Por Antonio Machado
A corrida do governo para ter um mínimo de competição no leilão da hidrelétrica de Belo Monte, depois da desistência da Odebrecht e da Camargo Corrêa, que estavam associadas para a disputa, polui a compreensão de um problema maior relacionado com o que virou um impasse: a questão ambiental e a intolerância de seus defensores.
Não só Belo Monte está nessa estranha situação de vilã ecológica ou benfeitora de uma ampla gama de demandas econômicas e sociais. Ainda agora, circula pela internet uma notícia insólita, segundo a qual um parecer de três analistas ambientais do Ibama de Alagoas veta a construção de um estaleiro em Coruripe, próximo a Maceió.
O argumento é bizarro: o investimento levaria à favelização do estado. A pretexto de preservar a qualidade de vida numa região em que historicamente viver é um ato de sacrifício, as moças do Ibama propõem que se perpetue a miséria, lixando-se para a carência de iniciativas empresariais no estado. Que condicionassem a licença à construção de infraestrutura social, como, aliás, o BNDES concebeu para as áreas das usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira.
A defesa exacerbada dos princípios ecológicos, incorporados ao da preservação de culturas e comunidades tradicionais, começa a legar resultados contrários aos pretendidos. Há sólidos indícios de que ações bem-intencionadas, como as que modelaram o projeto final de Belo Monte e agora a ameaçam, se voltam contra a ecologia que se pretendia defender, prejudicando a sociedade brasileira em geral.
A defesa do meio ambiente tende a se tornar um valor universal apesar de bolsões de resistência de segmentos empresariais mais atrasados, mas também cada vez menores , já se admitindo falar de uma ecologia cultural permeando a produção econômica. O excesso, porém, não traz benefícios para ninguém, aumenta a dependência do país de alternativas piores e mais poluentes e obsta o progresso.
É isso o que os ambientalistas esclarecidos querem para o país? É óbvio que não. Mas veja-se o que fizeram com Belo Monte. O governo optou por uma tecnologia de turbinas que reduz a área alagada, mas também diminui a energia efetiva gerada. De 11 mil megawatts de potência instalada, Belo Monte vai gerar, de fato, meros 4 mil megawatts/hora médios um dos fatores que os investidores afirmam não estar contemplado devidamente na tarifa máxima definida pelo governo.
Sociedade paga tudo
Quer dizer: a sociedade, que é a fonte pagadora de tudo o que faz o governo até quando provê benefício social, vai pagar muito mais para receber menos da metade da energia que poderia ser ofertada.
Mas é o preço a pagar pela preservação ambiental, poderiam alegar os ativistas ambientais. Na verdade, é mais. O Ibama exigiu pela licença ambiental mais R$ 3 bilhões em desembolsos para preservar o meio ambiente e criar infraestrutura para as populações locais.
Razões indecifráveis
É justo, e mais seria se os líderes do movimento que continua a querer vetar a obra reconhecessem que Altamira, área de influência da usina no Pará, está entregue à própria sorte, e Belo Monte é a oportunidade derradeira de redenção. Não violência às populações, inclusive aos povos indígenas, como alegam, se houver a vigilância e regulação adequadas, conforme o compromisso do governo.
O veto à usina como a toda a infraestrutura física de que o país se faz carente virou meio de vida para grupos ambientalistas cujos propósitos são indecifráveis, já que atendê-los implica prejuízos ainda maiores, mesmo ambientais, para o conjunto da sociedade.
O país feito de bobo
É o que revela estudo de dois consultores legislativos do Senado, Omar Abbud e Márcio Tancredi, sobre as transformações recentes da matriz energética do país. Os dados são impressionantes. O país demanda cada vez mais energia. À falta de hidrelétricas, meio mais limpo de geração de energia elétrica, depende-se de termelétricas movidas a óleo diesel, carvão e gás, opções mais poluentes.
O aumento de emissões de CO2 das térmicas foi de 122% entre 1994 e 2007 e, sem atraso ou frustração, como do projeto de Belo Monte, deverá ser de 172% até 2017 sobre 2008. Como a energia de térmicas custa mais, a conta de luz deverá ter aumento real médio de 22%.
E a opção das hidrelétricas? Todas as existentes e as projetadas ocupariam menos de 0,16% da região amazônica, 10,5 mil quilômetros quadrados, área 20% menor que as queimadas só no período de agosto de 2007 a julho de 2008. Tais números mostram que a sociedade está sendo feita de boba: paga mais em troca de um meio ambiente pior.
Energia será mais suja
A conclusão dos consultores do Senado, quadros de excelência tais como os da Câmara, é preocupante. A matriz energética projetada para o Brasil, nos próximos anos, é progressivamente mais suja e mais perversa em termos de emissão de gases estufa , dizem eles.
As sequelas: perde o país qualidade e eficiência em seu sistema de geração de energia elétrica; perdem as atividades econômicas ribeirinhas por não verem regularizado o fluxo dos rios; perdem os consumidores, que estão pagando mais pela energia; e perde o meio ambiente em função da crescente dependência da termeletricidade .
O que chamam de veto branco , sem amparo em lei, à construção de reservatórios é o que afoga as hidrelétricas. Quem veta? Deve ser quem não quer luz para todos, água encanada, coisas assim.
A corrida do governo para ter um mínimo de competição no leilão da hidrelétrica de Belo Monte, depois da desistência da Odebrecht e da Camargo Corrêa, que estavam associadas para a disputa, polui a compreensão de um problema maior relacionado com o que virou um impasse: a questão ambiental e a intolerância de seus defensores.
Não só Belo Monte está nessa estranha situação de vilã ecológica ou benfeitora de uma ampla gama de demandas econômicas e sociais. Ainda agora, circula pela internet uma notícia insólita, segundo a qual um parecer de três analistas ambientais do Ibama de Alagoas veta a construção de um estaleiro em Coruripe, próximo a Maceió.
O argumento é bizarro: o investimento levaria à favelização do estado. A pretexto de preservar a qualidade de vida numa região em que historicamente viver é um ato de sacrifício, as moças do Ibama propõem que se perpetue a miséria, lixando-se para a carência de iniciativas empresariais no estado. Que condicionassem a licença à construção de infraestrutura social, como, aliás, o BNDES concebeu para as áreas das usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira.
A defesa exacerbada dos princípios ecológicos, incorporados ao da preservação de culturas e comunidades tradicionais, começa a legar resultados contrários aos pretendidos. Há sólidos indícios de que ações bem-intencionadas, como as que modelaram o projeto final de Belo Monte e agora a ameaçam, se voltam contra a ecologia que se pretendia defender, prejudicando a sociedade brasileira em geral.
A defesa do meio ambiente tende a se tornar um valor universal apesar de bolsões de resistência de segmentos empresariais mais atrasados, mas também cada vez menores , já se admitindo falar de uma ecologia cultural permeando a produção econômica. O excesso, porém, não traz benefícios para ninguém, aumenta a dependência do país de alternativas piores e mais poluentes e obsta o progresso.
É isso o que os ambientalistas esclarecidos querem para o país? É óbvio que não. Mas veja-se o que fizeram com Belo Monte. O governo optou por uma tecnologia de turbinas que reduz a área alagada, mas também diminui a energia efetiva gerada. De 11 mil megawatts de potência instalada, Belo Monte vai gerar, de fato, meros 4 mil megawatts/hora médios um dos fatores que os investidores afirmam não estar contemplado devidamente na tarifa máxima definida pelo governo.
Sociedade paga tudo
Quer dizer: a sociedade, que é a fonte pagadora de tudo o que faz o governo até quando provê benefício social, vai pagar muito mais para receber menos da metade da energia que poderia ser ofertada.
Mas é o preço a pagar pela preservação ambiental, poderiam alegar os ativistas ambientais. Na verdade, é mais. O Ibama exigiu pela licença ambiental mais R$ 3 bilhões em desembolsos para preservar o meio ambiente e criar infraestrutura para as populações locais.
Razões indecifráveis
É justo, e mais seria se os líderes do movimento que continua a querer vetar a obra reconhecessem que Altamira, área de influência da usina no Pará, está entregue à própria sorte, e Belo Monte é a oportunidade derradeira de redenção. Não violência às populações, inclusive aos povos indígenas, como alegam, se houver a vigilância e regulação adequadas, conforme o compromisso do governo.
O veto à usina como a toda a infraestrutura física de que o país se faz carente virou meio de vida para grupos ambientalistas cujos propósitos são indecifráveis, já que atendê-los implica prejuízos ainda maiores, mesmo ambientais, para o conjunto da sociedade.
O país feito de bobo
É o que revela estudo de dois consultores legislativos do Senado, Omar Abbud e Márcio Tancredi, sobre as transformações recentes da matriz energética do país. Os dados são impressionantes. O país demanda cada vez mais energia. À falta de hidrelétricas, meio mais limpo de geração de energia elétrica, depende-se de termelétricas movidas a óleo diesel, carvão e gás, opções mais poluentes.
O aumento de emissões de CO2 das térmicas foi de 122% entre 1994 e 2007 e, sem atraso ou frustração, como do projeto de Belo Monte, deverá ser de 172% até 2017 sobre 2008. Como a energia de térmicas custa mais, a conta de luz deverá ter aumento real médio de 22%.
E a opção das hidrelétricas? Todas as existentes e as projetadas ocupariam menos de 0,16% da região amazônica, 10,5 mil quilômetros quadrados, área 20% menor que as queimadas só no período de agosto de 2007 a julho de 2008. Tais números mostram que a sociedade está sendo feita de boba: paga mais em troca de um meio ambiente pior.
Energia será mais suja
A conclusão dos consultores do Senado, quadros de excelência tais como os da Câmara, é preocupante. A matriz energética projetada para o Brasil, nos próximos anos, é progressivamente mais suja e mais perversa em termos de emissão de gases estufa , dizem eles.
As sequelas: perde o país qualidade e eficiência em seu sistema de geração de energia elétrica; perdem as atividades econômicas ribeirinhas por não verem regularizado o fluxo dos rios; perdem os consumidores, que estão pagando mais pela energia; e perde o meio ambiente em função da crescente dependência da termeletricidade .
O que chamam de veto branco , sem amparo em lei, à construção de reservatórios é o que afoga as hidrelétricas. Quem veta? Deve ser quem não quer luz para todos, água encanada, coisas assim.
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