Código Florestal: Para o governo produção de alimentos não é de interesse social

Caros, o O Globo On-Line informou hoje pela manhã que o Ministério do ½ Ambiente (M ½ A) está finalizando uma contraproposta que apresentará ao deputado Aldo Rebelo até esta terça feira.  Segundo a jornalista Catarina Alencastro, o M½A sinalizou que vai ceder nos dois principais pontos que separam a proposta do governo do texto de Rebelo.

Com a calma habitual, o deputado Aldo Rebelo comentou a atitude do M½A , “Se a ministra de fato ceder nessas duas coisas, o problema está resolvido”, disse ao GLOBO. Os ambientalistas do governo estão entre a cruz e a caldeirinha. Eles não querem abrir mão da recomposição de RL nos pequenos imóveis nem da destruição de áreas agrícolas em APPs consolidadas, mas precisam fazer um acordo em torno de um texto fechado para evitar a apresentação de emendas ao texto final de Aldo. Izabella e seus ambientalistas sabem que se não houver acordo para a não apresentação de emendas não haverá como controlar o texto final, uma vez que o Planalto não tem domínio sobre a base aliada nesse tema. Nesse caso a bomba vai estourar no colo de Dilma de Rousseff que terá que vetar o texto final. Dilma não quer fazer isso e pressiona Izabella a fazer um acordo.

Para fechar o acordo os ambientalistas e o governo exigem, entretanto, que Aldo retire de seu relatório o subitem g do Artigo 3º, que coloca a produção de alimentos como de interesse social.

 

Comentários

Cássio Marcon disse…
Qual o sentido de se demarcar uma APP em uma propriedade rural e autorizar o desmatamento para produção de alimentos?

Por que é disso que trata o art. 8º.

Sou totalmente favorável ao uso sustentável da APP, até mesmo na produção de alimentos. Mas quem disse que precisamos "suprimir a vegetação" para produzir alimentos.

Podemos muito bem produzir alimentos sem derrubar uma árvore sequer. Já ouviram falar de agrofloresta?

Vamos desenvolver uma agricultura tropical, leia-se agrofloresta, ao invés de apenas aplicar um modelo destruidor e concentrador de terras.
Ajuricaba disse…
Se vc me mostrar uma forma razoável de alimentar 9 bilhões de pessoas com agrofloresta eu fecho esse blog.
Cássio Marcon disse…
As idéias abaixo não são minhas.
São idéias de um grande amigo e agrofloresteiro. Abraços

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Quanto de terra é preciso para alimentar o mundo?
No Brasil, quem determina a quantidade padrão de alimentos que uma pessoa deve ingerir é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, através da Resolução - RDC nº 360, de 23 de dezembro de 2003. Ali está exposta a seguinte tabela:
O que isso significa diretamente?
300 g de carboidratos + 75 g de proteínas + 55 g de gorduras totais + 25 g de fibra alimentar são: 455 gramas de alimento seco, ou cerca de 750g de alimento fresco ou preparado por dia para cada pessoa, segundo a média padrão ali estabelecida.
Apenas por hipótese, vamos concordar, tudo bem?
O Relatório sobre a Situação da População Mundial 2010, que pode ser olhado nessa página do Fundo de População das Nações Unidas, afirma na página 105 que a população mundial em 2010 era de 6,9087 bilhões de pessoas. Bem, aqui já temos alguns dados.
Quanto de comida precisamos para alimentar o mundo?
Fácil:
6.908.700.000 x 365 x (300 + 75 + 55 + 25)=?
Por partes:
(300 + 75 + 55 + 25)= 455 gramas de peso seco ou cerca de 750g de peso fresco ou preparado, logo
750g x 1 dia = 750g por dia
6.908.700.000 de pessoas x 750 por dia = ? gramas
6.908.700.000 de pessoas comem todos os dias 750g de alimentos, logo, em um dia, são consumidos:
6.908.700.000 x 750 = 5.181.525.000.000 gramas, ou 5.181.525.000 kg, ou 5.181.525 toneladas por dia.
5.181.525 toneladas x 365 dias por ano, são 1.891.256.625 de toneladas por ano: 1.891.256.625 t/a.
Parece muito, e sei que é.
Mas se você chegou até aqui deve estar seriamente se perguntando o porquê de todas essas contas...
Bem, vamos voltar ao título da postagem:"Quanto de terra é preciso para alimentar o mundo?"
Queremos na verdade saber qual a área agrícola necessária para alimentar a população mundial, certo?
Bem, aqui vai:
Para alimentar o mundo, nós seres humanos precisamos produzir 1.891.256.625 toneladas de alimentos por ano. Quantos hectares precisamos para ter essa produção?
Vamos conversar seriamente agora. Não vim aqui de brincadeira e não gosto jogar conversa fora. Quando aceitei a proposta de escrever esse blog, o objetivo básico foi de compartilhar as informações do meu trabalho de doutorado em agroecologia, só que numa linguagem mais acessível e menos acadêmica. Pois bem, aqui estamos. Todo esse trabalho que faço é com base em informações de campo que eu mesmo obtive, e também na bibliografia, em entrevistas com pesquisadores, técnicos e agricultores, e dialogando com as pessoas que também estão envolvidas no tema.
Numa outra postagem, eu disse que 1 hectare de agroflorestas produz no mínimo 20 toneladas por ano. 20 é um número mínimo, e está bastante abaixo da média, e muito abaixo do que é realmente possível. Vamos considerar um valor um pouco maior: 25 toneladas por hectare.
Quantos hectares precisaríamos para ter essa produção, de 1.891.256.625 toneladas de alimentos por ano?
Vamos dividir: 1.891.256.625 toneladas por ano / 25 toneladas por hectare.ano = 75.650.265 hectares.
1 km2 é igual a um quadrado de 1km x 1km, e 1 hectare é igual a um quadrado de 0,1km x 0,1km. Logo, 1km2 tem 100 hectares.
Portanto, 75.650.265 hectares é uma área igual a 756.502,65 km2. Parece muito? E é.
Vamos voltar a outra postagem, chamada "E se mudarmos a agricultura, mudamos o clima?", onde também falei sobre isso. Lá eu comentava que a área agrícola do Brasil é o total de área utilizada para agricultura e/ou pecuária, que em 2010 foi de cerca de 4 milhões de km2. 400 milhões de hectares é aproximadamente a área agrícola do Brasil hoje.

(continua)
Cássio Marcon disse…
Em tempo.

O autor do texto chama-se Daniel Jorge Habib, que atualmente faz doutorado em Agroecologia Universidade Nacional de Córdoba, Espanha.

Mais informações sobre ele em algum canto da internet.
Cássio Marcon disse…
Continuação das sábias palavras do Daniel Jorge Habib

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(continuação do texto anterior)

O que quero dizer, em últimas palavras nessa postagem, é que:
se apenas não fôssemos criminosos e seguíssemos a legislação brasileira, o famoso CÓDIGO FLORESTAL DE 1965, que determina entre outras coisas uma área mínima de 20% da área agrícola como floresta passível de manejo, desde que averbada; se apenas seguíssemos essa lei, teríamos uma área de cerca de 80 milhões de hectares, mais que suficiente para alimentar o mundo com alimentos agroflorestais: sem veneno, sem adubo químico, sem tratores nem colheitadeiras, sem escravidão nem intoxicações, sem transgênicos. Só o puro sabor da terra, como deve ser.
Mas quero mais. Quero leis e políticas públicas que façam agroflorestas serem obrigatórias em áreas agrícolas de qualquer tamanho e em qualquer situação no Brasil. 25% da área de cada propriedade rural ou urbana deve ter agrofloresta, com um mínimo de 50 espécies de no mínimo 10 famílias diferentes em uma área de 100m2, e no mínimo 150 espécies diferentes de 20 famílias diferentes numa área de 1ha. Essa é a minha proposta.
Um abraço cordial
Daniel Jorge Habib
Luiz Henrique disse…
Um hectare com agrofloresta produz 25 toneladas de alimento por ha/ ano? Tá louco?
Um hectare de eucalipto , que é o material com o máximo de peso possível de produzir em agrofloresta, produz de 15 a 40 metros cúbicos de madeira por ano, se pegarmos a media, seria de 27.5 metros cúbicos, que multiplicados por 700 Kg que é o peso desta madeira seca, teríamos 19 250 Kg/ há/ ano, ou seja 19.25 ton.
Só se passarmos a comer pó de serra!
Braso disse…
Me desculpe Ciro, mas deixar esses malucos postarem no blog é contraproducente e improdutivo, esses malucos que fazem Doutorados defendendo teses teóricas que só podem serem aplicadas em Marte, Júpiter ou na lua, não representam os profissionais serios e competentes da agricultura, seja ela agronãosei o que ou agrícolas ou........
Unknown disse…
CÁSSIO MARCOS,

A AGROECOLOGIA TEM SIM O SEU VALOR, MAS ELA TEM DE SER VISTA COMO UMA SEGUNDA OPÇÃO E NÃO ALGO QUE TODOS TERIAM DE ADOTÁ-LA.


EU, POR EXEMPLO, SOU UM ADEPTO A AGRICULTURA ORGÂNICA, MAS JAMAIS VOU ME TORNAR UM INIMIGO DA AGRICULTURA CONVENCIONAL, PORQUE SEI QUE ELA TEM SEU VALOR TAMBÉM E CREIO QUE A MESMA IRÁ SOFRER MODIFICAÇÕES FUTURAMENTE, ONDE O USO DE AGROTÓXICOS SERÁ REDUZIDO CONSIDERAVELMENTE.

O IMPORTANTE É DEIXAR EM ABERTO VÁRIAS OPÇÕES E CADA AGRICULTOR ESCOLHE QUAL MODELO QUER SEGUIR...

SEM DITADURAS, SEM MALUQUICES...

...E SEM RESERVA LEGAL.