Caros, nessa sexta feira 13, recomendo fortemente a leitura do texto do pesquisador da Embrapa e assessor da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Décio Luiz Gazzoni, sobre o que os produtores rurais americanos acham da idéia de Reserva Legal e sobre as conseqüências da preservação da lei atual sem modificações. Leia a seguir o artigo:
E lá fora?
Passei um mau bocado tentando explicar para agricultores americanos o que era reserva legal. Foi impossível. Nenhum agricultor presente na plateia aceitava a ideia de doar 20 a 80% de sua propriedade para beneficiar a sociedade como um todo, inclusive os estrangeiros. Durante a discussão, ouvia sempre o mesmo argumento: este é um problema do governo. Ele que preserve o ambiente, em benefício da sociedade, com o dinheiro dos impostos.
Argumento irrefutável, porque nos EUA o governo aluga, por prazos longos, áreas de agricultores para que estes não plantem e deixem o solo em pousio. Do outro lado do Atlântico, recomendo a quem for à Europa olhar com cuidado a margem dos rios. Praticamente não existe mata ciliar, é uma ou outra árvore esparsa, o oposto da dura legislação brasileira. Quero deixar claro que não sou contra preservar o ambiente, nem pugno pelo desmatamento – muito antes, pelo contrário. Entretanto, acho que não é justo que produtores rurais paguem, com o seu patrimônio e a sua renda, para que todos se beneficiem. Devemos manter o conceito, mas também devemos discutir quem deve pagar a conta.
Agronegócio
A cumprir-se toda a legislação ambiental, indigenista e outras leis que regulam a posse e uso da terra, dos 851 milhões de hectares do território brasileiro 229 milhões são Unidades de conservação e áreas indígenas; 144 milhões são (ou deveriam ser) Áreas de Preservação Permanente; e 258 milhões são (ou deveriam ser) Reserva Legal. Sobram 209 milhões para a agricultura, cidades, indústrias, rodovias etc. Como em 2009 usamos de 180 Mha para pastagens e 80 Mha para a agricultura, teríamos que abrir mão de 51 Mha. Poderíamos escolher as opções: a) eliminar as culturas anuais (soja, milho, trigo, arroz, feijão); b) eliminar metade da área de cultivos anuais e todas as culturas perenes (florestas plantadas, frutas); c) reduzir um terço da produção de carne do País, o maior item individual das exportações do Brasil. Não se trataria, apenas, de cortar a produção de alimentos. Juntos iriam para o ralo alguns milhões de empregos, forçando cidadãos brasileiros a abrigar-se na periferia das cidades, muitos derivando para a criminalidade, o tráfico, a prostituição...
Décio Luiz Gazzoni é Engenheiro Agrônomo, assessor da SAE/Presidência da República.
O texto foi originalmente publicado na Jornal de Londrina e pode ser acessado clicando-se aqui.
E lá fora?
Passei um mau bocado tentando explicar para agricultores americanos o que era reserva legal. Foi impossível. Nenhum agricultor presente na plateia aceitava a ideia de doar 20 a 80% de sua propriedade para beneficiar a sociedade como um todo, inclusive os estrangeiros. Durante a discussão, ouvia sempre o mesmo argumento: este é um problema do governo. Ele que preserve o ambiente, em benefício da sociedade, com o dinheiro dos impostos.
Argumento irrefutável, porque nos EUA o governo aluga, por prazos longos, áreas de agricultores para que estes não plantem e deixem o solo em pousio. Do outro lado do Atlântico, recomendo a quem for à Europa olhar com cuidado a margem dos rios. Praticamente não existe mata ciliar, é uma ou outra árvore esparsa, o oposto da dura legislação brasileira. Quero deixar claro que não sou contra preservar o ambiente, nem pugno pelo desmatamento – muito antes, pelo contrário. Entretanto, acho que não é justo que produtores rurais paguem, com o seu patrimônio e a sua renda, para que todos se beneficiem. Devemos manter o conceito, mas também devemos discutir quem deve pagar a conta.
Agronegócio
A cumprir-se toda a legislação ambiental, indigenista e outras leis que regulam a posse e uso da terra, dos 851 milhões de hectares do território brasileiro 229 milhões são Unidades de conservação e áreas indígenas; 144 milhões são (ou deveriam ser) Áreas de Preservação Permanente; e 258 milhões são (ou deveriam ser) Reserva Legal. Sobram 209 milhões para a agricultura, cidades, indústrias, rodovias etc. Como em 2009 usamos de 180 Mha para pastagens e 80 Mha para a agricultura, teríamos que abrir mão de 51 Mha. Poderíamos escolher as opções: a) eliminar as culturas anuais (soja, milho, trigo, arroz, feijão); b) eliminar metade da área de cultivos anuais e todas as culturas perenes (florestas plantadas, frutas); c) reduzir um terço da produção de carne do País, o maior item individual das exportações do Brasil. Não se trataria, apenas, de cortar a produção de alimentos. Juntos iriam para o ralo alguns milhões de empregos, forçando cidadãos brasileiros a abrigar-se na periferia das cidades, muitos derivando para a criminalidade, o tráfico, a prostituição...
Décio Luiz Gazzoni é Engenheiro Agrônomo, assessor da SAE/Presidência da República.
O texto foi originalmente publicado na Jornal de Londrina e pode ser acessado clicando-se aqui.
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