Sinais de recuperação, ainda escassos em outros setores, aparecem bem mais claramente na atividade do campo |
Aumentar a eficiência da economia nacional será um dos principais desafios para os governantes nos próximos anos. Também o agronegócio precisará de mais investimentos, mas o setor já se distingue há muito tempo como o mais competitivo do Brasil. Em 2016, como ocorre há um bom tempo, as exportações de alimentos e outros produtos originários do campo têm sido o pilar mais importante do comércio exterior.
De janeiro a outubro, o agronegócio embarcou mercadorias no valor de US$ 73,1 bilhões. Embora o valor tenha sido 2,2% menor que o de um ano antes, o desempenho foi suficiente para garantir um superávit de US$ 62,1 bilhões. Isso foi mais que suficiente para cobrir o déficit acumulado em outros segmentos e ainda garantir ao País um saldo positivo de US$ 38,5 bilhões. Houve sem dúvida alguma contribuição do setor de manufaturados para a recuperação da balança comercial, mas o agronegócio continuou no papel principal.
Para remontar a política nacional de desenvolvimento, os governantes deveriam refletir mais seriamente sobre o desempenho, no último quarto de século, da agropecuária e da indústria vinculada ao campo. Nesse período a produção aumentou bem mais que a área ocupada pela agropecuária. Ao mesmo tempo, o setor se consolidou como um dos mais competitivos do mundo. No entanto, a agropecuária brasileira é uma das menos subsidiadas, e a diferença se torna muito clara quando a comparação envolve o mundo rico.
Os números têm variado ano a ano, mas, pelos últimos levantamentos, os subsídios agrícolas proporcionam, em média, 17% da renda do produtor, em todo o mundo. As proporções têm estado entre 20% a 25% na União Europeia e na China e em torno de 12% nos Estados Unidos. No Brasil, têm ficado próximos de 5%.
Recursos naturais são parte da explicação, mas a pesquisa e a absorção de tecnologia têm sido os principais fatores de aumento da eficiência no campo brasileiro. É indispensável manter o esforço de modernização, mas o caminho é conhecido. O governo petista chegou a tentar o aparelhamento e a politização da pesquisa, mas houve resistência e pelo menos nessa área a manobra foi de curto alcance.
Mais empenhado em acompanhar os melhores padrões internacionais, o agronegócio tem avançado com limitada ajuda oficial – crédito apenas suficiente, preços mínimos e grande contribuição dos organismos de pesquisa. Na indústria, a interferência governamental, com protecionismo e ampla distribuição de favores, foi insuficiente para produzir inovação e ganhos de competitividade. O governo pode, é claro, fazer mais pelo agronegócio. Uma das tarefas urgentes é promover investimentos em logística. Neste ano, a Confederação Nacional dos Transportes classificou como inadequados 58,2% dos trechos de rodovias examinados em sua pesquisa periódica. Cuidar de problemas como esse rende muito mais que distribuir favores fiscais e financeiros, como fez o PT durante anos.
Texto publicado em O Estado de São Paulo no dia 12 de dezembro de 2016
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