A agricultura apresentou um notável desempenho nas últimas quatro décadas, crescendo, em média, 3,7% ao ano. Esse resultado contrasta com o baixo crescimento recente da indústria, apesar da retomada, nos últimos anos, de diversas medidas protecionistas defendidas pelo setor, que haviam sido reduzidas na década de 1990.
Enquanto a produtividade da economia decresceu na década de 1980 e aumentou 1% ao ano entre 1990 e 2010, a produtividade agrícola cresceu cerca de 3% ao ano a partir de 1975, o que significou produzir mais alimentos sem comprometer, na mesma proporção, recursos escassos, como a terra, colaborando com a sustentabilidade.
As causas do fracasso das medidas defendidas pela indústria e as razões do sucesso da agricultura colaboram com o debate sobre as políticas mais eficazes para a retomada do crescimento.
Fabio Chaddad conta a história da agricultura no livro "The Economics and Organization of Brazilian Agriculture". Os tributos oneram menos a agricultura do que o restante da economia. Mas isso não explica o aumento da produtividade, que decorreu das inovações tecnológicas, do maior comércio com outros países, do empreendedorismo e da melhora na gestão das empresas.
Desde os anos 1970, o setor se beneficia da pesquisa em tecnologia agrícola realizada pelo setor público, como a Embrapa, a ESALQ e o Instituto Agronômico de Campinas, assim como por instituições privadas, como o CTC, que resultou em ganhos de produtividade.
Com a crise dos anos 1980, os subsídios foram significativamente reduzidos e, desde 1990, o setor foi exposto à maior abertura ao comércio exterior.
Muitas empresas fracassaram, sobretudo em anos de crise, mas as que sobreviveram se beneficiaram do maior acesso ao mercado externo e apresentaram ganhos de produtividade de 4% ao ano na década de 2000, a maior taxa entre as principais economias.
Fabio conta diversas histórias de empreendedores, que se aventuraram em aperfeiçoar os métodos de produção e de gestão, além de explorar novas regiões. As histórias são surpreendentemente modernas em um setor que, frequente e equivocadamente, se supõe o exemplo do atraso.
Além disso, enfatiza que existem diversas formas de cadeias de produção que podem ser bem-sucedidas, desde que eficazes em garantir o acesso aos mercados de crédito, de insumos e de consumo, como as cooperativas da região Sul, as grandes corporações da região Sudeste e as parcerias público-privadas do Centro-Oeste.
A história da agricultura sugere que a política pública deveria estimular o aumento da produtividade, a concorrência e o empreendedorismo.
Artigo publicado originalmente na Folha de São Paulo em 21 de agosto de 2016
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