Cientistas encontram solução ambiental definitiva e publicam na Revista Science

Os protocientistas estão decididos a arranjar uma solução para o fim do desmatamento de florestas e prados nativos no Brasil. Usando a mesma tecnologia utilizada pela Nasa para estudar Marte, o sensoriamento remoto e as revisões dirigidas de literatura, os cientistóides acabam de encontrar quatro grandes soluções para o aumento da produção agropecuária no Brasil vinculada à proteção de vegetação nativa. Em um esplendoroso artigo publicado pela Revista Science dessa semana um grupo de pesquisadores listou essas quatro grandes soluções. Infelizmente, o que elas têm de novo não é assim tão bom, e o que elas têm de bom não é assim tão novo. Veja quais são as solucionáticas:

1. O bom e velho zoneamento

De tempos em tempos o discurso ambientalóide esmerilha um modismo de estimação. Anos atrás de cada cinco palavras escritas ou faladas pelos ambientalistas três eram zoneamento-ecológico-econômico (o tal do ZEE). Zoneamento foi a panacea da vez até que os ambientalistas descobriram que quando alguém zoneia ele desenha em um mapa as áreas que devem ser preservadas, mas também desenha as áreas que devem ser utilizadas. Como se sabe, utilizar recurso natural no Brasil é um anátema para o ambientalismo bocó que aqui grassa. Então, nossos ambientalistas puseram o zoneamento nos confins de uma gaveta obscura e lá o esqueceram.

Pois agora o grupo de cientistas tratou de ressuscitar o ZEE no artigo da Science. Segundo os doutos, este é o momento de afastar as áreas de maior biodiversidade e recursos hídricos de outras onde as atividades econômicas provocariam menor impacto ambiental.

Outra grande solucionática:

2. Os bons e velhos instrumentos econômicos

Potencialmente os instrumentos econômicos podem solucionar tudo. O problema é que eles têm a mania de exigir uma fonte de recurso. Toda vez que alguém tenta tirar um instrumento econômico do etéreo mundo das ideias esse alguém desvanece diante da pergunta: Quem vai pagar? Todo mundo adora um instrumento econômico desde que não tenha que pagar nada por isso. É mais ou menos como ser ateu graças a deus.

Pois agora o grupo de cientistas tratou de recolocar os instrumentos econômicos como grande solução no artigo da Science. De acordo com o texto, o arranjo é muito simples. Basta que o agricultor receba um prêmio para aumentar a produtividade da sua lavoura. Mas se ele desmatar, perde o benefício. "Os agricultores nunca desmatarão se souberem que receberão algum tipo de penalidade, dizem os pesquisadores. "Devemos apoiar a produção de alimentos, se ela ocorrer protegendo habitats", complementam. Não é genial?

Mas, de onde sairão dos recursos para o pagamento do tal prêmio?

A outra solucionática é bem mais charmosa:

3. A boa e velha assistência técnica

A palavra de ordem desta medida é tecnologia. A lógica é simples, é mais fácil plantar e colher se o agricultor tiver à disposição um aparato tecnológico: orientações técnicas sobre solo e nutrientes, modos de gerenciar a água, instruções para múltiplos cultivos e sobre controle de pestes e doenças, entre outras facilidades. "Precisamos criar no Brasil um programa de assistência rural de larga escala", afirma um dos pesquisadores envolvidos com o estudo sem dar qualquer pista sobre de onde devem vir os recursos para esse programa de assistência técnica de larga escala.

Finalmente, o último mandamento de salvação:

4. A medonha Certificação e acesso a mercados

Quem cultiva e é produtivo sem desmatar deve ser reconhecido. Uma das formas de se fazer isso seria facilitar o acesso desses agricultores ao mercado. "Os agricultores que cumprem objetivos voluntários podem apresentar os seus feitos para o consumidor. Podem estampar em seus produtos certificados oficiais de que, além de não terem desmatado, contribuíram para a restauração da mata", afirma um dos pesquisares responsáveis por essa pérola de artigo "científico".

O resumo da ópera é o seguinte: Vamos zonear (Comando & Controle), ensinar os produtores rurais a produzir do jeito certo (Educação Ambiental), premiar quem aprende e pratica (Instrumentos Econômicos) e certificar seus produtos garantido acesso a mercados (Certificação). Lindo, não é? Os cientistas estão certos. Se algum deles tivesse lido o bom e velho manual de gestão ambiental do Roger Perman poderiam ter poupado o espaço da Science para algo mais produtivo.

O que eles não dizem é, quem fará o zoneamento ou quem o fará ser cumprido? O Distro Federal, que é zoneado e do tamanho de uma fazenda grande, não consegue evitar invasões em áreas de proteção. Até um lixão do lado de uma Unidade de Conservação tem no Distrito Federal. Quem fará um incerto zoneamento ser cumprido em uma área do tamanhão do Brasil?

Quem arcará com o ônus de um grande sistema de assistência técnica? De onde virão os recursos para o prêmio ao comportamento correto? Como poderemos desfazer a imagem ruim que a produção nacional tem no exterior se uma penca de ONGs ambientalistas ainda trabalham no sentido contrário. O próprio artigo da Science fala em aumento do desmatamento na Amazônia. Que aumento, cara-pálida?

Esse aí do círculo vermelho?

Por décadas o movimento ambiental enxovalha o produtor rural brasileiro nos mercados internacionais. Por décadas os ecotalibãs pautam a política ambiental no Brasil pela punição ao comportamento errado ao invés do incentivo ao comportamento correto.

Tando faz se o produtor desmata ou não. Quem produz soja no Paraná é vendido no exterior por ONGs no mesmo saco de quem tenta produzir na Amazônia. Durante a COP 21, no a final do ano passado, vários representantes da União Europeia se queixaram do fato de parecerem estar pecando ao comprar produtos agrícolas brasileiros. Indistintamente nossos produtos são ligados ao uso indiscriminado de agrotóxicos, ao genocídios de indígenas e ao desmatamento da Amazônia. Os mesmos protocientistas que construíram esses stigma, agora acham que desfazê-lo é solução.

É quase natural do ser humano essa mania de reinventar a roda. Querem resolver os problemas ambientais do Brasil? Isolem do debate as ONGs radicais. Deixam as vozes moderadas serem ouvidas e trabalhem. É sendo razoável e trabalhando que se alcança resultados.

Comentários

Liz disse…
Resumo da minha ópera: por princípio a gestão do território brasileiro é privilégio e responsabilidade exclusiva dos brasileiros. As ações tem que atender às necessidades e expectativas dos habitantes de cada região ou localidade. Então parece que o artigo é irrelevante (e irrisório), ainda mais se foi encomendado a algum pesquisador brasileiro ´colaborador´. Ponto.

A resposta poderia ser a carta de Sepé Tiaraju. "Esta terra tem dono. E não são os Portugueses nem os Espanhois", nem os samoanos, gregos, americanos, noruegueses, egípcios, britânicos, iemenitas, suecos, lapões, guineenses, sauditas, filipinos ou a ONU inteira mais os marcianos.