Uma sugestão ao PSD: O Brasil precisa de alternativa na área ambiental

E se eles estiverem errados?
Foto: Laenulfean
A turma dos fundamentalistas de meio ambiente precisa de um contra ponto a altura. O ambientalismo ongueiro possuiu a bandeira do meio ambiente no Brasil e vem falando sozinho desde os primórdios do movimento ambiental. São as mesmas pessoas, as mesmas cabeças, as mesmas soluções, as mesmas propostas e o mesmo insucesso. O tema do meio ambiente no Brasil só tem um discurso. Mas pode ter outro. Alguém precisa ter a coragem e a sabedoria de apontar a ineficácia dessa quadrilha que se apoderou da verdade sobre meio ambiente no Brasil. Sugiro que o PSD, um novo partido político, cujo cerne ainda germina, ocupe essa lacuna.

Algumas décadas atrás a questão ambiental não existia. As sociedades não percebiam razões para mudar seu comportamento em nome do meio ambiente. Entretanto, quando problemas ambientais começaram a afetar o cotidiano das pessoas, o tema meio ambiente começou a ser inserido nas decisões. Esse processo vem se acelerando. Quando mais evidente os problemas ambientais, mais pressão faz a sociedade para que os governos encontrem soluções.

No início, quando os problemas ambientais começaram a se evidenciar, houve duas correntes distintas de pensamento acadêmico que tentaram incluir a variável ambiental entre suas ponderações corriqueiras. Houve um movimento que partiu da Ecologia tentando incorporar conceitos da Economia para construir políticas públicas voltadas para a proteção ambiental. Esse movimento é conhecido como Economia Ecológica. Em geral é formado por gente com formação em ciências biológicas com profundas preocupações ambientais, mas sem ferramentas eficazes para solução de problemas práticos. Fundamenta seu pensamento em teóricos como Ignancy Sachs, Fritjof Capra, Leonardo Boff, entre outros. São pessoas mais radicais e pouco pragmáticas.

Esse tipo de ambientalismo grassa no Brasil. É o ambientalismo do Carlos Minc, da Mary Alegretti, do João Paulo Capobianco, do André Lima, do Tasso Azevedo e de toda aquela turma de ex ongueiros que se acoberta na penumbra da sombra da Marina Silva. Mas esse ambientalismo não é o fim da história. Há uma alternativa teórica, que no Brasil foi completamente engolida pela Economia Ecológica, mas que tem potencial teórico e prático para se impôr como alternativa a esse nosso ambientalismo corriqueiro.

Além da economia ecológica houve ainda um movimento de economistas que tentou incorporar a questão ambiental como variável de estudo. Esse movimento é conhecido fora do Brasil como environmental economics ou Economia Ambiental. Em geral é formado por gente com formação em economia, com preocupações ambientais sérias e ferramentas pragmáticas para solução de problemas ambientais. Fundamenta seus conceitos em teóricos como Cecil Pigou, Nicholas Geogerscu-Roegen e David Pearce. São pessoas mais ponderadas, mas irritantemente pragmáticas.

Todos as políticas de gestão ambiental do mundo que funcionaram, ou que tem potencial para funcionar, mesmo algumas defendidas por economistas-ecológicos, saíram da economia ambiental. O princípio do poluidor-pagador é ferramenta da economia ambiental. O princípio do provedor-recebedor é ferramenta da economia ambiental. Todas as ferramentas de pagamento por serviços ambientais do mundo nasceram da economia ambiental. O REDD, os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kioto, são políticas fundamentadas na economia ambiental.

Minha sugestão é que o PSD tenha a coragem de oferecer à sociedade brasileira a economia ambiental como alternativa ao ambientalismo sonhático da Marina Silva.

Não será um mar de rosas. A escola, como qualquer escola de pensamente, tem problemas e coisas impopulares como, por exemplo, o problema do desconto futuro que não deixa alternativas ao tratamento diferenciado entre gerações diferentes, os problemas teóricos e práticos para a transformação das teses de Geogerscu-Roegen em políticas públicas, etc. Será preciso equacionar essas impopularidades. Mas, por outro lado, a escola tem potencial para ser uma alternativa viável ao samba de uma nota do ambientalismo marineiro.

Sugiro aos dirigentes do PSD que procurem se informar sobre economia ambiental e avaliem a possibilidade de dotar o partido das ferramentas dessa corrente de pensamento e posicioná-lo também como alternativa política no cenário ambiental nacional.

No Brasil são pouquíssimos os teóricos que podem auxiliá-los nessa tarefa. Eu só conheço dois. O professor Jorge Madeira Nogueira, da Universidade de Brasília, e o pesquisador José Eustáquio Reis, do Ipea, e, talvez, Sergio Margulis, que já foi pesquisador do Ipea e hoje trabalha do Banco Mundial. Há muita gente nos EUA e Inglaterra, mas é preciso escolhê-los a dedo. Não ouçam mais ninguém no Brasil sobre isso além dos dois nomes que já citei no início desse parágrafo. Mesmo pesquisadores como Ronaldo Serôa da Mota e Caros Eduardo Young, do Ipea, que foram pupilos de David Pearce, um dos teóricos da Economia Ambiental, têm o pensamento contaminado com os sonhatismos da Economia Ecológica.

Sorte ao novo partido.


Comentários

Ciro, estou totalmente de acordo com que a turma da economia ecológica está 100% contaminada pelo ambientalismo marinista e ongueiro. Mas não acho que a economia ecológica, como paradigma teórico, seja inadequada. As idéias de Herman Daly, que é talvez o grande pai da economia ecológica, são claramente superiores às de Pigou, que nem sequer tinham a intenção de ser aplicadas ao meio ambiente.

O problema não é o paradigma teórico. Repito, o padadigma da economia ecológico é superior ao da economia ambiental. A questão são os economistas ecológicos. Ao contrário dos economistas ambientais, eles são pouco aplicados e muito abstratos; gostam de teoria, mas não gostam de colocar a mão na massa e fazer contas. Com isso, ficam refinando e refinando a teoria, repetindo o mantra de Georgescu (que foi muito mais apropriado pela economia ecológica do que pela ambiental) e de Daly, mas não aplicam isso à realidade concreta.

Se o paradigma da economia ecológica for aplicado corretamente ao tema do código florestal as conclusões serão basicamente as mesmas a que eu e você chegamos.

Infelizmente, a maior parte dos acadêmicos é incapaz de usar o cérebro para questões substantivas. Soa estranho dizer isto, mas é verdade. São muito bons para repetir teorias, questionar a sua consistência interna, criticá-las do ponto de vista da sua mecânica interna, mas são incapazes de transplantá-las à realidade.

Eu estudei bastante a fundo a economia ecológica, e sei do que estou falando. Pretendo, inclusive, assim que sobrar tempo, escrever um artigo aplicando as idéias da ecoeco ao debate do código florestal. O objetivo será mostrar que esse pessoal não está sendo capaz de colocar a teoria em prática. Estão repetindo a teoria por um lado, e aplicando os seus preconceitos à realidade, por outro.

Abraço
Ajuricaba disse…
Petterson,

Eu discordo de você nesse ponto, meu caro. Não creio que o ferramental teórico da Eco-Eco seja melhor do que o da Economia Ambiental. No mestrado tínhamos um piada pra isso: O que há de novo na Economia Ecológica não é bom e o que é bom não é novo.

Era uma brincadeira para o fato de que o que tem de bom na Eco-eco veio da economia ambiental.

Em todo caso, minha intenção com esse post foi criar as bases para uma alternativa ao marinismo no campo polítíco. Uma vez que eles abraçaram (e esculhambaram) a eco-eco, a alternativa é a economia ambiental.
Como Nasce um Paradigma??

Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro
puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas.
Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas
lançavam um jacto de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo
tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancada.
Passado mais algum tempo, mais nenhum macaco subia a escada, apesar da
tentação das bananas. Então, os cientistas substituíram um dos cinco
macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo
rapidamente retirado pelos outros, que lhe bateram.
Depois de alguma surras, o novo integrante do grupo não subia mais a escada.
Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto
participado, com entusiasmo, na surra ao novato. Um terceiro foi trocado, e
repetiu-se o facto. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi
substituído.
Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca
tendo tomado um banho frio, continuavam a bater naquele que tentasse chegar
às bananas.
Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse
subir a escada, com certeza a resposta seria: "Não sei, as coisas sempre
foram assim por aqui..."
Não devem perder a oportunidade de passar esta história para os vossos amigos,
para que, de vez em quando, se questionem porque fazem algumas coisas sem
pensar ...
Luiz Prado disse…
Trabalhei com Herman Daly, com Robert Goodland e outros. E também fiz estágio na Autoridade de Águas do Ruhr. A economia ambiental foi importante MUITO antes deles, e os estudos nessa área estão sumarizados por K. William Kapp em Social Costs of Business Enterprises, no qual são citados estudos realizados desde o início do século XX. Mas definitivamente, não é por aí! E não tem nada a ver com capitalismo. Quem resolveu os problemas ambientais não foram os economistas. Ao contrário, eles tenderam a desprezar os trabalhos no mundo real, emcampo - feitos por engenheiros de diversas formações, geólogos, químicos, e até por políticos de visão. A recuperação do Ruhr e dos rios na Alemanha não se dá por razões de "economia ambiental" - nem vagamente -, assim como a criação de Yellowstone tampouco. Petterson está certo quando ressalta que essa turma acadêmica não consegue colocar a teoria em prática. Vou além: não consegue e nem se interessa por fazê-lo. Economia é UMA dimensão da coisa, que envolve um número bem maior de especialidades. As técnicas de conservação dos solos não terima sequer arranhado a superfície da agronomia se o assunto fosse deixado exclusivamente aos economitas.