
Outros 17 fornos foram destruídos numa propriedade particular próxima. Eles eram abastecidos por madeira retirada pelos assentados. As carvoarias não tinham licença para operar e não tinham como provar a natureza legal da madeira nativa. A operação marcou um novo estilo de tratar os desmatamentos em áreas de reforma agrária. Os agentes ambientais não vão mais punir os assentamentos ou o próprio Incra. As multas vão direto para os assentados. Em caso de flagrante, correm o risco de exclusão definitiva dos programas de reforma agrária.
"Acabou a história de o Ibama autuar o Incra. Agora vamos autuar quem cometeu o crime, e o Incra abre processo para que o criminoso perca sua parcela de terra", explicou Luciano Evaristo, diretor de Proteção Ambiental do Ibama. Desde que resolveu se aliar à agricultura familiar contra os grandes agropecuaristas na guerra contra mudanças no Código Florestal, Minc mudou o tom em relação aos assentamentos. Ele alega que os novos projetos do Incra são mais ecológicos. A principal crítica do ministro à velha fórmula é que, quando o assentado cumpria a legislação e preservava uma percentagem de sua terra, essa reserva legal não se comunicava com a mantida pelo assentado vizinho. Assim, formavam-se os chamados tabuleiros de xadrez, com pequenas áreas de vegetação nativa em meio à devastação.
"Os antigos assentamentos eram detonadores do meio ambiente. Então, fizemos um acordo com o Incra para recuperar, na forma de corredor contínuo, áreas que foram destruídas no passado", disse Minc, que nesta sexta voltou a defender a descriminalização da maconha.
Na operação desta sexta-feira, além da derrubada dos fornos, o Ibama apreendeu um trator. Cerca de 58 mil metros lineares de madeira nativa do cerrado foram doados para que o Incra delimite as reservas legais de 16 assentamentos nos arredores de Goiânia. O carvão era vendido para carvoarias legais que vendem o produto ilegal para siderúrgicas do Centro-Oeste. "O Ibama esperava destruir 300 fornos na região", decpcionou-se o chefe da operação.
O produtor Joaquim Pereira, que ganhava em torno de R$ 1.000 com a atividade, disse que não há outro trabalho para fazer ali, onde as fazendas são, em sua maioria, de gado de corte. Ele e Francisco Botelho arrendaram parte de uma fazenda e montaram quase duas dezenas de fornos. O primeiro foi multado em R$ 4.500 e o segundo, em R$ 4.000. Caso deixem de quitar a dívida, não conseguirão financiamentos. "O governo devia trocar a derrubada do carvão por um emprego. Antes de derrubar deviam dar uma solução pra gente", reclamou Joaquim.
Carvoeiros alegam que não sabiam da possibilidade de receber R$ 200 por mês para plantar mudas de árvores nativas para a recuperação de áreas degradadas, como anunciava Minc aos jornalistas durante a operação. O programa, intitulado Bolsa Floresta, ainda não chegou no interior de Goiás. "Nunca vieram me instruir. Com o pobre acontece de tudo. Seja o que Deus quiser", disse o assentado Joverson Souza.
Fonte: O Globo
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Em tempo, seja o que deus quiser.
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