A ciência cega de Antônio Nobre e Ricardo Rodrigues

Preservadores de paradigma moribundo
Poucas coisas ainda me deixam estarrecido nesse debate do Código Florestal. Ao longo dos anos vi verdadeiros absurdos acontecerem, mas aprendi é compreender quando um ongueiro argumenta contra o Agro nacional, ou quando articulistas comprometidos como Sérigo Agranches ou Claudio Ãngelo torcem números para construir factóides de acordo com seus credos. Mesmo o fato de alguns deles serem jornalistas e, teoricamente, comprometidos com a verdade, não me surpreende mais. O jornalismo ambiental no Brasil já se desapegou dessas formalidades conceituais há décadas. Mas, dentre todos os absurdos corriqueiros nessa guerra de (des)informação do Código Florestal, um ainda me deixa embasbacado: o comportamento de alguns cientistas.

Na última sexta feira dois deles, Antonio Nobre, agrônomo, PhDeus em Ciências da Terra e pesquisador do Inpa e Ricardo Rodrigues, biólogo, PhDeus em Biologia Vegetal e professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/ USP, soltaram mais uma pérola de desrespeito aos cânones básicos da formação de conhecimento novo.

Os dois PhDeuses fizeram publicar no jornal Valor Econômico o seguinte artigo: Código florestal: águas ameaçadas. No texto, Nobre e Rodrigues, argumentam que "nada justifica a destruição dos recursos hídricos brasileiros".

Existe alguma coisa mais desonesta do que esse argumento? Alguém conhece alguém que esteja tentando justificar a destruição dos recursos hídricos brasileiros?

O textículo de Nobre e Rodrigues é eivado de preconcepções sobre a história da ocupação do Brasil. Analise com os óculos morais de hoje quem agiu no passado guiado por outros preceitos morais, em um outro momento histórico. Fosse um articulista comprometido não haveria problema nessa atitude, mas vindo de dois PhDs é assustador. Me envergonho desse tipo de cientista.

O objetivo central do texto de Nobre e Rodrigues foi uma análise da "alegação de que restaurar matas de galeria, ..., reduzirá a área disponível para a produção de alimentos". De acordo com os cálculos dos grande doutos phds a área agrícola que se perderia pela imposição das APPs ao Agro é ínfima em relação à importância de sua proteção. Os dois grandes gênios deixam no ar a afirmação de que a relação desigual justifica de sobejo a preservação do Código Florestal de 1965.

Faz todo o sentido. O argumento quase para de pé quando a gente raciocina de forma simplória e reducionista como fizeram os dois "cientistas" (assim mesmo aspeado, porque cientista sem aspas é outra coisa).

Nem de longe o problema com a imposição de APPs ao Agro é um simples problema de perda de área agrícola. Há uma relação absurdamente desigual entre a capacidade de grandes produtores como Blairo Maggi, por exemplo, e pequenos agricultores de assumirem as obrigações que Nobre e Rodrigues querem que eles lhes sejam impostas.



Nobre e Rodrigues argumentam que a área agrícola perdida é muito pequena. Eu desafio Nobre e Rodrigues a personificar esse pequeno. A ir até a terra da gente que mais sofrera com as APPs e dizer a elas que eles devem se ferrar com o respaldo da ciência em nome da proteção dos rios.

O que esse bando de militante com credencial de cientista precisa perceber é a paquidermica perda de tempo que é buscar justificativas para se oprimir o homem o campo. Se cientistas como Nobre e Rodrigues gastassem 10% do tempo e recursos de pesquisa que manejam buscando um solução conciliadora, nós estaríamos muito mais próximos dele do que estamos hoje.

O que esses "cientistaszinhos" de um paradigma só precisa perceber que é desonerar e proibir são coisas totalmente diferentes. O novo texto desonera o Agro de uma série de imposições de proteção ambiental, mas ele não proíbe nenhuma delas. Isso imporá a pessoas como Nobre, Rodrigues, Marina Silva, Capobianco, e sua turma, habituadas a apontar o dedo na cara do produtor gritando preserve com um bloco de multas na mão, a mudar de comportamento.

O próprio Ricardo Rodrigues teve a chance de perceber isso em Paragominas em um projeto de recuperação ambiental tocado lá por ele. Foi chegar conversando e sorrindo ao invés de gritando e multando, que os produtores de Paragominas entraram em acordo com os pesquisadores e iniciaram a recuperação de suas áreas. Rodrigues não mudou de comportamento porque descobriu o que poderia acontecer. Rodrigues mudou de comportamento porque foi pago para mudar. Mas mesmo tendo mudado como um mercenário troca de lado numa guerra, deveria ter percebido a vantagem para o meio ambiente que é trabalhar junto com o produtor ao invés de junto com ongueiros contra o produtor.

Eu, sinceramente ainda fico estarrecido com a atitude torpe de gente como Antonio Nobre e Ricardo Rodrigues. Isso não é ciência. Pode ser qualquer coisa, militância, política, jogo de interesse, qualquer coisa, mas ciência não é.

Comentários

Luiz Prado disse…
Insisto: a APP genérica função da largura dos rios e válida do Oiapoque ao Chui é uma besteira que não existe em nenhum país sério. É um típico caso de masturbação brasileira com as ideias foram do lugar. Mas, mais do que isso, é um cheque em branco para a continuada omissão do poder público, no caso, dos órgãos ambientais, que NUNCA demarca as APPs. Dizer que os proprietários devem demarcá-las é farsa, asneira, tolice, porque essas demarcações dependem e sempre dependerão do poder público. No Rio de Janeiro, o que eles querem é mandar contratar os amigos para fazê-las, sem NUNCA constituir uma base de dados acessível à sociedade. Demarca-se a APP de UM LOTE, e o vizinho tem que contratar o mesmo serviço novamente, começando do zero. Mercado cativo, ação entre amigos. A APP genérica é uma bobagem, também, sob a ótica da recarga do aquífero. Há outras formas mais efetivas de assegurar a infiltração de água no solo, como o plantio direto.
Carlos A. A. disse…
Quem conheceu esse prof. Ricardo sabe que ele era tão maníaco em fazer florestas que estava trabalhando além das metragens absurdas do código antigo em fazer corredores de ligação das matas da APP com a Reserva Legal com uma largura mínima de 15 metros. Quando ia fazer um projeto de APP, a área úmida que considerava não era bem pela umidade do solo e sim pelo tipo de vegetação. Mesmo o solo estando seco em cima ele dizia: -"é mais que juro por Deus que tem água ai em baixo". Teve muitos méritos em conseguir fazer florestas dinâmicas, mas não entende nada ou não quer enxergar que um humano com seu trabalho honesto no uso da terra em produzir para humanidade vale mais que muitas florestas e não pode ser econômica e moralmente prejudicado como eles querem.
Instrução é uma coisa.

Inteligência, racionalidade e bom senso são outras coisas...
Estas pessoas são do tipo "façam o que eu digo, mas não o que faço".

De acordo com o que "dizem", a Preservação vale muito.

De acordo com o que "fazem", a Preservação vale nada, pois se recusam a pagar valor justo pelos Serviços Ambientais prestados pelas áreas preservadas nas terras dos outros.