Entenda o esquema dos grandes frigoríficos para controlar o mercado brasileiro de carne

Os preços da carne bovina dispararam no mercado atacadista nas últimas semanas, mas o aumento não está sendo acompanhado por melhora nos preços pagos pelo boi gordo uma vez que diferença vem engordando as margens dos frigoríficos. A situação esdruxula em que os supermercados pagam mais pela carne, mas o produtor não recebe mais pelo boi beneficia não apenas os grandes grupos como JBS, Marfrig e Minerva, mas também pequenos e médios abatedouros.

Os preços do traseiro bovino com osso comprados pelos supermercados, por exemplo, subiram mais de 24% desde o início de agosto. No mesmo período, o preço de referência para o boi gordo recuou 0,9%, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Por outro lado, a margem de comercialização de carne com osso, couro e outros derivados absorvida pelos frigoríficos aumentou 21% entre o final de julho e a última segunda-feira, de acordo com índice da Scot Consultoria.

A explicação para o aumento da parcela abocanhada pelos frigoríficos entre o preço pago ao produtor e o valor recebido do varejo, agora chamado de "spread" para amenizar, está na redução dos abates em diversas unidades industriais nos últimos meses.

Numa contagem publicada pela Agência Reuters, das 281 unidades frigoríficas existentes no país com inspeção federal, 58 fecharam as portas entre 2015 e 2016. Também há unidades iniciando férias coletivas ou realizando abates em dias intercalados.

Veja esta matéria do Estadão Conteúdo publicada em 14 de agosto de 2015: JBS, Marfrig e Minerva fecharam 13 frigoríficos em 2015

Os grandes frigos estão fechando plantas e reduzindo abates e os preços do boi gordo não acompanharam a alta da carne em função da menor demanda da indústria. Na verdade os grandes frigoríficos estão regulando o mercado de carne em benefício dos seus lucros, ou margens, ou spread, escolha um eufemismo. Consumidores pagarão mais pela carne e produtores já estão recebendo menos pela @.

O gerente de Inteligência de Mercado da Minerva Foods, Leonardo Alencar, que não é bobo, diz que uma "boa fatia" dos reajustes deverá ficar com os supermercados. "Talvez o varejo não consiga repassar isso para o consumidor final", disse ele a Reuters.

O diretor técnico da IEG FNP, José Vicente Ferraz, vai na mesma linha. Ferraz acha que há pouco espaço para o consumidor final absorver aumento de preços na carne bovina, em meio ao cenário de inflação alta, desemprego e endividamento das famílias e diz que que o maior braço de ferro será entre indústria e varejo.

Este blogger desconfia, mas não pode afirma que Alencar e Ferraz dizem essas coisas por má fé. Este blogger tem, porém, a convicção de que Alencar e Ferraz estão completamente enganados.

Assim como os frigoríficos não absorveram margens ruins, os supermercados também não absorverão. O pecuarista terá dificuldades cada vez maiores para vender seus bois e receberá menos pela arroba enquanto o consumidor pagará mais pela carne até o mercado estabilizar no longo prazo em níveis de consumo menores e preços maiores.

É a economia...!! Agentes econômicos fortes, como a industria e o varejo, que operam em mercados distorcidos (que não sejam de concorrência perfeita) não absorvem margens ruins.

O mercado de carne brasileiro precisa de regulação. A questão é: Quem, além deste pequeno e insignificante blogger, terá sangue-nos-olhos para enfrentar os grandes frigos???

Leia também: no O Globo de hoje: Opep alcança acordo para limitar produção de petróleo

Comentários

Unknown disse…
No MS ouvi de um animado comprador de frigorífico que agora as coisas irão funcionar, que pela primeira vez, puxados pelo JBS, os frigoríficos estão acertando volumes para ajustar o mercado.
os gestores de empresas em um mercado oligopsônico estão buscando um acordo visando controlar a domanda por matéria prima.
Deixe o CADE saber disso.
Nos EUA estaríam todos na cadeia.
Aliás, estimulo os gestores do JBS fazerem a mesma coisa no mercado americano. Lá é bem mais fácil, acreditem.