Porque é difícil para Bolsonaro combater o desmatamento na Amazônia

Bolsonaro, o agro e o ogronegócio

Tradicionalmente, a Confederarão Nacional da Agricultura (CNA) realiza um debate com os presidenciáveis durante as campanhas eleitorais para o cargo de Presidente da República. A intenção é expor os candidatados os anseios do setor rural para com o governo federal. Marina Silva, inimiga declarada do agro, compareceu a dois desses debates. Mas, nas últimas eleições, o então candidato, Jair Bolsonaro, se recusou a participar do debate na CNA.

Teoricamente, a CNA é a entidade que representa todo o agronegócio nacional. Tudo bem que a confederação não representa mais quase ninguém no setor rural. Virou o quinto zero depois vírgula. Eu trabalhei lá e sem bem porque. Mas, em tese, a CNA é a representação oficial do agro. É por essa razão que o debate tem um caráter simbólico. É por conta desse caráter simbólico que uma pessoa como Marina Silva se mistura com gente do agro.

Mas, então, por que Bolsonaro, que contava com apoio maciço do agro, se recusou a participar o debate na CNA?

A razão chama-se Nabhan Garcia.

Nabhan Garcia é o eterno presidente da União Democrática Ruralista (UDR). A UDR nasceu durante os debates que culminaram na Constituição Federal de 1988 e defendeu os interesses do agro naquela época e lançou o nome de Ronaldo Caiado à disputa pela presidência da República em 1988. Katia Abreu também fez parte da UDR.

Com o acirramento das ações do MST, a UDR virou sua antítese. Assim como o MST era composto por facínoras, também assumiram os facínoras a direção da UDR. Era cobra se batendo com cobra. Era José Rainha contra Nabhan Garcia.

Com o fim da inflação, em 1955, e com a Lei Kandir, que desonerou as exportações em 1996, uma parte do agro brasileiro começou um processo avassalador de modernização. Por outra lado, depois que os governo ptistas derramaram bilhões em um programa de distribuição de lotes toscamente chamado de Reforma Agrária, o MST esboroou. Os dois fenômenos puseram a UDR e Nabhan Garcia no rodapé da história.

As mudanças pelas quais o setor rural brasileiro passou desde o fim da inflação não atingiram a todos da mesma forma. Hoje, há no Brasil um setor rural jovem, moderno e atrelado aos mercados de seus produtos e de seus insumos. Mas também há no Brasil, ainda hoje, um setor rural velho, antiquado e trancafiado atrás de suas porteiras. O que é pior em termos sociológicos, há no Brasil um grande e desorientada intersecção entre os dois grupos.

Nabhan Garcia representa esse grupo do agro composto com gente velha de mente empoeirada. Esse grupo, que eu chamo de "ogronegócio", hipoteca apoio incondicional a Bolsonaro.

O agro moderno não idolatra liderança alguma. Em geral, eles também apoiam Bolsonaro, mas estão preocupados com as consequências dos atos do governo no mercado mundial de commodities agrícolas.

A intersecção dos grupos é amorfa. Eles também apoiam Bolsonaro mas, ora hipotecam apoio incondicional, ora temem as consequências dos atos do Governo.

Bolsonaro ignora tudo isso. O que conta para ele é o apoio do agro. O presidente sorve o apoio daqueles que temem as ações do governo, o agronegócio. Mas regozija do apoio do apoio incondicional do ogronegócio.

A Ministra da Agricultura, Teressa Cristina, é a personificação do agro moderno, o agronegócio. Trabalha para abrir mercados, defende a proteção ambiental, contemporiza com a China comunista atacada por Bolsonaro, mas que é nosso maior parceiro comercial.

Porém, no dia que o Tribunal Superior Eleitoral anunciou a resultado das Eleições que alçaram Bolsonaro à Presidência da Repúblico, Nabhan Garcia estava ao lado do presidente eleito, na sala de sua casa, sentado em seu sofá.

No fundo, Bolsonaro usa Teresa Cristina mais ou menos como usava Sergio Moro. Vende com a ela a ideia de que apoia e está junto do agronegócio, mas quem ele ouve mesmo é o ogronegócio. É o ogronegócio que tem acesso à rede de informação pessoal do presidente.

Foi por essa razão que Bolsonaro não foi ao debate da CNA. É também por essa razão que Bolsonaro tem dificuldade para combater o desmatamento na Amazônia.

O ogronegócio não percebeu nem entendeu as mudanças no espírito do tempo que tornaram o desmatamento, primeiro num ato imoral, depois num ato ilegal na maior parte das circunstâncias. Essas mudanças foram, de fato, muito rápidas e é, de fato, muito difícil para o homem do campo compreende-las.

Não quero aqui fazer juízo de valor entre o agronegócio e o ogronegócio, embora a própria denominação já traga um julgamento embutido. Eu mesmo, ora sou agro, ora sou ogro. Penso que o combate ao desmatamento não pode ser feito a ferro e fogo. Acho que o combate ao desmatamento deve ser humanizado, deve ser respeitoso com os amazônidas, coisa que as esquerdas e as ONGs abominam.

Pertenço, portanto, àquela gigantesca intersecção entre os dois grupos, uma vez que o agronegócio não se importa com os desígnios do povo da amazônia desde que seus mercados estejam assegurados. Nesse momento eu sou ogro.

A intenção desse post é apenas tentar explicar porque, na minha opinião, é tão difícil para Bolsonaro combater o desmatamento na Amazônia.

“Informação publicada é informação pública. Porém, alguém trabalhou e se esforçou para que essa informação chegasse até você. Seja ético. Copiou? Informe e dê link para a fonte.”

Comentários

Luiz Antônio disse…
Concordo, não na íntegra mas, em boa parte do seu comentário.
Parabéns e continue postando.