Queda na receita de ONGs ambientalistas abre espaço para convergência entre produção e preservação

Convergência na visão de ambientalistas, produtores rurais e especialistas em relação ao desenvolvimento da produção e da conservação ambiental no Brasil podem se acentuar nos próximos anos. Um artigo publicado na última edição do journal Biofuels, Bioproducts and Biorefining (Biofrp) mostra uma nova tendência de ampliação da construção de consensos em torno de ações para equilibrar a agropecuária e a conservação.

Coordenado pelo professor Gerd Sparovek, da Esalq-USP, o artigo “Bioprodutos Sustentáveis no Brasil: disputas e concordâncias de uma agenda comum para agricultura e proteção da natureza” (clique aqui para baixar a versão em inglês) explora uma discussão estruturada entre especialistas ligados à pecuária, agricultura, florestas plantadas e carvão vegetal, ONGs que trabalham com conservação e com comunicação para desenvolvimento. O texto conclui que a maioria das ações citadas concilia a produção e a conservação, apesar de haver um aparente conflito entre os dois objetivos.

Os brasileiros se acostumaram a assistir embates como o da revisão do Código Florestal, que provocou grandes batalhas verbais no Congresso entre representantes do setor rural e ambientalistas radicais. "O embate entre ambientalistas e ruralistas em certa medida, se tornou um fim em si mesmo”, dia o professor Sparovek.

Entretanto, por um lado, a agropecuária brasileira vem apresentando melhorias de produtividade e eficiência nas últimas décadas, o desmatamento da Amazônia vem caindo de forma consistente e ações como o crescimento da produção com certificação ambiental tem se tornado evidentes. No mesmo período, por outro lado, o financiamento internacional para a atuação das ONGs no Brasil caiu dramaticamente produzindo uma diáspora da mão-de-obra ambientalista para outros setores.

A modernização da agricultura e o ocaso das ONGs radicais estão abrindo espaço para a construção de convergência entre os dois setores.

O artigo reuniu especialistas de diferentes áreas e classificou seus pontos de vista em categorias que variam desde os interesses comuns – que consideram o desenvolvimento sustentável da agropecuária brasileira, até aos que servem à sustentação da disputa entre meio ambiente e produção, onde as opiniões são opostas, passando pelos interesses exclusivos de conservação e exclusivos da produção.

Ao final de várias discussões, foram analisadas as ações propostas pelos participantes que beneficiavam conservação e/ou produção e as que não beneficiavam nenhum dos objetivos envolvidos. Ou seja, apenas serviam para alimentavam o debate, sem garantir melhora na produção ou na conservação. E os interesses comuns, que resultam no desenvolvimento sustentável do setor, se mostraram mais numerosos, indo desde a intensificação da produção pecuária, que reduz a necessidade de expansão da área de produção e de emissões de gases que provocam o efeito estufa (GEEs) até o compromisso assumido de cumprimento das leis ambientais.

Para Sparovek, “o estudo pode estimular uma forma mais positiva de debate sobre o tema da conservação da natureza e o desenvolvimento da produção agropecuária. Ressaltando e delimitando as conquistas já alcançadas no interesse comum do desenvolvimento sustentável, podemos evitar que esta agenda positiva seja sacrificada por interesses setoriais imediatos ou pelo fomento da disputa como um fim em si mesma”.

O engraçado é que quando era para esculhambar o agro brasileiro as ONGs tinham tulhas de dólares. Agora que é necessário construir convergência e trabalhar em conjunto, os dólares sumiram.

Roosewelt Pinheiro/ABr

Em tempo, este blog torce para que as pessoas de índole moderada ligadas à produção rural e ao movimento ambiental construam a mais sólida das pontes. Entretanto, consideramos imprescindível manter um espaço que exponha as pilantragens que o ambientalismo radical continua perpetrando em busca de flashs. Em outras palavras, vocês que construam as pontes. Minha função é outra.

Comentários