SBCP - Sociedade Brasileira para Conservação dos Paradigmas |
Os cientistas de um paradigma só reconheçam avanços no texto aprovado pelo Senado e continuam apontando "graves problemas". De acordo com a carta a criação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), o condicionamento do crédito agrícola à regularização ambiental, a inclusão dos mangues entre as áreas de preservação permanente, as novas especificações e instrumentos legais que regulam o uso de fogo e o controle de incêndios, foram medidas que implicam em avanço no texto do Senado em relação ao texto original da Câmara. Repare que são todas elas medidas restritivas e/ou punitivas aos produtores rurais.
Os cientistas elogiam ainda o que eles chama de criação de mecanismos de apoio e incentivo à conservação e recuperação do meio ambiente. Mas não dizem palavra sobre o fato desses tais mecanismos terem entrado na proposta apenas como sugestões ao Executivo. O texto do Senado não cria incentivo nenhum. Ele apenas autoriza o Executivo a criá-los se e quando bem entender. Os "cientistas" fazem menção a esse fato em suas cartas.
Na carta os cientistas dizem ainda que as APPs devem ser todas preservadas e recuperadas incondicionalmente, mas não fazem sequer uma única sugestão sobre como solucionar o conflito entre essa preservação e a manutenção de atividades seculáres em beiras de rios como o São Francisco, por exemplo.
Já fiz um comentário aqui no blog sobre essa atitude irresponsável das academias de ciência. Não se está discutido a importância da preservação e recuperação das APPs. Qualquer imbecil sabe que as APPs são importantes. A sociedade brasileira não precisa que seus cientistas se reúnam em bandos para dizer isso. A sociedade brasileira precisa que os cientistas se esmerem em achar soluções pragmáticas para o conflito entre esse recuperação e a vida de milhares de brasileiros que vivem e produzem nas margens de rios. Mas os cientistas não oferecem solução. Eles apenas apresentam o problema e fazem birrinha batendo o pezinho do chão e fazendo beicinho igual a minha filha de 3 anos quando quer um doce.
Os cientistas sérios desse país deveriam se envergonhar dessa postura irresponsável das academias de ciência que dizem representá-los. Se as academias fossem sérias, exporiam o problema reafirmando a necessidade de se preservação e recuperar as APPs, mas também apontariam as soluções para se chegar a esse ponto sem apenas empurrar o problema para os produtores rurais. É essa postura irresponsável que vem fazendo do Código Florestal vigente uma lei que não pega a quase oitenta anos.
Todas as áreas de preservação permanente (APP) nas margens de cursos d’água e nascentes devem ser preservadas e, quando degradadas, devem ter sua vegetação integralmente restaurada. A área das APPs, que deve ser obrigatoriamente recuperada, foi reduzida em 50% no texto atual.
As academias de ciência repetem a mesma molecagem quando falam na necessidade de se compensar a Reserva Legal dentro dos imóvei ou em suas proximidades, mas não dizem como fazer isso. O próprio professor Gerd Sparovek, cujo trabalho foi amplamente utilizado pelas academias de ciência, reconhece que as microbacias são unidades demasiadamente restritas para que o mecanismo de compensação cumpra sua função.
Essas e outras irresponsabilidades são cometidas e esmerilhadas pelas duas maiores academias de "ciência" do Brasil. Peço desculpas ao leitor, mas estou no meu intervalo de almoço, preciso voltar ao trabalho e, por hora, é o que dá pra dizer sobre a mais essa carta irresponsável das academias de ciência. Tudo dando certo farei comentários mais longos logo mais a noite.
Leia na íntegra a carta:
CARTA ABERTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA (SBPC) E DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS (ABC)
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) vêm alertar para algumas das consequências que poderão resultar do projeto de lei que altera o Código Florestal (CF), na versão que será proximamente votada na Câmara dos Deputados.
A SBPC e a ABC reconhecem os avanços contidos no texto do CF na versão apresentada pelo Senado Federal, em particular o estabelecimento do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e dos mecanismos de apoio e incentivo à conservação e recuperação do meio ambiente, o condicionamento do crédito agrícola à regularização ambiental, o aumento da proteção ambiental em área urbana, a inclusão dos mangues entre as áreas de preservação permanente, a obrigação de projetos de lei específicos para cada bioma em um prazo de três anos, as novas especificações e instrumentos legais que regulam o uso de fogo e o controle de incêndios e a distinção entre disposições permanentes e transitórias no CF.
Permanecem, no entanto, graves problemas. Para que não se alegue o aval da ciência ao texto ora em fase final de deliberação no legislativo, as associações mais representativas da comunidade científica – a SBPC e a ABC - vêm novamente se manifestar e reiterar suas posições, cujas justificativas científicas já foram apresentadas ao longo de 2011, em um livro e dois documentos, acessíveis no site da SBPC (www.codigoflorestal.sbpcnet.org.br).
Todas as áreas de preservação permanente (APP) nas margens de cursos d’água e nascentes devem ser preservadas e, quando degradadas, devem ter sua vegetação integralmente restaurada. A área das APPs, que deve ser obrigatoriamente recuperada, foi reduzida em 50% no texto atual.
As APPs de margens de cursos d’água devem continuar a ser demarcadas, como foram até hoje, a partir do nível mais alto da cheia do rio. A substituição do leito maior do rio pelo leito regular para a definição das APPs torna vulneráveis amplas áreas úmidas em todo o país, particularmente, na Amazônia e no Pantanal. Essas áreas são importantes provedoras de serviços ecossistêmicos, principalmente, a proteção de nossos recursos hídricos e por isso, objeto de tratados internacionais de que o Brasil é signatário, como a Convenção de Ramsar (Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional).
Reafirmamos que os usos agrícolas praticados pelas comunidades tradicionais e por ribeirinhos devem ter tratamento diferenciado. Em particular, as áreas de pousio devem continuar , sendo reconhecidas apenas à pequena propriedade ou posse rural familiar ou de população tradicional, como foram até o presente.
As comunidades biológicas, as estruturas e as funções ecossistêmicas das APPs e das reservas legais são distintas. Não faz sentido incluir APPs no cômputo das Reservas Legais (RLs) como proposto no artigo 16 do Projeto de Lei .
A SBPC e a ABC sempre defenderam que a eventual compensação de déficit de RL fosse feita nas áreas mais próximas possíveis da propriedade, dentro do mesmo ecossistema, de preferência na mesma microbacia ou bacia hidrográfica. No entanto o projeto em tramitação torna mais ampla a possibilidade de compensação de RL no âmbito do mesmo bioma, o que não assegura a equivalência ecológica de composição, de estrutura e de função. Mantido esse dispositivo, sua regulamentação deveria exigir tal equivalência e estipular uma distância máxima da área a ser compensada, para que se mantenham os serviços ecossistêmicos regionais.
A principal motivação que justifica a RL é o uso sustentável dos recursos naturais nas áreas de menor aptidão agrícola, o que possibilita conservação da biodiversidade nativa com aproveitamento econômico, além da diversificação da produção. Por isso, na recuperação das RLs degradadas, o possível uso temporário inicial de espécies exóticas não pode se transformar em uso definitivo, como fica assegurado pelo texto atual.
A figura de áreas rurais consolidadas em APPs até a data de 22 de Julho de 2008, e a possibilidade dada no projeto de serem mantidas e regularizadas não se justificam. Desde pelo menos 2001, o desmate dessas áreas para uso alternativo do solo já estava explicitamente proibido. Essas áreas devem ser integralmente restauradas com vegetação nativa para que possam fornecer seus serviços ambientais.
Um dos pré-requisitos para o sucesso da restauração da mata ciliar é o isolamento do fator de degradação. Desse modo, recuperar a faixa marginal concomitantemente com a utilização do espaço pelo gado, como fica permitido pelo artigo 62, parágrafo 4º, 5º, 7º e 8º impede os processos de recrutamento de mudas e regeneração da vegetação.
Finalmente, como em várias outras leis, as múltiplas exceções podem desvirtuar a regra. Alguns exemplos são particularmente notáveis. Embora os mangues estejam protegidos no texto do Senado, a permissão de exploração de 35% dos mangues fora da Amazônia (além dos que já estariam em áreas ditas “consolidadas”) e 10% na Amazônia são preocupantes pois os mangues, entre outros serviços importantíssimos, são essenciais na reprodução de várias espécies de peixes de uso comercial.
Outra exceção à proteção dos mangues se refere aqueles cuja função ecológica estiver comprometida. Nesse caso (art.8º, parágrafo 2º), autorizam-se obras habitacionais e de urbanização, inseridas em projetos de regularização fundiária de interesse social, em áreas urbanas consolidadas ocupadas por população de baixa renda. Se a função ecológica do manguezal estiver comprometida, ela deve ser recuperada, uma vez que grande parte dos manguezais contaminados tem elevados índices de metais pesados e petróleo. Manter populações de baixa renda nesses locais seria imoral.
Outras exceções dizem respeito à obrigação de restaurar. O tratamento diferenciado de poder restaurar extensão menor de APPs deveria ser restrito à agricultura familiar. Em vista disto deveriam ser suprimidos os parágrafos 4º, 7º e 8º do artigo 62 do texto aprovado no Senado Federal.
Dadas as regras de tramitação de Projetos de Lei no Congresso Nacional, a maioria dos problemas apontados não vai poder mais ser corrigida no âmbito do Legislativo. São exceção uns poucos dispositivos para os quais uma supressão ainda é viável. Entre eles estão o artigo 16, o parágrafo 7º do artigo 13, os três parágrafos 4º, 7º e 8º do artigo 62 mencionados acima, e o parágrafo 3º do art.68 que diz respeito às espécies exóticas na recuperação das reservas legais. Maiores detalhes se encontram na Tabela anexada a este documento.
A reforma do Código Florestal Brasileiro, tal como vem sendo processada no Congresso, sob a influência de grupos de pressão setoriais, representa a desregulação do setor do agronegócio com sérios riscos para o meio ambiente e para a própria produção agrícola. A proteção de áreas naturais está sendo consideravelmente diminuída e perde-se assim a oportunidade de produzir alimentos com mais eficiência e com sustentabilidade ambiental, o que deveria ser o grande diferencial da agricultura brasileira.
Comentários
Isso desanima. E o pior é que não vejo gente de dentro da academia desautorizando esses pseudocientistas.
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