Código Florestal e o ambientalismo da fome de Marina Silva

Unidos contra a agricultura, pela fome.
Foto: de Fábio Pozzebom / ABr
No dia em que Marina Silva empresta sua imagem de Madre Teresa da florestal para as ONGs internacionais lençarem, em Brasilia, mais um comitê contra a reforma do Código Florestal, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) lançou o relatório The State of Food Insecurity in the World 2011 (Clique no link para fazer o dowloado do documento completo em, inglês, ou aqui para ler o briefing, em português).

Segundo a FAO, "as oscilações nos preços dos alimentos devem continuar e os preços devem seguir em alta, afetando gravemente agricultores e consumidores dos países pobres." De acordo com o relatório, "países pequenos e dependentes de importações, principalmente na África, estão entre os mais ameaçados. Muitos ainda enfrentam dificuldades em decorrência das crises alimentar (entre 2006 e 2008) e econômica (2008). Essas crises, incluindo a do Chifre da África, “desafiam nossos esforços para atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) de reduzir o número de pessoas que passam fome pela metade até 2015”, aponta o prefácio do relatório, assinado pelos diretores das três organizações, Jacques Diouf (FAO), Kanayo Nwanze (FIDA) e Josette Sheeran (PMA).

Ainda no prefácio, os três diretores das agências advertem: “Mesmo se atingirmos as metas do milênio até 2015, 600 milhões de pessoas ainda sofrerão por causa da fome. Assistir 600 milhões de pessoas passando fome regularmente é inadmissível. Toda a comunidade internacional deve agir com urgência e energia para banir a insegurança alimentar do planeta”. Diouf, Nwanze e Sheeran continuam: “Os governos devem garantir um ambiente regulatório transparente e confiável que promova o investimento privado e o aumento da produtividade agrícola. ”.

O foco do relatório das três agências da ONU em 2011 é a volatilidade e o aumento dos preços dos alimentos, apontados como grandes responsáveis pela insegurança alimentar em nível mundial e motivo de grande preocupação para a comunidade internacional. “A demanda dos consumidores das economias que crescem em ritmo acelerado vai aumentar, a população continuará a crescer e um maior uso dos biocombustíveis irá aumentar ainda mais a pressão sobre o sistema alimentar”, alerta o estudo.

Pequenos agricultores e consumidores pobres

O levantamento mostra que a volatilidade nos preços deixa pequenos agricultores e consumidores pobres cada vez mais vulneráveis, ao mesmo tempo em que mudanças bruscas de preço afetam o desenvolvimento dos países a longo prazo. Alterações na renda, causada pelas oscilações, reduzem o consumo de alimentos. Crianças deixam de ingerir nutrientes essenciais nos primeiros mil dias de vida, o que compromete sua capacidade produtiva no futuro. O impacto negativo afeta a estrutura de economias inteiras.

Segundo o relatório, a volatilidade nos preços dos alimentos afeta países, agricultores e consumidores de maneira diferente. Os pobres são os mais expostos, sobretudo na África, onde o número de desnutridos aumentou 8% entre 2007 e 2008, enquanto na Ásia continuou praticamente inalterado.

Investimentos a longo prazo

A ONU destaca que a alta dos preços dos alimentos é, no entanto, uma oportunidade para economias mais ricas aumentar os investimentos de longo prazo no setor agrícola e fortalecer a segurança alimentar. Quando agricultores aumentam a produção para reagir à alta dos preços, é essencial apoiar o pequeno produtor, o maior responsável pela produção de alimentos em muitas regiões do mundo em desenvolvimento.

O relatório ressalta que o investimento agrícola ainda é a melhor maneira para garantir a segurança alimentar sustentável a longo prazo. São necessários aportes em sistemas de irrigação rentáveis, gestão dos solos e pesquisa agrícola para o desenvolvimento de sementes de melhor qualidade. Essas medidas atenuam o impacto da volatilidade dos preços e diminuem os riscos para o pequeno agricultor.

Investimento privado

A ONU avalia que a iniciativa privada, representada por milhões de fazendeiros e produtores rurais, pode ser a base dos investimentos agrícolas. Preços elevados são uma oportunidade para investimentos em toda a cadeia agrícola. É importante que investidores respeitem os direitos dos agricultores que já trabalham nas áreas, considerem os recursos naturais e beneficiem as comunidades locais. Além disso, devem promover a segurança alimentar e a sustentabilidade ambiental, contribuindo para adaptar a produção agrícola às mudanças climáticas, permitindo assim mitigar seus efeitos.

O relatório conclui que o aumento de investimentos, de medidas de prevenção e da abertura ao comércio são estratégias mais eficazes do que restrições à exportação. Medidas de restrição ao comércio mundial podem proteger o mercado interno das oscilações dos preços internacionais, mas deixam a produção doméstica suscetível a choques na produção, além não impedir a volatilidade no mercado interno. Também aumentam o risco de novas altas e oscilações nos mercados internacionais.

Segundo a FAO, o número de famintos no mundo permanece o mesmo: 925 milhões de pessoas. A metodologia de cálculo do órgão está sendo revisada. Novas estimativas serão divulgadas em 2012.

O que Marina Silva a ver tem com isso?

Marina Silva está em guerra declarada contra as mudanças no Código Florestal. Os ambientalistas vem se esforçando para mostrar à sociedade que as mudanças na lei são uma tentativa de conseguir mais áreas para produção, de desmatar mais, para plantar mais. Mas isso é uma mentira.

"Se for preciso arrancar plantações para recompor florestas, isso será feito." Essa frase foi dita pelo ambientalista João de Deus Medeiros ao Estadão. Medeiros, que é um dos Diretores do Ministério do Meio Ambiente, se refere à área dos imóveis rurais que deveriam estar cobertas com floresta, mas que foram irregularmente agricultadas e hoje produzem alimentos. O Código Florestal exige que essas áreas agrícolas sejam destruídas em nome da adequação das propriedades à lei. Um trabalho feito pelo professor Gerd Spavorek, da Esalq, estima que haja no Brasil 47 milhões de hectares de áreas agrícolas nessa situação.

Enquanto a FAO alerta para a iminência de uma foma jamais vista sobre a face da terra, Marina Silva se empenha para destruir parte da área agrícola brasileira.

Leia mais sobre o lançamento do relatório da FAO no Huffington Post: World Food Prices Likely To Remain Volatile And High, Says UN, no Business Insider: UN: Here's Why We're Terrified Of Another Global Food Crisis

Comentários

Cássio Marcon disse…
Ciro,

Essa questão da fome não cola não.

Todos sabem que as causas da fome são políticas.

Há produção de mais alimento do que os seres humanos seriam capazes de comer.

Quem controla a terra, a água e as sementes usadas na produção de comida??

A quem beneficiam as políticas agrícolas e alimentares?

A quem beneficia o alto preço da comida???

A áfrica é um continente que exporta comida.

Nós aqui, produzimos milhares de ha de soja e cana.

Nós não comemos toda a soja que plantamos.

O problema da fome é a concentração de terras. O monopólio das sementes. O problema da fome são os monocultivos usados para a alimentação animal. O problema da fome não é o cultivo em APPs.
Cássio Marcon disse…
Entre os principais produtos de exportação da somália estão gado, peixe e banana.

Quem lucra com a fome?
Ajuricaba disse…
Tu queres dizer o que como isso, sábio biólogo?

Que o país que tem mais de 60% da sua área ocupada com vegetação natural, deve destruir 47 milhões de hectares de áreas agrícolas?

Que a FAO está errada em alertar para a necessidade de reduzir o preço dos alimentos por ajustes na oferta?

Tu sabes que direção tem uma curva de oferta?
Cássio:

essa questão de falta de energia também não cola, não é? Não falte quantidade, mas distribuição; e essa questão de falta de renda também não cola, não é? Não falta renda neste Brasil, falta é distribuição justa.

Ora, eu até que estou parcialmente de acordo com isso.

MAS:

-- se formos condicionar a chegada de energia aos que mais precisam a essa tal distribuição, os bisnetos dos bisnetos deles talvez cheguem a ter luiz. Se quisermos que os pobres de hoje tenham luiz, teremos que primeiro entregar eletricidade de sobra à indústria, para que faça muitos dólares, a economia vá bem, e então sobre eletricidade para mandar aos pobres. Isso é assim em todo o lugar desenvolvido que existe. Até na União Soviética era assim.

-- Se formos condicionar a chegada de renda aos mais pobres à distribuição, veremos muitos morrerem antes de conseguirmos alguma coisa. Os russos viram muitos morrerem PARA conseguirem distribuição; e depois de quase um século de a terem conseguido, muitos continuaram pobres. Portanto, infelizmente, crescimento econômico ainda é a receita.

-- O mesmo vale para o alimento. Se a oferta de arroz cair pela metade HOJE, o preço dobrará ou mais que dobrará, e um número correspondente de asiáticos passará fome. No curto prazo, não há outro remédio senão oferta.

-- O que não significa que não deve haver política de eficiência no uso da energia e dos alimentos.

-- O que você, Cássio, tem feito para diminuir o desperdício de alimentos?
SENHOR CÁSSIO,

ENTENDA QUE SE PERMITIRMOS QUE AS ONGS AMBIENTAIS NOS DITEM O QUE DEVEMOS FAZER, INCLUSIVE INFLUENCIANDO NA CRIAÇAO DE LEIS PARA AMARRAREM TERRAS, FUTURAMENTE TEREMOS ESCASSEZ DE TERRAS PARA A AGROPECUÁRIA, AINDA QUE NO MOMENTO NÃO TEMOS ESTE PROBLEMA.

ASSIM QUE AS TERRAS FOREM BLOQUEADAS, AS QUE ESTÃO AGORA DISPONÍVEIS, SERÃO RAPIDAMENTE UTILIZADAS, DAÍ PARA FRENTE É QUE SOFREREMOS CONSEQUÊNCIAS POR NÃO TERMOS TIDO CORAGEM DE EXPULSAR ESTAS ONGS. MALDITAS.

TEMOS DE AGIR RAPIDAMENTE PARA IMPEDI-LAS QUE INFLUENCIEM NAS DECISÕES BRASILEIRAS, POIS PELO QUE PERCEBI, ELAS ESTÃO CADA VEZ MAIS INFLUENCIANDO A MASSA E ATÉ MUITOS AMBIENTALISTAS, CIENTISTAS, ETC.

O QUE QUEREM É TERRA!
Cássio Marcon disse…
Petterson,

Essa histórinha de fazer o bolo crescer para depois distribuir já não é verdade desde o período de desenvolvimentismo que ocorreu depois da segunda guerra.

A distribuição não é consequência obrigatória do crescimento.

Ainda mais no Brasil, com sua histórica concentração de poder, terras e dinheiro.

Crescimento econômico não é a receita.

Não é mesmo!!!

Reduzir as áreas de Reserva Legal e App não é a receita.

osenhortodopoderoso, o problema não é a quantidade de terra, mas o que nós fazemos com ela.

Sabes a quantidade de pastos degradados? De áreas não produtivas?? De pastagens subutilizadas???

Produzir para alimentar o gado nos EUA e na Europa não é produzir alimentos para matar a fome na África.

Não sou comunista! O comunismo não é o modelo de desenvolvimento a seguir.

Mas um modelo pedratório e minerador do solo como o que temos na agricultura e pecurária nacional também não é!!