A produtividade do agronegócio e o futuro do setor no Brasil

The Economics and Organization of Brazilian Agriculture, de Fabio Chaddad, foi tema de debate com especialistas do agronegócio
Os últimos 40 anos marcaram o crescimento do agronegócio no Brasil, colocando o setor na posição de protagonista da economia do país. Enquanto a produção de outros segmentos decresceu ou aumentou no máximo 1% ao ano, a produtividade agrícola apresentou crescimento anual de cerca de 3% desde 1975.

O setor foi tema de encontro com Fabio Chaddad, autor do livro “The Economics and Organization of Brazilian Agriculture”, professor Joint Appointment do Insper e associado na University of Missouri, em setembro de 2016 no auditório Steffi e Max Perlman do Insper.

Fábio Chaddad conta em seu livro como o Brasil, um país tropical, pobre, importador de alimentos e com fortes problemas de segurança alimentar tornou-se em 40 anos uma das três potências agrícolas do mundo, atrás somente da União Europeia e dos Estados Unidos.

“O Brasil cresceu 3 vezes mais que o mundo em produtividade agrícola. Conquistamos segurança alimentar. Hoje a família brasileira gasta somente 16% da sua renda em alimentos. Na década de 1960, gastava um terço. O preço real da cesta básica caiu 80%”, analisa Chaddad. Além da produção sustentar o consumo interno, também viabilizou a melhora da balança comercial. O país passou a ser terceiro maior exportador alimentar mundial e desde 1980, o agronegócio acumula um superávit de US$ 664 bilhões, enquanto os outros setores da economia registram um déficit de US$ 313 bilhões.

O Brasil tem recursos favoráveis para a agricultura. Cerca de 14% das terras potencialmente agricultáveis e aproximadamente 13% dos recursos hídricos renováveis do planeta estão no país. O clima tropical é outro fator positivo, permitindo o plantio e a colheita o ano todo. Nos Estados Unidos, na Argentina, no Uruguai, na Austrália, na China e em países da Europa, por exemplo, o setor conta com uma safra por ano devido às condições climáticas.



Mas não é só isso, o casamento entre a inovação tecnológica e os bons centros de pesquisa públicos e privados, como a Embrapa, a ESALQ – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, e o Instituto Agronômico de Campinas, e o CTC – Centro de Tecnologia Canavieira foram decisivos para esse crescimento, segundo os debatedores.

Chaddad chama atenção para os empreendedores, que, por exemplo, desbravaram o centro-oeste, a boa gestão de pessoas e a organização das cadeias verticais, que colaboraram para impulsionar a produtividade. “Recursos naturais, tecnologia e subsídios não fazem a festa acontecer”, diz. Os diferentes modelos de agronegócio apontados no livro mostram que toda cadeia, quando organizada, se torna bem-sucedida.

O futuro do setor

O livro “The Economics and Organization of Brazilian Agriculture” nasce para ser um marco histórico no agronegócio ao analisar a ascensão do setor no país de forma aprofundada e provocar reflexão sobre o futuro. Para isso, a organização de cadeias e a adequação tecnológica contínua são fundamentais.

Outro ponto de atenção é a necessidade de avanços na área social e ambiental. Muitas áreas foram mal exploradas, tornando-se improdutivas. Os debatedores destacaram que a resposta para esse cenário é discutir uma política de crédito que estimule a concorrência, o empreendedorismo e a inovação.

Fabio Chaddad mostra que a estrutura fundiária é preocupante. Houve uma consolidação excessiva. Em 2006, 3,8 mil propriedades com mais de 2,5 mil hectares concentravam 62% da área de produção e essa tendência aumentou, segundo o professor. “Houve uma injeção de capital externo muito forte nessas grandes corporações. Mas as famílias entre 500 e 2 mil hectares precisam de cooperativas para conseguir competir e sobreviver”, diz.

Sobre o livro

A ideia do livro foi maturada por três anos e ele levou um ano para ser escrito. Fabio Chaddad contou com a colaboração de engenheiros agrônomos gabaritados e entrevistou mais de 50 pessoas para compor sua pesquisa de campo. “Foi muito trabalho para traduzir o conhecimento, as experiências e as histórias que são únicas”, conclui.



“The Economics and Organization of Brazilian Agriculture – Recent Evolution and Productivity Gains” foi lançado em setembro de 2015 na versão em inglês. O livro ainda está sendo traduzido e a expectativa é de que até o primeiro semestre de 2017 a versão em português seja lançada. A escolha de um lançamento prévio no exterior foi elogiada pela importância de se explicar para outros países como funciona o modelo de agronegócio brasileiro.

A obra traz 178 páginas de reflexão sobre a história da agricultura brasileira, táticas para ganhos de produtividade e competitividade internacional, além apresentar exemplos para os formuladores de políticas globais.

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