Sobre desmatamento, ONGs e o Código Florestal

O povo americano acreditou quanto George W. Bush disse que havia armas de destruição em massa no Iraque. Tinha jeito de verdade, cheiro de verdade, parecia verdade, era obvio que Bush tinha razão. Mas era mentira. Bush usou esse expediente para fazer com que os americanos apoiassem sua guerra por petróleo no oriente médio. Esse tipo de manipulação das massas é comum. Hitler usou Goebbels para dirigir a vontade do povo alemão durante a segunda guerra mundial.

Essa semana os fundamentalistas de ½ ambiente começaram uma operação semelhante aos estratagemas de Bush e Goebbels. Mas é preciso ir um pouco mais fundo para contar essa história.

Cerca de 10 anos atrás, quando o desmatamento na Amazônia tinha taxas alarmantes, uma ONG ambientalista chamada Imazon, conseguiu dinheiro internacional para construir um sistema de monitoramento do desmatamento paralelo ao sistema oficial do INPE. O argumento dos ambientalistas junto às fundações americanas e européias foi o de que era necessário construir um sistema paralelo ao sistema do governo, pois o sistema do governo era suscetível a pressões políticas e poderia ser manipulado. Logo, era necessário construir um sistema que garantisse correção dos números de desmatamento oficiais do governo brasileiro.

O Imazon recebeu alguns milhões de dólares para montar o sistema e quanto ele ficou pronto o desmatamento entrou numa trajetória de declínio (ver o gráfico abaixo). Depois de montar a estrutura na ONG, máquinas, softwares, contratos para fornecimento de imagens de satélites, pessoal especializados, a ONG começou a ter dificuldades para justificar a fortuna investida no sistema uma vez que o desmatamento começada a dar sinais de ser um problema sob controle.

A ONG então começou a construir outros índices para tentar justificar e manter o fluxo de recursos para o sistema. Primeiro eles começaram a dizer que embora o desmatamento estivesse caindo a emissão de CO2 proveniente do desmatamento estava aumentando.  A intenção era relacionar o desmatamento declinante à elevação do efeito estufa. Eles forçaram muito a barra e o argumento não colou. Eles abandonaram então esse índice de emissão de CO2 via desmatamento.

Depois começaram a mensurar degradação florestal (um tipo de exploração de florestas onde não há desmatamento) copiando um algorítimo de classificação feito por pesquisadores Americanos. Eu troquei e-mails com os pesquisadores americanos na época. Eles foram duramente criticados pela turma do Imazon e por técnicos do Inpe. Logo depois o Imazon começou a usar uma variação do algorítimo dos americanos para estimar a tal degradação florestal como se idéia tivesse sido deles.

Com isso a ONG, além do número declinante de desmatamento, fornecia também aos seus financiadores um número de degradação florestal conseguindo assim manter o nível de alarme dos gringos em relação a ameaça amazônica.

Nos últimos meses ninguém andava dando nenhuma atenção aos alertas da ONG, até que essa semana eles publicaram uma edição extra mostrando que o desmatamento da Amazônia aumentou em relação ao mesmo mês do ano passado. Esse alerta foi usado para construir uma relação espúria entre esse aumento do desmatamento e o exercício legislativo em torno do Código Florestal. O objetivo claro é dizer a sociedade urbana que não se deve mexer no código caso contrário a Amazônia será destruída. Lembra do Bush e das armas de destruição em massa do Iraque?

Quanto se compara os dois meses desse ano com os mesmos dois meses do ano passado parece ter havido uma elevação alarmante do desmatamento. Mas isso pode se dever ao desmatamento baixo detectado nos meses de abril e maio do ano passado por conta da cobertura de nuvens naquele momento. Situação diferente da que ocorreu nesse ano. Por essa razão que a ministra do ½ ambiente, mais responsável do que a turma do Imazon, sugeriu que não se pode comparar os dados anuais tomados mês a mês.

Veja o exercício do gráfico abaixo. Se o desmatamento divulgado pelo Imazon como alarmante quando comparado com os mesmos meses do ano passado (593 km2 em 2 meses) se reproduzir exatamente nos mesmos níveis em todos os meses de 2011, ainda assim a taxa anual de 2011 será menor do que o desmatamento verificado em 2010. É possível que não tenha havido aumento nenhum, apenas uma variação na cobertura de nuvens e no desmatamento enxergado pelos sistemas em relação ao mesmo período do ano passado. Os fundamentalistas ambientais podem estar mentido para a sociedade, assim como Bush e Goebbels o fizeram.

Após receber críticas, o imazon publicou ontem uma nota onde reafirma seus dados e afirma que sua metodologia é aberta. É mentira. Quando o professor Gerd Spavorek divulgou seu trabalho sobre o Código Florestal mandei um e-mail a ele. Disse a ele que era preciso que ele expusesse o método utilizado para que a comunidade acadêmica pudesse testá-lo e verificar os resultados. Recebi em resposta um documento com detalhes do método, os algorítimos utilizados, as bases de dados, os procedimentos feitos. Gerd Spavorek é um pesquisador sério. O método do Imazon é uma caixa preta. Só o Carlos Souza sabe em que parâmetros ele deve mexer para alterar o resultado.

Buscar a preservação ambiental é importante demais para ser feito da forma espúria como as ONGs estão fazendo. Mentindo para o público, construindo sofismas. Não é assim que o povo deve ser envolvido com o tema. A sociedade precisa perceber que nem tudo o que as ONGs dizem é verdade. Os números do desmatamento precisam ser avaliados com mais cautela.

Comentários

jvc disse…
Quem é contra o novo código flores-
tal, não o leu e nem leu o vigente
(desde 65) com um monte de adendos
que nem o mais culto e nem os ambientalistas conseguem destrin-
char e nem os que fazem a lei ser cumprida, sabem quem é o certo e o errado.
Os que dizem que o novo código vai promover o dematamento esta enganado, ele vai disciplinar e regulamentar da forma mais clara
para a lei ser cumprida, o que não faz o código que esta em vigência que de retrogrado possibilita diversas interpretações o que causa a
depredação do meio ambiente, e mais a demora na aprovação causa incertezas o que possibilita
mais depredação.
Braso disse…
Caro companheiro Ciro, desculpe de chama-lo assim, mas o habito de ler seu blog diariamente o tenho como amigo e companheiro, essa matéria é muito boa, nos da a noção o porque pessoas como eu totalmente democrática e favorável ao dialogo e entendimento tenha radicalizado a discussão entre "ruralistas e ambientalistas", foi a unica maneira de contrapor e jogar o jogo, mas espero que no futuro nossa discussão seja mais baseada em bases científicas e coerentes, nosso governo com vocação ditatorial chegou tarde nas discussões sobre o código, deixamos a população urbana desinteressada no assunto e alguns levados pelo romantismo dos ambientalistas radicais e profissionais, deixaram nos os agricultores com a imagem de "destruidores", mas depois de apagado o fogo na aprovação do código, creio que devemos retornar as discussões com mais qualidade e bases científicas para chegarmos a um consenso entre "ruralistas, ambientalistas, povo brasileiro e principalmente governo", abraços e a luta continua.
Caro Ciro,

Tenho que lhe dar os parabéns pela informação correta.

Infelizmente a imprensa brasileira é medíocre e, em vez de analisar e informar corretamente, se limita a "repercutir" os "releases" das ONGs.

Vinicius Nardi