Do Diário de Cuiabá
Há cerca de dois anos, o produtor Célio Augusto Favarini, com terras nas regiões de Tapurah e Ipiranga do Norte, vendeu suas fazendas e partiu para o Piauí. Lá, ele começou a plantar soja e voltou a lidar com pecuária. “Saí [de Mato Grosso] porque a situação já estava difícil. No Piauí posso trabalhar com mais liberdade, pois a perseguição não é tanta como aqui”, conta o produtor.
Otaviano Pivetta, com investimentos em agricultura e pecuária nas regiões norte e noroeste de Mato Grosso, também decidiu deslocar parte de seus projetos para Formosa do Rio Preto, oeste baiano, onde planta soja e algodão. “Precisamos de uma legislação ambiental com mais clareza para que tenhamos uma agricultura sustentável. É preciso, por exemplo, maior agilidade no processo de licenciamento e as decisões precisam ser tomadas com maior rapidez. Também não temos logística”, justifica.
O início da ‘imigração’ do agronegócio estadual se deu nesta década com destino à Bolívia, rota de agricultores e pecuaristas. O segundo ciclo da expansão territorial se deu com a “debandada” de produtores mato-grossenses em direção à região conhecida como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Agora, o terceiro ciclo é marcado por mais ousadia: chegou a vez da África se tornar o alvo deste empresários.
Acuados pelas barreiras ambientais no Estado e atraídos pelo baixo custo de produção, pela proximidade com os mercados da Europa, da Ásia e do Oriente Médio e pela boa logística, produtores de Mato Grosso já miram a África para plantar soja e algodão. O movimento teve início no ano passado e já está se disseminando entre os produtores.
No final deste mês, o grupo mato-grossense Pinesso começará a cultivar algodão e soja no Sudão. A expectativa é plantar 100 mil hectares até 2014. Neste mês, o Sudão também receberá um grupo de produtores brasileiros liderados pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), que vai conhecer a região e conversar com o governo local sobre uma possível investida no país. Na mesma época, outra comitiva irá à Etiópia e à Mauritânia, também a convite dos governos locais, para negociar o cultivo de milho.
Em entrevista por telefone ao Diário na última quinta-feira, concedida da cidade de Adamazir (estado de Blue Line), no Sudão, o produtor Gilson Pinesso detalhou seu projeto na África e confirmou o interesse dos produtores brasileiros pelo continente.
"A África tem solo fértil, possui uma boa logística e não tem problemas de pragas. Só falta mesmo a tecnologia, coisa que temos de sobra”, contou o diretor do grupo Pinesso, que é também presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa).
Procurado pelo governo sudanês para cultivar algodão e soja no país, Pinesso irá desenvolver este ano um “plantio piloto” de 500 hectares, sendo 400 ha destinados ao algodão e, o restante (100 ha), à soja.
Por conta da boa fertilidade do solo e da menor ocorrência de pragas, Pinesso estima que irá gastar apenas R$ 1.200 por hectare, bem menos do que os R$ 3.180 que precisaria para plantar no Brasil, onde o custo chega a ser 63% mais caro.
Convite - Animado com o projeto, ele adianta que “se der certo”, no próximo ano irá ampliar sua área de cultivo para 25 mil hectares (15 mil ha de algodão e 10 mil ha de soja). O plantio será feito em áreas do governo do Sudão, que se propõe em cedê-las por um período de 30 anos, sem cobrar nada. “Aqui [no Sudão] é assim: o governo entra com a terra e parte dos financiamentos para trator, máquina, adubos e sementes. O produtor tem um prazo de até 10 meses para amortizar o financiamento a taxas de 10% ao ano. Acho que é uma boa alternativa para o produtor, sem contar com a oportunidade que ele tem de plantar em outro lugar onde a logística é melhor e o tratamento é diferente”.
Ele revelou que a “oferta” dos africanos partiu do Ministério da Agricultura sudanês. “Achei a proposta muito interessante, pois o Sudão está bem posicionado em relação à Ásia, Europa e Oriente Médio. Tem terras férteis em abundância, conta com um regime de chuvas definido e não sofre a incidência da ferrugem e do nematóide. O custo de produção também é ótimo (o diesel é vendido a R$ 1,10/litro) e o país fica a apenas 14 horas [de vôo] de Mato Grosso”.
Segundo ele, o algodão é plantado há muitos anos no Sudão, mas o país não tem indústria têxtil para consumir a produção, que é toda exportada. “O Sudão já foi um grande produtor de algodão, mas hoje produz apenas 80 mil toneladas de pluma por ano. O governo quer ampliar a produção ao invés de depender só de petróleo”.
No Sudão, a produção sai da fazenda de caminhão, como em Mato Grosso, mas percorre uma distância muito menor (400 Km, ao invés de 2 mil Km como no trecho Sorriso-Santos) até atingir o porto sudanês e seguir rumo à China, Índia, Bangladesh e Paquistão.
Pinesso acredita que o Sudão poderá ser uma boa opção de investimento para os produtores brasileiros.
Fonte: Diário de Cuiabá - 12/07/2010
Há cerca de dois anos, o produtor Célio Augusto Favarini, com terras nas regiões de Tapurah e Ipiranga do Norte, vendeu suas fazendas e partiu para o Piauí. Lá, ele começou a plantar soja e voltou a lidar com pecuária. “Saí [de Mato Grosso] porque a situação já estava difícil. No Piauí posso trabalhar com mais liberdade, pois a perseguição não é tanta como aqui”, conta o produtor.
Otaviano Pivetta, com investimentos em agricultura e pecuária nas regiões norte e noroeste de Mato Grosso, também decidiu deslocar parte de seus projetos para Formosa do Rio Preto, oeste baiano, onde planta soja e algodão. “Precisamos de uma legislação ambiental com mais clareza para que tenhamos uma agricultura sustentável. É preciso, por exemplo, maior agilidade no processo de licenciamento e as decisões precisam ser tomadas com maior rapidez. Também não temos logística”, justifica.
O início da ‘imigração’ do agronegócio estadual se deu nesta década com destino à Bolívia, rota de agricultores e pecuaristas. O segundo ciclo da expansão territorial se deu com a “debandada” de produtores mato-grossenses em direção à região conhecida como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Agora, o terceiro ciclo é marcado por mais ousadia: chegou a vez da África se tornar o alvo deste empresários.
Acuados pelas barreiras ambientais no Estado e atraídos pelo baixo custo de produção, pela proximidade com os mercados da Europa, da Ásia e do Oriente Médio e pela boa logística, produtores de Mato Grosso já miram a África para plantar soja e algodão. O movimento teve início no ano passado e já está se disseminando entre os produtores.
No final deste mês, o grupo mato-grossense Pinesso começará a cultivar algodão e soja no Sudão. A expectativa é plantar 100 mil hectares até 2014. Neste mês, o Sudão também receberá um grupo de produtores brasileiros liderados pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), que vai conhecer a região e conversar com o governo local sobre uma possível investida no país. Na mesma época, outra comitiva irá à Etiópia e à Mauritânia, também a convite dos governos locais, para negociar o cultivo de milho.
Em entrevista por telefone ao Diário na última quinta-feira, concedida da cidade de Adamazir (estado de Blue Line), no Sudão, o produtor Gilson Pinesso detalhou seu projeto na África e confirmou o interesse dos produtores brasileiros pelo continente.
"A África tem solo fértil, possui uma boa logística e não tem problemas de pragas. Só falta mesmo a tecnologia, coisa que temos de sobra”, contou o diretor do grupo Pinesso, que é também presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa).
Procurado pelo governo sudanês para cultivar algodão e soja no país, Pinesso irá desenvolver este ano um “plantio piloto” de 500 hectares, sendo 400 ha destinados ao algodão e, o restante (100 ha), à soja.
Por conta da boa fertilidade do solo e da menor ocorrência de pragas, Pinesso estima que irá gastar apenas R$ 1.200 por hectare, bem menos do que os R$ 3.180 que precisaria para plantar no Brasil, onde o custo chega a ser 63% mais caro.
Convite - Animado com o projeto, ele adianta que “se der certo”, no próximo ano irá ampliar sua área de cultivo para 25 mil hectares (15 mil ha de algodão e 10 mil ha de soja). O plantio será feito em áreas do governo do Sudão, que se propõe em cedê-las por um período de 30 anos, sem cobrar nada. “Aqui [no Sudão] é assim: o governo entra com a terra e parte dos financiamentos para trator, máquina, adubos e sementes. O produtor tem um prazo de até 10 meses para amortizar o financiamento a taxas de 10% ao ano. Acho que é uma boa alternativa para o produtor, sem contar com a oportunidade que ele tem de plantar em outro lugar onde a logística é melhor e o tratamento é diferente”.
Ele revelou que a “oferta” dos africanos partiu do Ministério da Agricultura sudanês. “Achei a proposta muito interessante, pois o Sudão está bem posicionado em relação à Ásia, Europa e Oriente Médio. Tem terras férteis em abundância, conta com um regime de chuvas definido e não sofre a incidência da ferrugem e do nematóide. O custo de produção também é ótimo (o diesel é vendido a R$ 1,10/litro) e o país fica a apenas 14 horas [de vôo] de Mato Grosso”.
Segundo ele, o algodão é plantado há muitos anos no Sudão, mas o país não tem indústria têxtil para consumir a produção, que é toda exportada. “O Sudão já foi um grande produtor de algodão, mas hoje produz apenas 80 mil toneladas de pluma por ano. O governo quer ampliar a produção ao invés de depender só de petróleo”.
No Sudão, a produção sai da fazenda de caminhão, como em Mato Grosso, mas percorre uma distância muito menor (400 Km, ao invés de 2 mil Km como no trecho Sorriso-Santos) até atingir o porto sudanês e seguir rumo à China, Índia, Bangladesh e Paquistão.
Pinesso acredita que o Sudão poderá ser uma boa opção de investimento para os produtores brasileiros.
Fonte: Diário de Cuiabá - 12/07/2010
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