Um rio de merda: A triste agonia do Rio Iguaçu. Sobre quem destrói os recursos hídricos do Brasil.

Reportagem do Jornal A Gazeta do Povo

Segundo especialistas, o rio perde a qualidade da água principalmente na área metropolitana da capital, resultado de captação e tratamento inadequados do esgoto
O Rio Iguaçu, o maior do Pa­raná, é considerado o segundo mais poluído do país – atrás apenas do paulistano Rio Tietê. Os baixos níveis de qualidade da água do rio estiveram no centro das denúncias feitas pela Polícia Federal em relação à Sanepar na semana passada. A poluição, de acordo com especialistas, está concentrada na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e é fruto da captação e do tratamento deficientes do esgoto, situação agravada pela negligência de municípios da região e da própria população.

A poluição no Rio Iguaçu é histórica, mas foi a partir da década de 1970, com o adensamento das cidades, que ela ganhou maiores proporções. Hoje, segundo o engenheiro civil Carlos Mello Garcias, todos os rios que formam a RMC estão comprometidos.

“Além do Iguaçu, o Atuba, o Belém e até o Rio Palmital, até pouco tempo preservado, estão poluídos. A qualidade das águas do Barigui também está cada vez mais comprometida. Os mais limpos são o Passaúna e o Pe­queno, que vem de São José dos Pinhais”, explica Garcias, que é professor do curso de Engenharia Ambiental e do programa de mestrado e doutorado em Gestão Urbana da PUCPR.

Com boa parte dos seus afluentes comprometida, sobra para o Rio Iguaçu, que nasce em Curitiba do encontro dos rios Iraí e Atuba, a poluição que atinge níveis alarmantes. Na última quinta-feira, Antônio Hallage, diretor presidente em exercício da Sanepar, havia dito que a Sanepar não seria responsável pelos níveis de poluição encontrados no rio e citou que o leito recebe material proveniente de indústrias, agricultura, pecuária, suinocultura e ligações irregulares de esgoto.

Sem responsabilizar a Sa­nepar, especialistas divergem do diretor da companhia. “As atividades agrícolas na RMC não são as mais significativas e o setor industrial tende a ser mais regulamentado e fiscalizado”, diz o químico Marco Tadeu Grassi, coordenador do grupo de Química Ambiental da Universidade Fe­deral do Paraná (UFPR).

Posição endossada por Garcias. “As indústrias não podem ser consideradas vilãs, porque são fiscalizadas e não conheço nenhum caso de ligação direta ao rio.”

Já a jornalista e ambientalista Teresa Urban ressalta a responsabilidade de municípios e da própria população no processo de degradação do rio. “A responsabilidade legal pela questão do esgoto é dos municípios, que não podem simplesmente delegar a questão. Eles precisam ter uma política de saneamento com um plano, incluindo o cidadão como parte do sistema”, diz Teresa, que é autora, entre outros livros, de Missão (Quase) Impossível: aventuras e desventuras do movimento ambientalista no Brasil.

Além da importância econômica do rio, que é fonte de irrigação de áreas agricultáveis e fornece energia elétrica para parte da população do estado, o Iguaçu também é símbolo histórico do Paraná como elemento de integração, fato levantado por Teresa para cobrar ações mais efetivas em torno do rio. “Perder a memória do significado do rio é perigoso, porque vamos perdendo as raízes. O Iguaçu é tão espantoso que, mesmo com toda a pressão que sofre, acaba terminando em um show nas cataratas.”

Comentários

Onde está o Greenbeast, que não faz nada?