Fundamentalismo ambiental

Políticos de Lábrea, no Amazonas, com o apoio de populares e outras autoridades do Estado, impediram na quarta-feira (10) que a equipe de fiscalização do Instituto Chico Mendes desse sequência à Operação Matrinxã.

A movimentação popular teve início às 7h e ocupou a área em frente ao hotel onde se hospedam os servidores do Instituto Chico Mendes. Com carro de som em alto volume e faixas com apelo de "paz", membros do poder público municipal e a população local protestaram contra os servidores do ICMBio, que residem do outro lado da rua em frente ao hotel e trabalham na Resex Médio Purus.

Durante todo o dia, os fiscais ficaram isolados dentro do hotel, com policiamento na porta, enquanto os representantes do movimento discursavam ao microfone convocando a população de Lábrea para se unir contra "a ação arbitrária da fiscalização". Segundo os manifestantes os fiscais estavam "invadindo as casas, agredindo e humilhando as pessoas" e que eles mobilizariam o Poder Público estadual para neutralizar o fundamentalismo ambiental do ICMBio no município.

A secretária estadual de Meio Ambiente do Amazônas, Nádia Ferreira, chegou ao local acompanhada do Dep. estadual Adjuto Afonso e se dirigiram, junto com o comandante de Polícia, o presidente do Instituto de Pesquisas Ambientais do Amazonas e outros membros do poder público à casa de uma servidora do ICMBio e solicitaram uma reunião para discutir a operação. A servidora se recusou a participar da reunião.

Com o clima cada vez mais tenso e sob proteção policial, os servidores do ICMBio foram escoltados pela população de Lábrea até o aeroporto e expulsos da Amazônia. A assessora de comunicação do Dep. Afonso me informou ontem que a Assembléia Legislativa do Amazônas aprovou por unanimidade uma moção de repúdio à atuação do ICMBio na região.

Em tempo, o fundamentalismo ambiental do Ministério do Meio Ambiente não se importa com o povo da Amazônia. As economias locais são fortemente dependentes de atividades predatórias e as operações do Ibama e ICMBio, ao combaterem essas atividades, deixam as economias locais destruídas e a população sem renda ou emprego. As alternativas sustentáveis são quiméricas. O Ibama e o ICMBio estão se tornando as instituições mais odiadas da Amazônia. A mídia do sul urbano, entorpecida com a simplificação do problema como uma briga de destruidores da Amazônia contra salvadores incansáveis do meio ambiente, não enxerga a gravidade da situação. A Amazônia está se tornando um barril de pólvora.

Para saber mais:
Tese de doutorado da Professora Nazira Correia Camely;

Brasil se pinta de verde com a miséria da Amazônia;

Ambientalismo e Humanismo: o antagonismo insuspeito

Crime perfeito II

Comentários

#1 disse…
Caro Ciro Siqueira, me chamo Rosinaldo e participei ativamente dos fatos narrados acima e gostaria de fazer alguns comentários.
Primeiro parabéns pela apresentação dos fatos ocorridos em Lábrea na última quarta (10), porque ao pesquisar como os sites haviam apresentado os fatos e ao ver fiquei horrorizado;
Primeiro, porque mostravam como se fosse uma ação do poder público local, o que não foi, foi sim uma ação das associações envolvidas no setor e diretamente afetadas (pequenos madeireiros, pequenos moveleiros, pescadores, trabalhadores rurais, dentre outros)contando sim com o apoio do poder público municipal que conhece e vive a realidade do município; Segundo porque nos mostravam como vândalos,depredadores e bandidos que haviam paralisado a operação matrinxã e estavam ameaçando os fiscais, se os fiscais paralisaram a operação foi porque quiseram e não que alguém os impedisse de o fazê-lo ou será se manifestação pacífica e ordeira é ameaçã? Se ficaram trancados o dia inteiro no hotel e com policiais a porta também foi porque assim preferiram, porque a população lá reunida não estava pra bater, socar ou chutar e sim para "brigar" por seus direitos de trabalho, habitação a subsistência, ou imaginemos - um grupo de 20 policiais segura 500 pessoas? O grupo aí reunido nada fez com nenhum dos servidores do ICMBio no município porque não era esse seu objetivo e sim a resolução de seus problemas.
E corrigindo uma informação o presidente do INPA (Instituto de Pesquisas Ambientais do Amazonas) não fazia parte da comitiva do estado que aqui esteve e sim o presidente do IPAAM (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas)órgão regulador no estado.
E no fim de tudo OBRIGADO, você percebe a realidade que sofre e padece o homem do inteior lutando pela sua sobrevivência.
Ajuricaba disse…
Caro Naldo,

Agradeço seu comentário. Caso você tenha alguma foto da manifestação, por gentileza, me envie. Fotos causam mais impacto nas pessoas do que palavras.

Abs,
Ciro Siqueira