Segundo o último relatório divulgado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o rebanho bovino norte-americano, em primeiro de julho de 2012, atingiu 97,8 milhões de cabeças.
Tal efetivo é 2,0% menor que o verificado no mesmo período do ano passado, de aproximadamente 100 milhões de cabeças, e o mais baixo já registrado desde o início da série histórica do USDA, em 1973.
A safra de bezerros de 2012 está projetada para 34,5 milhões de cabeças, também 2,0% abaixo da de 2011. Os nascimentos na primeira metade do ano estão estimados em 25,1 milhões de cabeças.
A forte seca e o abate acelerado de matrizes nos últimos anos contribuíram para este cenário, de acordo com análise da Scot Consultoria.
Sempre lembro do texto do Machado de Assis sobre O Boi. Ainda vou fundar uma ONG pra proteger as vacas.
O boi, por Machado de Assis
O boi, substantivo masculino, com que nós acudimos às urgências do estômago, pai do rosbife, rival da garoupa, ente pacífico e filantrópico, não é justo que viva. . . isto é, que morra obscuramente nos matadouros. De quando em quando, dá-lhe para vir perfilar-se entre as nossas preocupações, como uma sombra de Bânquo, e faz bem. Não o comemos? É justo que o discutamos.
Veio o boi [...], estacou as pernas, agitou a cauda e olhou fixamente para a opinião pública.
A opinião pública detesta o boi... sem batatas fritas; e nisto, como em outras coisas, parece-se a opinião pública com o estômago. Vendo o boi a fitá-la, a opinião estremeceu; estremeceu e perguntou o que queria. Não tendo o boi o uso da palavra, olhou melancolicamente para a vaca; a vaca olhou para Minas; Minas olhou para o Paraná; o Paraná olhou para a sua questão de limites; a questão de limites olhou para o alvará de 1749; o alvará olhou para a opinião pública; a opinião olhou para o boi. O qual olhou para a vaca; a vaca olhou para Minas; e assim iríamos até a consumação dos séculos se não interviesse a vitela, em nome de seu pai e de sua mãe.
A verdade fala pela boca dos pequeninos. Verificou-se ainda uma vez esta observação, espeitorando a vitela estas reflexões, tão sensatas quanto bovinas:
-Gênero humano! Eu li há dias no Jornal do Comércio um artigo em que se fala dos interesses do produtor, do consumidor e do intermediário; falta falar do interesse do boi, que deve pesar alguma coisa na balança da República. O interesse do produtor é vendê-lo, o do consumidor é comprá-lo, o do intermediário é impingi-lo; o do boi é justamente contrário a todos três. Ao boi importa pouco que o matem em nome de um princípio ou de outro, da livre concorrência ou do monopólio. Uma vez que o matem, ele vê nisso, não um princípio, mas um fim, e um fim de que não há meio de escapar. Gênero humano! não zombeis esta pobre espécie. Quê! Virgílio serve-se-nos para suas comparações poéticas; os pintores não deixam de incluir-nos em seus emblemas da agricultura; e não obstante esse préstimo elevado e estético, vós trazei-nos ao matadouro, como se fôssemos simples recrutas! Que diríeis vós se, em uma república de touros, um deles se lembrasse de convidar os outros a comer os homens? Por Ceres! poupai-nos por algum tempo!
--------------------------
Isso é um trecho de uma crônica de Machado de Assis publicada no Correio Carioca em 01 de outrubro de 1876. Deve ser a terceira ou quarta vez que publico esse texto aqui no blog. Não me cansarei jamais de fazê-lo. Afinal, o boi por machado não deixa de ser um belo trocadilho.
Bom final de semana.
Tal efetivo é 2,0% menor que o verificado no mesmo período do ano passado, de aproximadamente 100 milhões de cabeças, e o mais baixo já registrado desde o início da série histórica do USDA, em 1973.
A safra de bezerros de 2012 está projetada para 34,5 milhões de cabeças, também 2,0% abaixo da de 2011. Os nascimentos na primeira metade do ano estão estimados em 25,1 milhões de cabeças.
What's wrong with you?? |
A forte seca e o abate acelerado de matrizes nos últimos anos contribuíram para este cenário, de acordo com análise da Scot Consultoria.
Sempre lembro do texto do Machado de Assis sobre O Boi. Ainda vou fundar uma ONG pra proteger as vacas.
O boi, por Machado de Assis
O boi, substantivo masculino, com que nós acudimos às urgências do estômago, pai do rosbife, rival da garoupa, ente pacífico e filantrópico, não é justo que viva. . . isto é, que morra obscuramente nos matadouros. De quando em quando, dá-lhe para vir perfilar-se entre as nossas preocupações, como uma sombra de Bânquo, e faz bem. Não o comemos? É justo que o discutamos.
Veio o boi [...], estacou as pernas, agitou a cauda e olhou fixamente para a opinião pública.
A opinião pública detesta o boi... sem batatas fritas; e nisto, como em outras coisas, parece-se a opinião pública com o estômago. Vendo o boi a fitá-la, a opinião estremeceu; estremeceu e perguntou o que queria. Não tendo o boi o uso da palavra, olhou melancolicamente para a vaca; a vaca olhou para Minas; Minas olhou para o Paraná; o Paraná olhou para a sua questão de limites; a questão de limites olhou para o alvará de 1749; o alvará olhou para a opinião pública; a opinião olhou para o boi. O qual olhou para a vaca; a vaca olhou para Minas; e assim iríamos até a consumação dos séculos se não interviesse a vitela, em nome de seu pai e de sua mãe.
A verdade fala pela boca dos pequeninos. Verificou-se ainda uma vez esta observação, espeitorando a vitela estas reflexões, tão sensatas quanto bovinas:
-Gênero humano! Eu li há dias no Jornal do Comércio um artigo em que se fala dos interesses do produtor, do consumidor e do intermediário; falta falar do interesse do boi, que deve pesar alguma coisa na balança da República. O interesse do produtor é vendê-lo, o do consumidor é comprá-lo, o do intermediário é impingi-lo; o do boi é justamente contrário a todos três. Ao boi importa pouco que o matem em nome de um princípio ou de outro, da livre concorrência ou do monopólio. Uma vez que o matem, ele vê nisso, não um princípio, mas um fim, e um fim de que não há meio de escapar. Gênero humano! não zombeis esta pobre espécie. Quê! Virgílio serve-se-nos para suas comparações poéticas; os pintores não deixam de incluir-nos em seus emblemas da agricultura; e não obstante esse préstimo elevado e estético, vós trazei-nos ao matadouro, como se fôssemos simples recrutas! Que diríeis vós se, em uma república de touros, um deles se lembrasse de convidar os outros a comer os homens? Por Ceres! poupai-nos por algum tempo!
--------------------------
Isso é um trecho de uma crônica de Machado de Assis publicada no Correio Carioca em 01 de outrubro de 1876. Deve ser a terceira ou quarta vez que publico esse texto aqui no blog. Não me cansarei jamais de fazê-lo. Afinal, o boi por machado não deixa de ser um belo trocadilho.
Bom final de semana.
Comentários
Postar um comentário
Reflexões sobre meio ambiente, pecuária e o mundo rural brasileiro. Deixe seu comentário.