Pastagens brasileiras compensam emissões de metano da pecuária

“O Brasil é visto como herói na matriz energética, mas vilão na agropecuária. O resultado deste estudo muda isso”, diz Sérgio Margulis, subsecretário de Desenvolvimento Sustentável da SAE
O relatório Radiografia das Pastagens do Brasil (elaborado por pesquisadores da extinta Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República) mostra que os pastos brasileiros em geral são bem manejados e compensam o dano provocado pelas emissões de gás metano liberado pelo estômago do gado, pois as pastagens captam da atmosfera o equivalente em gás carbônico (CO2) produzido pelo rebanho. De acordo com a pesquisa, mesmo que o rebanho brasileiro cresca 30%, ainda assim haverá equilíbrio.

Mas isso só acontece em pastos bem manejados, o que significa produzir capim de boa qualidade e em abundância, a partir de mudas ou sementes testadas em laboratório de pesquisa agrícola, fertilizar a área plantada, monitorar o solo e fazer análises periódicas para saber quando e quanto de cabeças de gado colocar nestas pastagens. Isso vai dizer se o gado continua naquele pasto ou se já está na hora de utilizar outro. Hoje, a média nacional é de uma cabeça de gado por hectare: são 172 milhões de cabeças para 172 milhões de hectares e, se melhorarmos os pastos em algumas regiões, este índice poderia chegar a 2,5 cabeças por hectare, sem que haja maior concentração de gases do efeito estufa. No entanto, se a média aumentar para 1,3 já será suficiente para atender a demanda interna e externa por carne e ainda liberar 44 milhões de hectares para a agricultura.

Qual o milagre? Se ampliarmos o bom manejo para outras pastagens, o produtor rural poderá criar o mesmo número de cabeças de gado em um espaço menor de terra e liberar uma área da propriedade para o cultivo de alimentos. Isso será essencial porque, até 2023, o Brasil precisará de mais 44 milhões de hectares de agricultura para suprir a demanda crescente da população.

Outro fator importante, segundo o estudo da SAE, é que os pastos bem manejados também vão permitir liberar outros 21 milhões de hectares para preservação ambiental, o que é exigido pelo novo Código Florestal. “O Brasil é visto como herói na matriz energética, mas vilão na agropecuária. O resultado deste estudo muda isso”, afirma o subsecretário de Desenvolvimento Sustentável da SAE, Sérgio Margulis.

“Estes estudos também dão aos técnicos a capacidade de interpretar os números e descobrir, por exemplo, onde é mais viável desenvolver certos tipos de produtos, como milho ou soja, onde alocar recursos e políticas públicas”, explica o coordenador da “O Brasil é visto como herói na matriz energética, mas vilão na agropecuária. O resultado deste estudo muda isso” Sérgio Margulis, subsecretário de Desenvolvimento Sustentável da SAE.

O esudo Radiografia das Pastagens do Brasil foi resultado de uma parceria da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), da Presidência da República, com o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Ele faz parte de um trabalho maior, chamado de Gestão Territorial da Agricultura.

Para 2015, espera-se criar um comitê gestor composto por instituições como Embrapa, Conab, CNA, Senar e Ipea para as análises econômicas. O objetivo é construir um Núcleo de Inteligência Territorial (NIT) com o Ministério da Agricultura que vai envolver a filtragem destes dados, a montagem do comitê, discussão de políticas agrícolas e repositório de dados. O trabalho deverá beneficiar pequenos, médios e grandes produtores, diz o estudo. “Quanto menor a propriedade, maior a necessidade de utilizar melhor a terra, com o manejo dos pastos”, afirma Rafael.

Veja também: Perseguida por ambientalistas pecuária nacional dá sinais de fadiga

O estudo mostra ainda a necessidade de reorganizar os pastos para diminuir as áreas degradadas. Segundo o estudo, dos 172 milhões de hectares de pastagens do Brasil, entre 46 milhões e 72 milhões de hectares (de 27% a 42%) ainda são degradados, já que o rebanho brasileiro não é confinado, mas criado livre, no pasto, na forma chamada de “boi verde”. “Um bom manejo é a saída para que as pastagens possam compensar ainda mais as emissões de metano”, comenta Sérgio.

Verificou-se também a importância do bom manejo na captação de água das chuvas para a formação de chuvas. Segundo o Lapig, só no Cerrado cerca 70 milhões de hectares de pastagens, se bem manejados, poderiam contribuir com até 30% de toda a água transferida para a atmosfera. Bons pastos retém água da chuva, permitem que o solo absorva mais água - o que evita que ela escorra e forme erosões - e, com a evaporação, contribui em até 30% para a formação de novas chuvas.

A ausência e a inadequação do manejo dos pastos são causas da degradação das áreas, evidenciada pela perda de fertilidade dos solos e diminuição da biomassa, o que resulta em perda de nutrientes e erosão. Mesmo que se possa intensificar a média de cabeças de gado por hectare sem grandes prejuízos para a atmosfera, a taxa de ocupação deve ser devidamente identificada e monitorada, revela o trabalho.

A Radiografia das Pastagens conclui que o uso mais eficiente das pastagens é o fator isolado mais importante para o Brasil atingir as metas de redução de gases do efeito estufa, redução de perda de habitats, desenvolvimento de estratégias voltadas à segurança alimentar, aumento das exportações de commodities agrícolas e adaptação às mudanças climáticas.

Comentários