ONGs que pediram veto ao novo Código Florestal agora querem os dados do CAR para fiscalizar o seu cumprimento. Acredite quem quiser. |
Cada dia mais fraco no cenário social brasileiro, o ambientalismo vive uma crescente crise de identidade. Na prática, há dois “ecos” distintos. Um é o “novo eco”, o eco moderno, voltado para a convergência entre produção agropecuária e proteção ambiental, antenado com o interesse nacional, comprometido com as limitações dos sistemas produtivos. O eco que está interessado em sustentabilidade em todas as suas vertentes, não apenas em sua face ambiental, e que entendeu que a produção é parte importante da seu ativismo.
O outro é o “velho eco”, que simboliza um ativismo ambiental irresponsável junto à sociedade brasileira. Este eco rima com pós-verdade, com ideologia de esquerda, com perseguição ao agronegócio e outras práticas degradantes. É um eco que é contra tudo, como a luta do Greenpeace contra o arroz dourado que pode salvar milhões de crianças da deficiência de vitamina A retratado recentemente no livro Confessions of a Greenpeace Dropout, de Patick Moore. Não por acaso, o subtítulo do livro de Moore, um fundador e ex militante do velho eco, é The Making of a Sensible Environmentalist. O velho eco, mente, denigre, corrompe, degrada e até mata, como mostra o livro de Patrick Moore.
É chegada a hora de o Brasil tomar partido ao lado de um dos ecos. Não há mais espaço para os dois ecos num país que busca estar na dianteira do desenvolvimento sustentável em todas as suas vertentes. O Brasil do presente precisa enterrar o ambientalismo radical no passado. O Brasil quer um eco do qual ele possa se orgulhar efetivamente. Um eco que não tenha vergonha de ser agro, capaz de sair das sombras para se mostrar tolerante, convergente e sustentável. Um eco que não precise de pirotécnica e falsas verdades para afundar as mãos nos bolsos das Fundações internacionais precisa tomar o lugar da pilantragem ecológica.
A disponibilização dos dados do Cadastro Ambiental Rural foi uma das atitudes mais irresponsáveis do Ministro José Sarney Filho. Bandeira antiga das ONGs, a exposição pública dos dados do CAR significa dar ao velho eco algo que ele já não tinha: discurso. O ambientalismo irresponsável agora poderá admoestar despudoradamente o setor rural brasileiro a despeito do passo firme dado pelo agro, através do CAR, no sentido da adequação ambiental dos imóveis rurais do Brasil.
A decisão irresponsável e inconsequente do Ministro do Meio Ambiente de expor publicamente os dados dos imóveis rurais brasileiros está sendo comemorada pelo velho eco que parece expressar uma opinião majoritária, dado o silêncio do novo eco. O curioso é que esse velho eco agora quer acesso aos dados do CAR para fiscalizar o cumprimento de uma lei contra a qual militou duramente. Ou alguém não se lembra do “Veta, Dilma!”.
O que os defensores da exposição ampla, geral e irrestrita do CAR parecem não ter compreendido ainda é que usar os dados para “caçar bruxas” afastará o setor rural de qualquer concessão à proteção ambiental formal e mais ainda da informal. Trata-se sim de caça às bruxas e revanchismo – é exatamente para isso que o velho eco quer tão avidamente acesso irrestrito ao CAR. Ôba-oba, pirotecnia ecológica é só o que o velho eco sabe fazer.
Um Cadastro exposto dará ao velho eco a oportunidade de segregar produtores rurais. Antes de induzir a adequação dos imóveis rurais a regras factíveis, a exposição pública dos dados alijará do processo os produtores com menor capacidade de adaptação. A caça às bruxas do velho eco gerará um círculo vicioso que começará com a expulsão do campo daqueles produtores com maiores custos de adequação dos seus imóveis às regras do Código Florestal e poderá levar milhares de produtores rurais à bancarrota.
Não se pode confundir, em pleno século XXI, o interesse da sociedade com o interesse das Organizações Não Governamentais. Ou alguém acha que perseguir produtor rural é do interesse do povo brasileiro? Propriedade rural tem função social, mas ainda é propriedade privada, muito diferente de contratos da administração pública ou salários de servidores. A simples confusão entre as duas coisas feita pelo velho eco é sintoma de sua irresponsabilidade.
No fim do dia, voltamos à discussão sobre o Brasil que queremos. Afinal de contas, é profundamente irresponsável o ambientalismo que joga indiretas sobre a disposição do setor rural de cumprir a lei florestal, que luta contra o Código Florestal e pede os dados do CAR para fiscalizar seu cumprimento, que faz piada com as prorrogações necessárias do CAR pelas quais o agro lutou contra o velho eco. A exposição pública dos dados do CAR incomoda quem sempre teve que lhe dar com a molecagem ecológica as ONGs ambientalistas. Pudesse o agro brasileiro dialogar com a sociedade urbana sem a intermediação irresponsável do velho eco, não haveria problema na divulgação dos dados do CAR.
O Brasil precisa mais do que nunca de novos ambientalistas. O Brasil precisa mais do que nunca de um ambientalismo sensato.
Textículo preparado no horário do almoço em resposta ao artigo Transparência do CAR fortalece o “novo agro” brasileiro de Cristiano Vilardo e Rodrigo Medeiros, dois ambientalistas velhos. A ilustração é uma montagem feita no Fotor.com com imagens do MMA (Sarney Filho) e da Agência Brasil (Marina Silva).
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