O Paraiso e a Realidade Rural

* Artigo enviado pelo leitor do blog R. Ney Magalhães

Segundo a lenda da criação humana, Adão e Eva foram os primeiros habitantes da Terra. Naquela primeira família constituída, um irmão matou o outro, abrindo espaços para seus desejos. Seus objetivos foram alcançados. Nascia a ditadura pela força. Com o dilúvio surgiu Noé, o primeiro líder de um Partido. A Ordem superior era “crescer e multiplicar-se”, a China cumpriu as metas. Nós também estamos quase no Inferno populacional. Com escambos e troca-troca formaram-se duas castas, os ricos e os pobres.

Nesse quesito o Brasil de hoje é o mais evoluído, principalmente quando se refere a Carnaval. Os pobres fantasiam-se de ricos e assim todos se divertem. E com a evolução as castas se diversificaram, espelhando-se nos impérios dos cupins e das formigas criou-se a Nova Republica, onde os direitos de certos cidadãos prevalecem, sendo que os deveres ficam para os menos privilegiados. De um lado estão os mais espertos, entre eles os políticos que se elegem, sempre mantendo maioria no Congresso, nas Assembleias Estaduais ou nas Câmaras Municipais, com a formação da “base aliada”, também conhecida como mensalão. “Salve Joaquim Barbosa”.

Em 1500 os europeus chegaram ao Brasil, derrubaram as matas, carregaram as madeiras, exploraram as minas. Hoje, nos fazem cobranças. Os indígenas, habitantes nesta terra Pindorama a tudo assistiam da copa das árvores e até aceitaram novas religiões. Catequistas religiosas apagaram grande parte da cultura dos índios nativos do Brasil, descaracterizando seus costumes.

No Ginásio dos Salesianos de Dom Bosco, meus professores, catequistas de bororos, terenas, guaranis e xavantes, puxando a brasa para seu assado já diziam que Rondon com seus sertanistas desbravadores do interland, eram despreparados para a socialização e integração do Índio. Ainda no Século 20 os xavantes antropófagos, nas margens do Rio das Mortes comeram o Padre Colbachini, um missionário de Dom Bosco.

Século 21. Os tempos são outros. Mato Grosso do Sul é um Estado com suas terras totalmente trabalhadas e cultivadas. Apenas a região do belo Pantanal cumpre sua missão de pecuária extensiva, com toda a produtividade tecnicamente possível, conservando a natureza e cumprindo o uso social daquelas terras.

O cone sul do MT, região fronteiriça com o Paraguay foi em 1970 o berço inicial da agricultura mecanizada chegada do sul do País. O agro-negócio se materializou, o progresso chegou, as propriedades rurais tornaram-se mais produtivas e mais valorizadas, e rapidamente em 1978 condicionou a criação do MS.

Orgulhosamente, os proprietários rurais locais sempre ostentaram a documentação cartorial mais correta e legal possível, com Registros da Compra das Terras do Governo, cadeias dominiais centenárias e sem nunca a Justiça precisar discutir litígios possessórios. O Banco do Brasil financiando o progresso sempre tranquilamente recebeu a Terra Nua em Garantia Hipotecária sem aval e com a anuência do BACEN-Banco Central do Brasil.

Inegavelmente também este Sul Maravilha na fronteira com o Paraguay sempre deteve um numero expressivo de habitantes indígenas Guarany. No serviço de erval foram meus melhores trabalhadores, tive alguns compadres, afilhados e muitos amigos entre eles. A bem da verdade devo afirmar que em sua grande maioria residiam no Chaco-y e Potrero Manta em território paraguayo. Outros eram residentes na Aldeia Taquapiry e Amambaí no Brasil. Desde a derrocada da erva-mate em 1965 sempre observei a situação de abandono em que essa população foi relegada.

Não apenas os indígenas foram abandonados. Após o termino das derrubadas das matas na exploração de madeiras e preparo do solo para pastagens artificiais, os colonos nordestinos e seus filhos também foram abandonados, e os sem terras e sem Escolaridade Técnica formaram um exercito de desempregados, o MST.

Pelas circunstancias da vida e aptidão hoje diversificada, cada cidadão indígena, naturalmente aquele que assim o desejasse, poderia receber um lote de terras para cultivo, nos moldes dos assentamentos “sem terra”. A demarcação de grandes áreas de terras para uso comunitário, comprovadamente não é o caminho.

E, sem pretender ser dono da verdade eu acredito que um dos atalhos mais rápidos para solucionar o grave problema fundiário rural indígena que vivemos seria a implantação imediata da “educação técnica profissionalizante”.

R. Ney Magalhães
Produtor Rural - 77 anos.
Fundador da FAMASUL.
Ex. Delegado Federal da Agricultura MS.

A foto é de Valter Campanato, da Agência Brasil.

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