Uma vez me contaram a história dos três cegos tentando explicar como era um elefante apenas pelo tato. O primeiro cego tocou a tromba e disse que o elevante parecia uma cobra, o segundo cego tocou a barriga e disse que o elefante parecia uma bola, o terceiro cego tocou a perna do elefante e achou que parecia uma parede. Elefante não parece muito com cobra, nem com bola e muito menos com uma parede.
Daniel Dias, um dos blogueiros do Canal Rural, publicou um post defendendo o fim da mobilização do agro contra o preconceito do samba enredo da Imperatriz Leopoldinense. Segundo Dias, o Carnaval não significa nada e a mobilização do agro está dando Ibope para a Imperatriz. Na opinião do blogueiro do Canal Rural, o agro deveria parar de falar da Imperatriz e começar a falar bem de si mesmo.
Eu, que tenho opinião como todo mundo, acho que Daniel Dias está agarrado no rabo do elefante achando que é um espanador.
A atitude da Imperatriz Leopoldinense de criticar o agro com base em preconceitos desencadeou a maior mobilização do setor que eu já tive a oportunidade de ver. Nem na disputa pelo Código Florestal houve uma mobilização espontânea tão grande e tão convergente.
Também nos fez perceber que o setor pode ter força e ser relevante nas redes sociais sob certas circunstâncias. Esse sempre foi um campo de batalhas perdidas para nós. Não é mais.
Além disso, como as críticas da escola de samba em relação ao agro são preconceituosas, temos finalmente a chance de engatar um debate sobre defensivos agrícolas e até mesmo sobre a formação social e territorial do Brasil com chance de convencer o brasileiro urbano das nossas versões. As oportunidades (e os riscos) que estão à nossa frente são gigantescos.
Estamos dando Ibope para a Imperatriz? Estamos. Alguém vai lembrar os enredos do Carnaval na Semana Santa? Não. Mas isso não significa que seja boa ideia jogar na lata do lixo a oportunidade de mostrar para os nossos produtores rurais o quão fortes eles podem ser quando se unem.
Eu lembro até hoje das raivas que passei com o Dominó empacado e do trabalho que tive curando bicheira de orelha de vaca mordida pelo Paraguai. Senti hoje uma raiva parecida quando vi o blogueiro do Canal Rural jogando água fria no mais belo, significativo e promissor movimento de mobilização do agro dos últimos anos.
Daniel Dias diz que o agro deveria falar bem de si mesmo. Falar bem de si mesmo para quem, Daniel Dias?
Comunicação não é algo que se faz só. Comunicação precisa de uma mensagem, de um emissor e de um receptor. Você fala para alguém que ouve. O bizout da comunicação não é falar. O bizout da comunicação é fazer o outro ouvir.
A primeira coisa que você precisa fazer para que alguém te ouça é chamar a atenção dela. Depois você precisa de uma mensagem plausível. Por fim, você precisa dizer a mensagem.
A Imperatriz Leopoldinense nos deu as duas primeiras e tem gente achando que nós não devemos fazer a terceira.
Em tempo, Quem acompanha meu blog sabe que eu perco o amigo, mas não perco a piada. Aliás, a minha opinião também representa 1/4 do focinho do Paraguai que era um boxer.
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