Recomendação de Leitura - Artigo de Xico Graziano no Estadão

Caros, recomendo a leitura do artigo de Xico Graziano, Secretário de Meio Ambiente de São Paulo, publicado hoje no Estadão. Segue um trecho:

A urbanização e a consequente industrialização do alimento rompem os elos originais entre a comida e quem dela usufrui. Um processo histórico.

Argumenta-se, exagerando, que as crianças dos grandes centros urbanos mal sabem de onde brota o leite que tomam nas mamadeiras, acreditando elas, talvez, que das prateleiras do supermercado surja, por milagre, o branco líquido que bebem. Afinal, quem já presenciou a ordenha de uma vaca?

Essa distância entre o campo e a cidade, facilmente perceptível no exemplo do chocolate ou do leite, esconde um terrível perigo. Ao desconhecerem as ligações do alimento desde quando sai produzido na roça até chegar à mesa, as pessoas acabam por se esquecer, também, dos homens que vivem longe na labuta rural. E ninguém valoriza aquilo que desconhece.

Nada mais aflige o agricultor nacional que se perceber menosprezado pela sociedade, algumas vezes até tratado de forma preconceituosa na opinião pública, como se dispensável fosse. Além da já citada ilusão alimentar, existem com certeza outras razões explicativas desse triste fenômeno da atualidade brasileira. Bom tema para a academia estudar.

Pelo sim pelo não, certa má fama acomete, desgraçadamente, os agricultores nacionais, retirando-lhes o prestígio de que deveriam gozar graças à importância fundamental de sua atividade, qual seja, de provedores do alimento humano. Para não falar das matérias-primas essenciais cultivadas, como o algodão, presentes nas calças jeans e nas camisetas ostentadas pela juventude. Reconheceriam eles um pé de algodão?

Há tempos as lideranças rurais procuram caminhos para melhorar sua imagem perante a sociedade. Uma hipótese de trabalho é exatamente esta: explicitar melhor a origem das coisas. Campanha de comunicação de massa poderia mostrar que o suor do agricultor abastece a mesa da salada, do arroz com feijão, da mistura boa, da fruta gostosa. Pedagogia fácil.

Nos alimentos processados, todavia, mais difícil se percebe o vínculo da terra com o garfo. Embutidos, como os presuntos, enlatados, como o óleo de cozinha, engarrafados, como a bebida, as embalagens escondem o começo do gosto. Pode-se apelar ao emocional: inexiste cerveja sem cultivo de cevada, nem camisinha sem látex de borracha. Viva os fazendeiros!

As mazelas do campo, carregadas desde o passado escravocrata, infelizmente turvam os olhos da sociedade, impedindo-a de perceber com nitidez os amplos benefícios da roça, valorizando-a adequadamente. Ruralismo, em vez de virtude, vira defeito.

Parte da culpa cabe, por certo, aos próprios agricultores. Lideranças caquéticas, discursos atrasados que irritam os formadores de opinião, causam um verdadeiro antimarketing rural. Existem também, é verdade, produtores caloteiros, outros antiecológicos, cujo comportamento perdulário agride o bom senso. Nada estranho. Em todos os setores da sociedade existem os bocós de seu tempo. Pode procurar.


O artigo completo pode ser lido no Estadão on-line no seguinte link: Fosso perigoso

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