A repórter fez o sobrevoo a convite do Greenpeace

Essa frase está no final de uma das reportagens produzidas pela repórter Giovana Girardi e publicada no jornalão O Estado de São Paulo.

O Greenpeace "convidou" a jornalista para um passeio pela Amazônia. O passeio foi feito de avião, o que garante que a jornalista não ouviria mais ninguém que não estivesse no avião. O avião era do Greenpeace, o que garantia que só o pessoal do Greenpeace, além dos jornalistas, estaria nele.

A ONG fez um grande sobrevoo na região da BR 163, passando de clareira em clareia, mostrando à jornalista (ou, aos jornalistas) o "desmatamento avançando" nas Unidades de Conservação (UCs) da Amazônia.

O mosaico de UCs da BR 163 foi criado num canetaço como resposta a consternação internacional criada com a morte da freira norte americana, Doroty Stang. Irmã Doroty foi assassinada a mais de mil quilômetros de distância da BR 163 em docorrência de um conflito socioambiental que continua lá, em Anapú. Mas isso não importa. Para os consternados a Amazônia é uma coisa só.

Veja aqui o que já escrevi sobre isso.

Madre Teresa de Xapurí, que ocupava o Ministério do ½ Ambiente na ocasião, criou um monte de UCs no entorno da 163 rabiscando seu contorno no mapa em um gabinete de Brasília. A consequência foi o caos que ficou dentro do rabisco. Mas, e daí, quem liga para quem vive na Amazônia se a floresta estiver preservada?

Vários assentamentos antigos feitos pelo próprio Incra ficaram dentro do rabisco de Madre Teresa. Fazendas de gente que sofre naquela região inóspita da Amazônia desde os anos 70 ficaram dentro do rabisco. O rabisco das UCs foi feito onde havia gente. O desmatamento já estava lá.

Aí o Greenepace pega uma jornalista em Sampa, bota em um avião brilhante, faz um sobrevoo na região e começa a apontar o desmatamento "dentro das UCs". O coordenador do Greenepace na Amazônia começa a soprar no ouvidinho da jornalista: "Coincidentemente, ele fica perto de três fazendas". "Esse desmatamento está na borda de dentro da unidade de conservação". "Se o governo quiser diminui-la, já seria um bom lugar para passar o novo risco."

Segundo a reportagem do Estadão, a denúncia desses "novos desmates" deve ser entregue ainda nesta semana pelo Greenpeace no seu departamento jurídico de luxo, o Ministério Público Federal.

Ao descer do avião a repórter foi conversar com outras pessoas. Por exemplo, o ambientalista da ONG Imazon, Paulo Barreto, disse a ela que as fazendas já estavam lá quando as UCs foram criadas. "Talvez até fossem ocupações legítimas", disse ele.

A repórter que fez o sobrevoo na Amazônia a convite do Greenpeace foi a mesma que fez o jornalão dar ar de fato à mentira exposta no último post.

Em tempo, é ou não é divertido. O Greenpeace leva os jornalistas de Sampa para um passeio na Amazônia, mostra o que convém mostrar, esconde o que não convém mostrar, conta as verdades da própria ONG e os jornalistas, em troca, publicam justamente essas verdades nos jornalões de Sampa.

Assim caminham os amazônidas para seu futuro sombrio. Mas quem liga para futuro dos amazônidas, se a floresta restar de pé?

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