“Rompendo o link entre commodities e mudanças climáticas”. Ou: usando o peso da diplomacia estadunidense para impor aos países do Sul uma agenda política ligada à agricultura
Um grupo de
consultorias e ONGs estadunidenses acaba de publicar o relatório “Breaking the link between commodities and climate change”, em que aproveitam o momento
político doméstico, de fraqueza do governo Obama, para tentar obter concessões
de política externa. As inusitadas propostas são:
1 - Banir a
importação de produtos de terras “desmatadas ilegalmente”, principalmente
carne, soja, óleo de palma e celulose;
2 - Utilizar
as rodadas de negociação de comércio para impor a proteção de florestas;
3 - “Recrutar”
Brasil e Indonésia para fazerem parte da “Tropical Forest Alliance”, um grupo
de países e empresas – liderado pelo governo dos EUA – que se comprometem com
metas de preservação de florestas.
O estouro
de dois escândalos enfraqueceu recentemente o governo Obama no cenário
doméstico: a fiscalização ultra rígida de organizações
ligadas à oposição por parte do Fisco estadunidense, e o monitoramento de telefonemas
de milhares de cidadãos ao redor do mundo. Com isso, as forças políticas
ligadas ao ambientalismo global, que têm perdido terreno de forma consistente desde
que o American Climate and Security Act
não passou no Senado estadunidense em 2009, vêem a oportunidade de fazer
avançar a sua agenda – ou ao menos evitar que retroceda.
Os autores
do relatório – organizações com uma agenda ambientalista radical como National Wildlife Federation e Rainforest Action Network, bem como um
pseudo-grupo de cientistas independentes, a Union of Concerned Scientists – insistem na necessidade de os EUA
aumentarem
os esforços para liderar uma política global de desmatamento zero até 2020, sendo a estratégia principal para isso a inserção da preservação de florestas nas negociações comerciais, tanto bilaterais quanto multilaterais.
os esforços para liderar uma política global de desmatamento zero até 2020, sendo a estratégia principal para isso a inserção da preservação de florestas nas negociações comerciais, tanto bilaterais quanto multilaterais.
Essa
proposta, no entanto, não tem nada de novo, pois a inclusão do meio ambiente na
pauta das negociações de comércio internacional já é uma realidade irreversível,
e tudo o que os ambientalistas podem fazer é apressar esse processo. Além do mais, eu estou convencido de que a agropecuária nacional só tem a ganhar com a fusão entre as pautas ambiental e comercial nas negociações internacionais.
Para o
Brasil, que está rapidamente ganhando força na OMC – o brasileiro Roberto
Azevedo é o novo Presidente da organização -, inserir a delicadíssima temática
da preservação florestal e do meio ambiente nas rodadas de negociações
comerciais pode ser uma imensa vantagem. A razão
mais óbvia é que a posição de países como China e Índia – em que o desenvolvimento
é que é prioritário – só tende a ganhar espaço. Igualmente importante, todavia, é uma realidade um pouco mais sutil.
A capacidade de um dado país para exercer soberania sobre os seus recursos naturais depende crucialmente da opinião pública, tanto doméstica quanto mundial, e o efeito cognitivo sobre a opinião pública que decorre de se colocarem lado a lado a temática ambiental e a temática comercial só poderá ser o de maior pragmatismo frente ao ambientalismo vulgar. Enquanto o meio ambiente ainda é discussão restrita ao âmbito da ONU, têm espaço majoritário os argumentos do establishment ecologista. Já a OMC jogará no debate uma dose imensa de realismo, e as verdades doloridas das perdas que cada país tem com o conservacionismo ficarão bem mais evidentes.
A capacidade de um dado país para exercer soberania sobre os seus recursos naturais depende crucialmente da opinião pública, tanto doméstica quanto mundial, e o efeito cognitivo sobre a opinião pública que decorre de se colocarem lado a lado a temática ambiental e a temática comercial só poderá ser o de maior pragmatismo frente ao ambientalismo vulgar. Enquanto o meio ambiente ainda é discussão restrita ao âmbito da ONU, têm espaço majoritário os argumentos do establishment ecologista. Já a OMC jogará no debate uma dose imensa de realismo, e as verdades doloridas das perdas que cada país tem com o conservacionismo ficarão bem mais evidentes.
Com isso, é bem possível que o deslocamento do locus da tomada de decisão sobre o meio ambiente da ONU para a OMC termine por acelerar um processo que vem ganhando espaço em todo o mundo: a racionalização do extremismo preservacionista. A proposa dos ongueiros e consultores estadunidenses pode ser um belo tiro no pé. No Brasil, isso ficou muito claro nos últimos 3 anos, quando o setor produtivo agropecuário saiu parcialmente vencedor. Um dos fatores que pesou na balança da opinião pública brasileira foi exatamente o papel crucial que tem o agronegócio em nosso saldo comercial.
Não há o que temer, portanto. A agenda de política agrícola brasileira terá mais chances de se sobrepor aos interesses dos países desenvolvidos se a discussão ambiental se associar às negociações comerciais. Que venha a OMC.
Não há o que temer, portanto. A agenda de política agrícola brasileira terá mais chances de se sobrepor aos interesses dos países desenvolvidos se a discussão ambiental se associar às negociações comerciais. Que venha a OMC.
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http://www.ted.com/talks/lang/pt-br/allan_savory_how_to_green_the_world_s_deserts_and_reverse_climate_change.html?source=facebook#.UbT1l_CrQi5.facebook
Abraços
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