperiosa. O zoneamento é a base técnica para se ver onde serão aqueles 20% do território que a gente deveria alocar para usos de agropecuária, energético, de reflorestamento ou ocupação humana. Está ficando claro que o limite da ocupação na Amazônia e o limite do desmatamento estão muito próximos.

Valor: O que o sr. quer dizer com isso?
Veríssimo: Caiu a ficha que é importante pactuar em torno do zoneamento, porque é um pacto político. Precisa primeiro fazer o zoneamento antes de se discutir a flexibilização da reserva legal. Saber se é 80%, se é 50%, se é 100%. Essa conversa de reserva legal só faz sentido se a gente tiver resolvido primeiro o dilemma do zoneamento. Ou seja, em algumas áreas da Amazônia vamos ter 100% de floresta, em outras vai ser 80% e em outras vai ser 50%. Em áreas que já tenham ocupação intensiva muito expressiva, por exemplo, faz mais sentido intensificar aquilo que já foi ocupado para evitar que a pecuária avance sobre as florestas remanescentes.


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Eu ainda não consigo entender por que, em certas circunstâncias, esse percentual não possa ser 52,345%, ou 48,627%, ou zero. Por que, em certas circunstâncias, 50% é o mínimo?

Se é razoável manter 50% na Amazônia, por que paulistas, gaúchos e catarinos não conseguem manter os míseros 20% deles?

Um doce de jambú para quem me der uma resposta razoável.

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