Trocando a ameaça pela parceria produtores rurais podem ser grandes aliados da preservação ambiental. |
As implicações do novo texto do Código Florestal vão muito além do que o catastrofismo dos ambientalistas radicais permite enxergar. Produtores rurais não odeiam o meio ambiente, muito antes pelo contrário. Quem conhece algum produtor rural de perto sabe que eles sabem o valor das árvores em suas propriedades, das nascentes e córregos. A grande antipatia que os produtores rurais sempre demonstraram ante as exigências do Código Florestal tinha origem no fato de que elas eram apenas isso: exigências.
Em certas situações alguns produtores rurais tinham condições práticas, uns com mais, outros com menos sacrifício, de atenderem as exigências da lei e faziam isso. Mas em outras situações a adequação do imóvel ao Código Florestal de 1965, remendado várias vezes, era impraticável, impossível de ser cumprido. O ambientalismo entrincheirado nas ONGs e nos órgãos ambientais do Estado (Ibama, Ministério Público, Oemas) sempre foi absolutamente indiferente a essas impossibilidades, a essa realidade do campo brasileiro.
O fato da lei vigente obrigar os produtores rurais a recuperarem com seu próprio sacrifício as APPs de seus imóveis, criou no Estado o vício da coerção. Os agentes públicos, e as ONGs ambientalistas, no Brasil estão doutrinados pelo hábito a buscar a preservação de florestas em terras privadas através da fiscalização, da multa, do poder de polícia, da denúncia, do enfrentamento.
Ao cobrar de forma insensível as exigências do Código Florestal vigente, o Estado criou no campo (e não nas cidades desobrigadas do Código Florestal) o anseio social que se espelhou no Legislativo, dando vitória ao texto de reforma da lei, sempre por maioria folgada de votos.
A partir do momento em que o novo Código Florestal desobriga os produtores rurais de recuperarem com seu próprio sacrifício as suas APPs descortina-se a oportunidade de agentes públicos, e ONGs, buscarem a preservação de florestas em terras privadas de outras formas. Não mais pelo constrangimento e a ameaça, mas pela aproximação, por parcerias, pelo diálogo franco, sem carapaças, por incentivos. Não me surpreenderia se esse caminho nos levasse onde o ambientalismo radical jamais nos levou: à eficácia na preservação de florestas.
Conheço um sem número de produtores rurais, novos e velhos, grandes e pequenos, ricos e pobres. Por prazer e por dever de ofício eu converso com eles, tomo café, ando com eles por suas fazendas, pito vez por outra um cigarro em suas varandas. Acredito piamente que a partir do momento em que o ambientalismo e os agentes do governo substituírem o semblante fechado e o dedo em riste pelo sorriso franco e o tapinha no ombro, a sociedade brasileira perceberá o grande aliado do meio ambiente que cada produtor rural desse país pode se tornar.
Esse novo mundo, essa nova forma de se buscar a preservação ambiental, exigirá também um novo ambientalismo. João Paulo Capobianco, Paulo Adário, Mario Mantovani, Adriana Ramos, Maria Cecília Wey de Brito, Marina Silva, Carlos Minc, Sarneyzinho, são jihadistas de um ambientalismo religioso, fundamentalista. Não existe conciliação possível entre esse tipo de ambientalismo e o Brasil rural.
Se a sociedade brasileira escolher de fato o caminho da proteção ambiental, se reconciliar com o Brasil rural, como mostrou na reforma democrática do Código Florestal aprovada pelo Congresso, não haverá mais espaço para os ecotalibãs jihadistas.
Será preciso reduzir o marinismo ao que ele é de fato: um movimento sonhático pitoresco, uma coisinha engraçadinha que a gente vai lá brincar com ela de vez em quando e depois põe de lado para tratar de coisas sérias. A sociedade brasileira precisa aprender a dar ouvidos aos ambientalistas sérios e realmente comprometidos com o preservação ambiental, com os brasileiros e com o Brasil.
Comentários
Mais uma vez tuas palavras me emocionaram. Eu também sou de conversar com produtores vizinhos, bater papo, falar do clima, em nosso caso aqui no sul tomar um chimarrão, e o assunto sempre é recorrente: falta de respeito e falta de investimento nesta que é uma das mais bonitas profissões do mundo: o produtor rural!
Oxalá estejamos realmente caminhando para novos tempos de paz no campo e esperança de prosperidade para todos.
com cara de chupa que o código é doce rss.
Viva o Caiado!!!
Preciso pedir perdão ao calango, cujo rabo decepei sem querer, com o carro ontem numa estrada do Pará. O duro vai ser achar o calango, já que o rabo se regenera.
Gostei da caixa baixa. Muito bom, Fliper.
Caso um produtor rural não queira mais recuperar uma APP na sua terra, a terra deverá ser usada somente para o plantio ou ele poderá fazer dela oque quiser(como um prédio por exemplo)?
Primeiro como cidadão e depois como agricultor, agradeco e muito por tudo que você fez para todos nos mediante ao embate do codigo florestal, gostei muito de saber de sua convivencia com os agricultores, aqui nos jogamos truco e pitamos um paieiro de fumo de rolo dos bão, mas vamos continuar a luta, somente uma batalha foi ganha, temos que continuarmos unidos porque os inimigos não desistem, e nunca podemos esquecer que a chave do senado esta com o sarnento pai em caso de veto, a pressão vai ter que ser maior para evitarmos o engavetamento.
Não tive acesso ao documento na íntegra da última versão aprovada do NCF (se alguém puder me passar o link, ficaria agradecido). Meu conhecimento a respeito desse documento está restrito apenas a artigos e notícias. Se as alterações propostas realmente forem as que estão sendo divulgadas pelos diversos meios de comunicação, adiando que já me posiciono contra o NCF. Entendo o posicionamento do autor do texto sobre o caráter "punitivo" da legislação ambiental (apesar de não ser exclusividade das leis ambientais, mas de praticamente toda a legislação brasileira). Penso que a preservação ambiental não dever ser uma batalha sangrenta, mas sim um processo educativo e de conscientização. Será que é possível? Será que estou sendo utópico em esperar que essa consciência pode alcançar a prática verdadeiramente sustentável da agricultura? Adianto a todos que sou ambientalista. Gostaria de discutir e questionar o posicionamento do administrador do blog sobre o assunto. Espero por parte dele uma construção dialética respeitável, sem agressividade e uso de termos pejorativos. Seria possível? Aguardo uma resposta desde então. Obrigado
lrdr.rafael@gmail.com
Ainda procuro a ultima versão do NCF para avaliar as alterações. Assumo o erro que pouco escutei o lado dos que estão favoráveis e gostaria de entender como o NCF é visto sob a ótica de vocês.
mais uma vez, agradeço
Obrigado
Obrigado
O Régis manteve contato por e-mail e já está tudo esclarecido. Peço desculpas por qualquer equívoco que cometi. Estou estudando as alterações para que as discussões a respeito da nova proposta possam ser frutíferas. Caso você queira discutir quaisquer questões referentes ao NCF, por favor entre em contato pelo meu e-mail. Respeito opiniões divergentes e não desejo abrir espaço em um blog alheio para impor um debate à força.
Att. Gonçalves
O texto não foi encaminhado para veto, e sim sanção presidencial, é o normal. Pode sim ocorrer veto. Está vendo como é ser ambientalista, você já se posicionou sem ler o texto.
O texto não foi encaminhado para veto, e sim sanção presidencial, é a ordem natural. Pode ocorrer sim veto, mas não é a regra.
Esta é uma das diferenças entre ambientalistas, você nem leu o texto e já se posicionou contra.
Como escreve Daniel Yergim: "...a nossa sociedade se tornou uma sociedade do hidrocarboneto...no entanto o homem hidrocarboneto não apresenta disposição alguma a desistir do seu carro, do lar nos arredores da cidade e do que considera não apenas comodidades mas elementos essenciais de seu modo de vida. Os povos do mundo subdesenvolvido não dão sinal de quererem se negar os benefícios de uma economia que, independentemente das questões ambientais, usa o petróleo como fonte de energia. E qualquer idéia de redução do consumo de petróleo será influenciada pelo fantástico crescimento previsto da população - com cada vez mais pessoas no mundo reclamando o direito aos benefícios decorrentes do consumo". O texto é sobre petróleo, mas entendo que a analogia vale.
Müller
Como escreve Daniel Yergim: "...a nossa sociedade se tornou uma sociedade do hidrocarboneto...no entanto o homem hidrocarboneto não apresenta disposição alguma a desistir do seu carro, do lar nos arredores da cidade e do que considera não apenas comodidades mas elementos essenciais de seu modo de vida. Os povos do mundo subdesenvolvido não dão sinal de quererem se negar os benefícios de uma economia que, independentemente das questões ambientais, usa o petróleo como fonte de energia. E qualquer idéia de redução do consumo de petróleo será influenciada pelo fantástico crescimento previsto da população - com cada vez mais pessoas no mundo reclamando o direito aos benefícios decorrentes do consumo". O texto é sobre petróleo, mas entendo que a analogia vale.
vamos pensar o seguinte, se com o Código Florestal vigente não há cumprimento do que é dito nele, em relação às APPs, você acha mesmo que a não obrigatoriedade da recuperação florestal (com recursos próprios, como você mesmo escreveu) fará com que estas áreas sejam mantidas? Este Novo Código Florestal que querem criar não tem embasamento científico, e achar que a não obrigatoriedade da recuperação ambiental fará com que isto seja recuperado e rir na cara de quem quer cumprir as leis de proteção ambiental. Não basta fazer com que o errado vire o certo para que tudo se permaneça bem, como em relação ao motivo para que o Novo Código Florestal fosse então discutido, em relação ao Decreto 6.514. Temos sim, que criar medidas para manter a vitalidade do campo, juntamente com novas ações sustentadas para que não passemos a separar o campo da 'floresta', já que um depende fortemente do outro.
Eu não disse isso.
Eu disse que o fato dos produtores não serem mais obrigados forçará os ambientalistas a mudarem seu comportamento em relação ao Agro.
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