O destino das grandes fazendas de pecuária é desaparecer?

Em 1950 a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias começou a adquirir pequenas fazendas na Flórida para ter condições de produzir alimentos em tempos de necessidade. O Rancho Deseret tem hoje 120 mil hectares de áreas naturais, plantios de soja, milho e laranja, além de 42.000 bovinos em 54 mil hectares de pastos (0,7 cab/ha). Em sua grandeza o Deseret emprega mais de 80 famílias e atravessa três municípios em uma área localizada entre a Disneylândia e o Centro Espacial Kennedy, dois outros ícones da Florida. Mas tudo está prestes a virar um grande bairro.

Um dos maiores planos de urbanização em andamento na Flórida pretende transformar o Rancho Deseret em novos empreendimentos habitacionais para meio milhão de pessoas.

O gerente geral do Rancho Deseret, Erik Jacobsen, afirma que o plano é uma forma de satisfazer as pressões de crescimento urbano de forma inteligente em uma região de que deve experimentar um mais rápido crescimento próximas décadas. "Ele fornece uma estrutura muito importante para o futuro", diz Jacobsen.

Por incrível que pareça quem luta contra a transformação da fazenda em um grade bairro são os ambientalistas. Segundo eles, o plano para converter pastagens em casas pode destruir dezenas de milhares de hectares de habitat importante nas cabeceiras dos rios St. Johns e Kissimmee.

Na página do Rancho Deseret (veja aqui) há coisas que fariam Marina Silva calçar um chapéu de cowboy naquela cabela oca: "Percebemos que nosso trabalho depende do solo, sol e chuva. Como uma fazenda antiga na Florida que estará aqui por muito tempo, não buscamos lucro a curto prazo que ponha em risco a sustentabilidade a longo prazo da fazenda".

Aviso aos navegantes: O destino dessas grandes fazendas de pecuária é uma das coias que me fascinam e angustiam ao mesmo tempo. Publiquei recentemente na minha página do Facebook o caso da venda do empreendimento pecuário do Sr. Sidney Kidman, o maior e lendário pecuarista da Austrália. As fazendas construídas do zero pelo Sr. Kidman estavam nas mãos da família há cinco gerações.


Sir Sidney Kidman chegou na Austrália com um mão na frente e um dedo atrás foi peão e se tornou dono de um império pecuá...
Posted by Ciro Siqueira on Sábado, 27 de junho de 2015

Mas nem é preciso ir tão longe. A Fazenda Rio Capim, de 195 mil hectares que pertenceu ao grupo Bradesco, no Pará, hoje é um grande empreendimento florestal sustentável tocado pela Cikel Brasil Verde. Estive lá pouco tempo depois da venda do rebanho nelore. Vi os 42 mil hectares virando juquira enquanto a vila de casas de madeira onde moravam os trabalhadores apodrecia. Coisa medonha. Foi lá onde tive a experiência marcante de derrubar uma árvore, legalmente, diga-se:


Perambulei também pela região da antiga Fazenda Cidapar, também no Pará. Outra gigante de 380 mil hectares que foi invadida por sem terra e onde se instalou uma pequena guerra civil entre os invasores liderados pelo lendário Quintino Gatilheiro contra os guardas armados da fazenda. O imóvel virou um grande assentamento miserável da nossa medonha reforma agrária. Parte dos sobreviventes daquela guerra ainda vivem lá, velhos, contadores de velhas histórias esquecidas.

Não sei bem porque, mas as mortes dessas gigantes sempre me angustiaram.

Minha leitura é que a pecuária brasileira está numa encruzilhada. Não tem prestígio nenhum com a população urbana, faz parte de uma cadeia produtiva dominada por grandes frigos habituados a desprezar o pecuarista, disputa terras com outros usos socialmente mais agradáveis como a produção agrícola e os ninhos de joão-de-barro, enfrenta e enfrentará problemas sérios de falta de mão de obra, não tem uma entidade capaz de defender seus interesses, está diante de um consenso burróide de que basta juntas três bois num naco de terra para salvar o mundo.

Por outro lado, o próprio pecuarista está feliz com os preços "rampantes" da arroba do boi. Mas isso não é também um sinal de encolhimento?, do fim dos tempos, talvez?

Oferta cai, preço sobe e consumo de carne bovina desaba no Mato Grosso. Repare como o argumento de que a intensificação...

Posted by Código Florestal on Quarta, 14 de outubro de 2015

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