As ONGs agora querem ser amigas do Agro

O fim da era da ameaça e o inicio da era da
PARCERIA
Eu cantei a pedra aqui no blog quando ressaltei que o novo Código Florestal havia desobrigado alguns produtores de reflorestar suas áreas, mas não o proibia de fazê-lo. Parece uma bobagem, mas não é. Antes os ecotaibãs podiam chegar nas fazendas armados, com um "bloquinho" na mão e uma caneta na outra, impondo a preservação goela abaixo dos produtores rurais. Agora, a abordagem terá que ser diferente.

O post onde ressaltei essa faceta do Novo Código Florestal é um dos três mais lidos do blog: Novo Código Florestal não proíbe recuperação de APPs

Algumas ONGs que ontem alimentavam a guerra contra o Agro, agora já começam a adaptar seu discurso e seus métodos. O Gerente de Conservação da The Nature Conservancy (TNC), Henrique Santos, apareceu em uma matéria do Portal Terra dizendo, em outros termos, que a quantidade de áreas de preservação perdidas com a reforma do Código Florestal pode ser recuperada através de um esquema de Pagamentos por Serviços Ambientais.

Eu quase chorei de rir quando li a matéria. Durante um evento em São Paulo, Santos disse que medidas como o PSA ajudam a incentivar os donos de terras a preservar mais do que o obrigatório. "Assim temos uma política pública de gestão da propriedade, não apenas de controle e comando", explicou o ongueiro sem deixar claro quem está incluído nesse "nós".

O discurso ainda tem um ranço da época em que o Agro podia ser achacado pelas ONGs. O ongueiro ainda chama o fim de parte do ônus privado da preservação ambiental de "área de preservação perdida", mas o que ele está dizendo é que aquilo que os produtores rurais não são mais obrigados a fazer de graça pode ainda ser conseguido se eles forem pagos para fazê-lo. A ficha dos ecotalibãs está caindo.

O dirigente da TNC afirmou ainda que, com a aprovação do Código Florestal, o PSA vai entrar com força na pauta e destaca a necessidade de que ele seja bem estruturado. "Quem vai pagar a conta somos nós.", disse o ongueiro.

Ele tem razão. Um esquema de pagamentos por serviços ambientais bem feito pode ser uma forma eficaz e eficiente de construir parcerias entre produção e preservação. Mas para isso ele precisa ser bem estruturado e o debate sobre meio ambiente no Brasil é dominado por gente que não tem a menor idéia de como estruturar bem um programa como esse.

De qualquer maneira esse parece ser o início de uma nova era no relacionamento entre ONGs e o setor rural que deve ser incentivado. É um desafio grande. Será preciso que todos se desarmem, que todos saiam de defensiva e comecem um processo franco de diálogo. Ambos os lados precisarão isolar ou controlar seus radicais livres, ambos precisarão moderar e adequar seus discursos, ambos precisarão aprender a ouvir o outro lado. Há rumores de que isso já está acontecendo e há indícios de que essa parceria possa gerar sinergias.

O novo Código Florestal é a lápide no túmulo da era dos ecotalibãs.

Em tempo, se entregarem o design de um tal esquema a gente como Seroa da Mota, Cadu Young, Peter May, Ricardo Abramavay, ou outro ecotécnico cuja teoria esteja impregnada das preconcepções sobre o ruralismo, a coisa não vai funcionar.

No Brasil só há um homem capaz de desenhar um esquema de pagamentos por serviços ambientais bem estruturado. O nome dele é Jorge Madeira Nogueira, professor titular do Departamento de Economia da UnB com pós doutorado em Economia Ambiental em Cornell. Professor Jorge Nogueira, que foi meu professor e orientador de mestrado, tem o conhecimento necessário a esse desafio sem o olhar preconceituoso em relação ao meio rural.

Uma boa semana.

Comentários

Luiz Prado disse…
Eles vão onde estiver a grana! No caso do "pagamento por serviços ambientais" - só rindo -, ocorre algo semelhante aos créditos de carbono: os intemediários ficam com os maiores ganhos, que são ligados à consultoria para estruturar e aprovar e certificar e depois auditar o besteirol.
Braso disse…
Que bom, se fizerem certo com parcerias inteligentes e honesta, desde que a sociedade pague também, somos favoraveis até de fazer parceria com o diabo.
Carlos A. A. disse…
Eles teriam que nos pagar pela preservação de toda a mata da propriedade e não pelo algo a mais, ou seja, pela sobra de mata além da lei. Se já tiver mata tudo bem, agora plantar a mais confiando em receber algo por isso...é um pouco complicado. Confiar em quem? No governo?