A especialista em análise de risco de mercado, da Consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, fez uma análise sobre a situação do frigorífico JBS |
Essa semana tive a oportunidade de assistir uma explanação primorosa da consultora Lygia Pimentel, da Agrifatto, sobre a atual crise (e as oportunidades) na cadeia da carne. Aprendi que o JBS detém 25% do mercado, que os Beagle Boys (JBS, Marfig e Minerva), juntos, controlam apenas 38% dos abates na cadeia da carne e que ainda temos 62% dos abates pulverizados entre frigoríficos menores. Ou seja, este blogger anda falando pra mais de metro de besteiras sobre oligopsônio no elo industrial da cadeia da carne aqui nesta página.
Aprendi também que uma disfunção no mercado brasileiro de carne bovina em meados dos anos 90 causou uma espécie de "bolha" no elo industrial da cadeia e o movimento atual de fechamento de plantas frigoríficas, em parte, deve-se ao estouro dessa bolha. Segundo Lygia Pimentel, os frigoríficos brasileiros têm capacidade para abater quase 53 milhões de cabeças por ano, mas em 2016 abateram apenas 36 milhões.
Quem diria!? Tem mais frigorífico do que boi no Brasil.
Eu tinha convicção de que o movimento do JBS de comprar frigoríficos apenas para mantê-los fechados era simplesmente uma ação para controlar o mercado, mas, de acordo com a Dra. Lygia Pimentel, é mais uma (re)adequação do tamanho do parque industrial do que a construção de um oligopsônio. Ressalvadas situações regionais específicas, fechar frigoríficos é uma coisa saudável para a cadeia da carne.
O Dr. Fenando Sampaio, que trabalhou na Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) antes de virar ambientalista, já havia tentado me explicar isso.
Segundo Sampaio, custa muito caro, por exemplo, manter dois frigoríficos com Serviço de Inspeção Federal (SIF) parcialmente ociosos. É mais racional manter um deles fechado e o outro funcionando bem apesar do custo de se manter uma planta fechada. Eu não dei a devida atenção aos argumentos do Dr. Fernando Sampaio na época, mas passei a ver a cadeia da carne com outros olhos depois do debate orientado pela palestra da Professora Lygia Pimentel.
Outra coisa que aprendi no evento, principalmente a partir das intervenções dos outros participantes, foi que a sacanagem que o JBS fará na cadeia brasileira da carne é muito maior do que simplesmente construir um oligopsônio capaz de controlar os preços da arroba do boi e da carne no varejo.
O JBS controla 54% das exportações brasileiras de carne bovina e tem posições nos EUA e na Austrália capazes de assumir parte desses contratos caso suas operações se desorganizem no Brasil. Aliás, apenas 27% do faturamento total do JBS em 2016 veio das suas operações na America Latina, incluindo Argentina, Uruguai e Paraguai que já foram vendidas ao Minerva. As operações do JBS na Austrália e nos EUA responderam por quase 70% do faturamento total de empresa em 2016.
Origem do faturamento do JBS em 2016 de acordo com a região de atuação |
Felizmente, nenhum dos dois mercados tem condições de substituir completamente o Brasil como fornecedor mundial de carne, mas as operações do JBS-EUA e JBS-Austrália estão bem melhor posicionadas para atender o mercado mundial do que o rebotalho da indústria frigorífica nacional.
Nós brasileiros usamos recursos do Banco NACIONAL de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para criar um frigorífico multinacional que está rifando o mercado brasileiro e se movimentando para concorrer com o Brasil a partir de suas operações americanas e australianas. É de lascar!
O que nós devemos fazer para reagir a isso?
A boa notícia é que a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) reuniu algumas das melhores cabeças do mundo pecuário para definir uma estratégia de atuação. Aliás, foi nessa reunião que a Dr. Lygia Pimentel apresentou seu painel. Veja aí:
Fotos Wenderson Araujo / Ascom CNACNA avalia riscos à pecuária com delação da JBS https://t.co/d9HxrkoIrk— CNA BRASIL (@SistemaCNA) 8 de junho de 2017
Comentários
Obrigada pelos elogiosos comentários. Fico satisfeita por participar de um debate tão pontual, enriquecedor e que servirá para, possivelmente, trazer o mercado de volta ao chão.
É hora de tomar esse amargo remédio com vistas à retomada do equilíbrio de mercado no longo-prazo.
Um forte abraço,
Lygia Pimentel
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