É possível costurar um acordo sobre o Código Florestal ?

Os ambientalistas Paulo Barreto e Paula Ellinger, da ONG Imazon, publicaram no Blog Amazônia Sustentável um texto sobre a necessidade de negociadores que possam conduzir a uma harmonia entre conservação ambiental e produção agropecuária. Preciso dizer que discordo deles. Confesso que, na primeira leitura que fiz do texto, até concordei com o mote da necessidade de aproximação entre as partes, mas não creio que haja um acordo possível entre o ambientalismo mainstream e os produtores rurais.

Assim como não é possível costurar um acordo entre israelenses e palestinos. Os palestinos querem os israelenses fora da terra santa e do planeta e os israelenses, por sua vez, não têm como aceitar nenhum acordo com essas bases. É uma situação muito semelhante ao que ocorre com o Código Florestal. Os ambientalistas querem que os produtores rurais cumpram o Código Florestal e os produtores rurais não têm como aceitar um acordo nessas bases.

O que os ambientalistas entendem por negociador é alguém iluminado capaz de fazer os "ruralistas" irascíveis aceitarem o dogma do Código Florestal. Os produtores rurais, por seu turno, esperam que os ambientalistas irascíveis entendam que o Código Florestal não é o melhor caminho para a preservação de biomas. Nenhuma das duas facções é capaz de aceitar os termos da outra. Não há acordo possível nesses termos.

Acredito que precisamos de um discurso alternativo,
intermediário, pautado na preservação, tanto do meio ambiente, quanto da nossa capacidade de produção de alimentos, que controle a expansão da fronteira agrícola e que, sobretudo, isole os radicalismos. É preciso ignorar o Código Florestal vigente e escrever algo totalmente novo.

Esse "algo novo" precisa ser suficientemente ousado para causar repulsa em bobalhões radicais das duas facções como o ambientalista Paulo Adário, do Greenpeace, e o deputado ruralista Luiz Carlos Heinze, mas, ao mesmo tempo, precisa ser capaz de atrair moderados dos dois lados. No fundo, o que precisamos é de gente moderada. Sem elas não há negociador capaz de costurar acordo.

Talvez o grande mérito da proposta do Deputado Aldo Rebelo que tramita no Congresso tenha sido escancarar aos olhos do ambientalismo maistream que há algo de errado com o Código Florestal atual. Antes dos acontecimentos que levaram ao Relatório Rebelo os ambientalistas acreditavam piamente (e muitos ainda acreditam) que o Código Florestal era a melhor lei do mundo e tudo o que faltava a ela é mais enforcement.

Há alguns meses atrás quase fui contratado por uma grande ONG ambiental. Fui entrevistado por dois dos ambientalistas mais radicais do movimento verde. A conversa iniciou com um deles me confessando que quando "eles" alteraram o Código Florestal em 1996 — o ambientalista se referiu a MP 2.166 vigente e a frase que ele usou foi "quando nós mudamos a lei em 96" —, eles já sabiam que outras mudanças seriam necessárias a posteriori, como as mudanças não vieram e o Congresso estava na eminência de mudar a lei para pior, eles queriam contratar alguém que auxiliasse a ONG a propor mecanismos que pudessem fazer o Código Florestal sair do papel.

Eles acabaram contratando outra pessoa, mas o fato é que há dentro do movimento ambiental, mesmo entre as ONGs mais radicais, pessoas que perceberam, que o Código Florestal plus enforcement não é suficiente. Esse pessoal está ainda desorientado. Muitos estão por demais acostumados e apegados ao Código Florestal para enxergarem uma alternativa. Essa turma é o exército da alternativa necessária.

Alguém precisa escrever algo que subverta o Código Florestal sem tirar dele a alma de preservação ambiental e colocando nele também a preservação da produção de alimentos. Esse alguém precisa fazer o exercício político de atrair ruralistas e ambientalistas moderados e expulsar e isolar os radicais dos dois bandos.

O que precisamos é de uma terceira via ambiental que isole os radicais e atraia os moderados. Negociadores são inúteis.

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