Justiça aos bandeirantes, por Aldo Rebelo

Alguém sabe a quem se dedica a data de 14 de novembro? Mesmo em São Paulo poucos vão se lembrar, e outros menos comemorar, que é o Dia do Bandeirante, criado para homenagear uma cepa de homens que no século XVII protagonizaram o movimento de conquista e ocupação do território continental do Brasil. De símbolos heroicos do pioneirismo, como assinalado por Viana Moog no livro Bandeirantes e Pioneiros, lançado em 1955, hoje sofrem uma deformação da imagem histórica que urge reparar.

Reconhecidos por estudiosos da seriedade de Gilberto Freyre e Jaime Cortesão, admirados por artistas de visão nacionalista como Monteiro Lobato, Mário de Andrade, Vitor Brecheret e Vinicius de Morais, os bandeirantes têm sido vítimas de um revisionismo que idealiza o passado. Estigmatizados, seus monumentos são pichados em vandalismo político típico de estratos sociais indiferentes às circunstâncias determinantes da História.

A faceta de homens rudes, caçadores de riquezas, apresadores de índios para a escravidão, se deve ser apontada, não pode ser revisada com valores do presente inexistentes no passado. Seu legado benfazejo vem da marcha geopolítica pelos sertões. Com audácia e sacrifício, palmilharam a terra, alargaram as fronteiras, difundiram a agricultura, praticaram a miscigenação, semearam cidades, protagonizaram o Ciclo do Ouro.

Ao lado dos índios e caboclos, seguiram a saga que Duarte Coelho, donatário da Capitania de Pernambuco, resumira em carta ao rei de Portugal: “Somos obrigados a conquistar por polegadas as terras que Vossa Majestade nos fez merecer por léguas.”

Raposo Tavares, em especial, distinguiu-se por incorporar o Sul dominado pela Espanha e empreender a Bandeira dos Limites – jornada de três anos e dez mil quilômetros do Tietê ao Amazonas. Se delineou, também defendeu o território da cobiça estrangeira, indo de São Paulo à Bahia e Pernambuco combater os holandeses que haviam invadido o Nordeste.

Eles deram chão ao Brasil.

Comentários