Sobre os produtores amazônidas

"Seu ressentimento é perceptível. Um fazendeiro de Iowa nunca iria tolerar que lhe dissessem para não tocar em 80% de suas terras ou que ninguém iria reembolsá-lo por deixá-la intacta. Imaginem cientistas alemães, holandeses e japoneses visitando regularmente fazendas no Iowa, chafurdando seus sistemas de produção e alertando a imprensa mundial ao identificar um suposto efeito adverso. Por quanto tempo um fazendeiro do Iowa iria tolerar essa interferência na utilização de suas terras?"

É um trecho do livro A Última Floresta de Brian Kelly e Mark London publicado no Brasil no final de 2007. Não é de hoje que as melhores reportagens escritas sobre a região são feitas por escritores de fora. Não sei dizer ao certo a razão, mas me parece ser pelo fato de que os "analistas" brasileiros têm o cérebro excessivamente povoado por estereótipos de Amazônia e não conseguem deixar de ser desavergonhadamente viesados. Já os escritores internacionais, não. Quando não são escritores engajados, eles tem a mente mais livre e conseguem escrever com um número menor de pré-julgamentos. Isso acontece com o livro de Andrew Revkin sobre o assassinato do Chico Mendes, várias vezes superior ao aglomerado de pré-concepções do Zuenir Ventura.

Brian Kelly e Mark London viajaram pela Amazônia no início dos anos 80 e retornaram agora no inicio dos anos 2000. A primeira viagem redeu um livro e a segunda rendeu outro. São duas fotos em momentos distintos da região. Olhar as duas é bastante útil para se perceber as mudanças. O primeiro livro eu comprei no sebo on-line Estante Virtual o segundo comprei numa livraria em Belém, mas pode ser comprado pela Livraria Cultura. A citação que abre esse post está no segundo livro.

Isto posto, volta a pergunta: "Por quanto tempo um fazendeiro do Iowa iria tolerar essa interferência na utilização de suas terras?"

Comentários

Luiz Henrique disse…
A culpa desta interferência externa é nossa mesmo, nós aceitamos com nosso complexo terceiro-mundista, por que estes gringos Bambientalistas não se metem com produtores de países desenvolvidos? Pelo fato destes ou mesmo da população jamais tolerar interferência externa, o que podemos esperar de uma população de em sua maioria semi analfabeta que tem o poder do voto? Eleger representantes totalmente despreparados.
Que país é este em que a opinião de um artista de telenovela é mais respeitada com relação a meio ambiente do que técnicos, que país é este em que um tomador de chope do calçadão de Copacabana pode legislar sobre o que é melhor para a Amazônia e sua população.Esta tudo errado e acho difícil de concertar, a ignorância reina.........
Luiz Prado disse…
Esse é o Brasil! Cria-se o mito, depois acredita-se no mito, depois o mito sai de moda, e aí esquece-se o mito - até porque a realidade já mudou e outro mito substituiu o anterior para dar continuidade à gigantesca enganação que é "o Brasil do futuro", como no caso do país que resolverá os seus problemas de educação básica com os royalties de um pré-sal cujos custos de exploração ainda são desconhecidos. A Amazônia mudará com o aumento progressivo do número de "povos da floresta", de gente que lá vive, e que os "zambientalistas" simplesmente não vêem.
Anônimo disse…
A diferença entre aqui e Iowa é que nós não somos uma nação. Não é porque temos um perímetro geográfico que somos uma nação! Como escreveu Bruno Tolentino, "não somos nem mesmo um bando de macacos" - já que eles são mais coesos do que nós, têm mais coordenação. E somos covardes, também. Poucos se arriscam a dizer que essa história de reserva legal de 80% na Amazônia ou mesmo de 20% no Sudeste é uma asneira total, em nada contribuiu para a preservação da biodiversidade, ou dos solos, ou das águas. E quando o atual ministro do 1/2 ambiente apoiou a formação da reserva legal em outras áreas, o fez por influência da Aracruz Celulose, que queria terras planas e produtivas no Rio de Janeiro. Terras que deixam, assim, de produzir alimentos. E ainda mentem dizendo que queriam terras "degradadas". Vivemos num circo, numa farsa, em sonhos viciados, e ainda continuaremos a ser exportadores de produtos primários não beneficiados, inclusive de solos e de água sob a forma de madeira. Quem quiser saber o que vem ocorrendo por todo o Brasil pode ver em http://www.fazendavallas.com/home.html.
Anônimo disse…
Ciro,

primeiro é preciso perguntar quantos produtores rurais ao redor do mundo já sofreram pelo menos a metade do policiamento que os produtores do Brasil sofrem.

Depois necessita perceber que em outros países os governos simplesmente se fazem valer.

Agora, não podemos esquecer que existem governos signatários de acordos internacionais. Alguns só assinam esses acordos se puderem compensar suas mazelas no Brasil, enquanto que o Brasil só consegue assinar os mesmo acordos em detrimento do seu próprio desenvolvimento, colocando a Amazônia como moeda de troca.
emanuel disse…
Luiz Henrique tem razão... é intolerável essa interferencia internacional em nosso Brasil, principalmente na Amazonia. Eu mesmo vi na Ilha de Marajó, há uns dois anos, dois professores americanos coletando plantas inteiras, tirando milhares de fotos,.. acompanhado por gente da EMBRAPA... achei um absurdo, falei e fiu chamado de anti-americano,,, o que de certa forma é verdade dado às suas ações mundiais.