O primeiro telefone celular vendido comercialmente entrou no mercado americano em 1983, há 33 anos. Era o Motorola Dynatec 8000x. Custava US$ 3.995, que equivalem hoje US$ 9.681,53, ou R$ 38.641,89 e só fazia ligações. No Brasil, o primeiro telefone móvel comercializado oficialmente foi o Motorola PT-550, já na década de 90. Tinha uma bateria que durava duas horas de ligação, pesava 348 gramas e tinha cerca de 23 centímetros de altura. Custava US$ 3.495, cerca de US$ 6.536,79, ou R$ 26.090,29, em valores atuais. Hoje qualquer um consegue comprar um smartphone por R$ 900,00, cerca de US$ 225,46. Exstem várias marcas e inúmeros modelos no mercado.
Lembro sempre dessa evolução quando ouço falar sobre carne artificial.
Outra história da qual me lembro sempre que penso sobre esse assunto é a da Kodak. A empresa inventou a câmera fotográfica e chegou a dominar 80% do mercado americano. Foi também a Kodak que inventou a câmera fotográfica digital, mas na época a maioria de seus lucros vinha da vendas de produtos químicos utilizados na produção de filmes para câmeras convencionais e os executivos da empresa tiveram receito de criar um mercado novo que ameaçaria seu negócio principal. Quando eles perceberam, o mercado digital tinha chegado para ficar, ultrapassado o filme e todos os concorrentes da Kodak tinham câmeras digitais muito superiores. As câmeras digitais da Kodak nunca foram boas e a empresa não conseguiu conquistar espaço no novo mercado. A Kodak pediu concordata em 2012.
Várias empresas hoje queimam recursos de fundos que administram capital de risco em uma corrida franca para serem as primeiras a produzir carne de proveta.
A Memphis Meats Inc. pretende vender carne artificial em 2020. Startups rivais, como a Mosa Meat e a Modern Meadow Inc., também têm o objetivo colocar carne de proveta no mercado em alguns anos. A competição entre elas, assim com o capital de risco que as alimenta, evidenciam um movimento importante na busca dessa inovação tecnológica.
Bill Gates, fundador da Microsoft, e dois dos fundadores do Twitter, Biz Stone e Evan Williams, investem em startups de proteínas à base de vegetais a Beyond Meat e a Impossible Foods Inc.
O primeiro hambúrguer de proveta resultante do projeto liderado pelo fisiologista Mark Post foi financiado por um dos fundadores do Google, custou US$ 330 mil e tinha gosto de chiclets mastigado pela ausência de gordura. Como os primeiros aparelhos de telefone celular, era absurdamente caro, mas incentivou Post a fundar Mosa Meat para continuar o experimento.
Essas empresas têm o objetivo declarado de revolucionar a indústria da criação animal. A tentativa de produzir carne de proveta não é um fim em si mesmo, mas um meio para fornecer proteína "animal" sem os custos colaterais da pecuária. Um terço dos grãos produzidos no mundo e cerca de 25% das terras agricultáveis do planeta são ocupados com a produção de carne.
Os pecuaristas de placa de Petri afirmam que produzir carne a partir de células e biorreatores (ferramentas similares aos fermentadores usados para fabricar cerveja) será visto como uma atividade ambientalmente correta. Coisas feias, com o desmatamento da Amazônia, o assassinato de indígenas e o uso de agrotóxicos e antibióticos não acontecerão mais. “A indústria da carne sabe que seus produtos não são sustentáveis”, diz ao quatro ventos o diretor-presidente da Memphis Meats, Uma Valeti.
Alguns de nós envolvidos com o agronegócio de carne duvida que os consumidores aceitarão carne de proveta. Eu considero um erro estúpido não olhar com respeito para esse movimento. O hambúrguer com gosto de chiclets da Mosa Meat não é mais desengonçado do que os modelos que antecederam o primeiro telefone celular, ou o Ford modelo T.
Os planos de negócio das startups de carne fake focam em aumentar a produção mantendo os custos baixos. Eles não querem qualidade, eles querem quantidade, querem fornecer produto barato em grande volume como forma e reduzir o espaço da pecuária convencional e encetar o objetivo da "sustentabilidade".
Esse consumidor de carne barata é diferente dos extratos superiores de renda, gente com mais preocupação com qualidade e saúde. Os pecuaristas de proveta miram o consumidor de baixa renda, o povão, gente mais preocupada com as dores do estômago do que com alimentos orgânicos e coisas do gênero.
Eu acho que esses caras, assim como os técnicos da Motorola e da Ford, terão ainda muito trabalho para chegar a um produto comercial, mas acredito seriamente que eles chegarão lá mais cedo ou mais tarde e, quando eles chegarem lá, nossa pecuária não será mais a mesma.
Vamos desdenhar da carne de proveta ou sentar e chorar?
Nem uma coisa, nem outra.
Quando os sauditas perceberam os americanos investindo pesado e trabalhando duro no desenvolvimento da tecnologia para exploração de gás de xisto, o que eles fizeram? Sentaram na varanda achando que os americanos estavam lucos, ou eram "piadistas"?
Não. Eles usaram seus dólares para plantar na America a ideia de que o gás e o petróleo de xisto provocavam problemas ambientais sérios, financiaram documentários, produziram filmes em Hollywood. Existem hoje nos Estados Unidos movimentos sociais contra a exploração de xisto betuminoso.
Não adiantou muito, mas eles perceberam o problema e trabalharam na defesa dos seus interesses.
E nós? O que nós (da pecuária) faremos?
Vamos ficar aqui duvidando do potencial da ciência & tecnologia associadas a muito dinheiro e a trabalho duro? Vamos esquecer que essa associação viabilizou a extração de gás de xisto? Já botou o homem na lua e um robot em Marte? Já produziu telefones celulares, carros e máquinas fotográficas digitais? Já destruiu mercados sólidos como o nosso?
Lembro sempre dessa evolução quando ouço falar sobre carne artificial.
Outra história da qual me lembro sempre que penso sobre esse assunto é a da Kodak. A empresa inventou a câmera fotográfica e chegou a dominar 80% do mercado americano. Foi também a Kodak que inventou a câmera fotográfica digital, mas na época a maioria de seus lucros vinha da vendas de produtos químicos utilizados na produção de filmes para câmeras convencionais e os executivos da empresa tiveram receito de criar um mercado novo que ameaçaria seu negócio principal. Quando eles perceberam, o mercado digital tinha chegado para ficar, ultrapassado o filme e todos os concorrentes da Kodak tinham câmeras digitais muito superiores. As câmeras digitais da Kodak nunca foram boas e a empresa não conseguiu conquistar espaço no novo mercado. A Kodak pediu concordata em 2012.
Várias empresas hoje queimam recursos de fundos que administram capital de risco em uma corrida franca para serem as primeiras a produzir carne de proveta.
A Memphis Meats Inc. pretende vender carne artificial em 2020. Startups rivais, como a Mosa Meat e a Modern Meadow Inc., também têm o objetivo colocar carne de proveta no mercado em alguns anos. A competição entre elas, assim com o capital de risco que as alimenta, evidenciam um movimento importante na busca dessa inovação tecnológica.
Bill Gates, fundador da Microsoft, e dois dos fundadores do Twitter, Biz Stone e Evan Williams, investem em startups de proteínas à base de vegetais a Beyond Meat e a Impossible Foods Inc.
O primeiro hambúrguer de proveta resultante do projeto liderado pelo fisiologista Mark Post foi financiado por um dos fundadores do Google, custou US$ 330 mil e tinha gosto de chiclets mastigado pela ausência de gordura. Como os primeiros aparelhos de telefone celular, era absurdamente caro, mas incentivou Post a fundar Mosa Meat para continuar o experimento.
Essas empresas têm o objetivo declarado de revolucionar a indústria da criação animal. A tentativa de produzir carne de proveta não é um fim em si mesmo, mas um meio para fornecer proteína "animal" sem os custos colaterais da pecuária. Um terço dos grãos produzidos no mundo e cerca de 25% das terras agricultáveis do planeta são ocupados com a produção de carne.
Os pecuaristas de placa de Petri afirmam que produzir carne a partir de células e biorreatores (ferramentas similares aos fermentadores usados para fabricar cerveja) será visto como uma atividade ambientalmente correta. Coisas feias, com o desmatamento da Amazônia, o assassinato de indígenas e o uso de agrotóxicos e antibióticos não acontecerão mais. “A indústria da carne sabe que seus produtos não são sustentáveis”, diz ao quatro ventos o diretor-presidente da Memphis Meats, Uma Valeti.
Alguns de nós envolvidos com o agronegócio de carne duvida que os consumidores aceitarão carne de proveta. Eu considero um erro estúpido não olhar com respeito para esse movimento. O hambúrguer com gosto de chiclets da Mosa Meat não é mais desengonçado do que os modelos que antecederam o primeiro telefone celular, ou o Ford modelo T.
Os planos de negócio das startups de carne fake focam em aumentar a produção mantendo os custos baixos. Eles não querem qualidade, eles querem quantidade, querem fornecer produto barato em grande volume como forma e reduzir o espaço da pecuária convencional e encetar o objetivo da "sustentabilidade".
Esse consumidor de carne barata é diferente dos extratos superiores de renda, gente com mais preocupação com qualidade e saúde. Os pecuaristas de proveta miram o consumidor de baixa renda, o povão, gente mais preocupada com as dores do estômago do que com alimentos orgânicos e coisas do gênero.
Eu acho que esses caras, assim como os técnicos da Motorola e da Ford, terão ainda muito trabalho para chegar a um produto comercial, mas acredito seriamente que eles chegarão lá mais cedo ou mais tarde e, quando eles chegarem lá, nossa pecuária não será mais a mesma.
Vamos desdenhar da carne de proveta ou sentar e chorar?
Nem uma coisa, nem outra.
Quando os sauditas perceberam os americanos investindo pesado e trabalhando duro no desenvolvimento da tecnologia para exploração de gás de xisto, o que eles fizeram? Sentaram na varanda achando que os americanos estavam lucos, ou eram "piadistas"?
Não. Eles usaram seus dólares para plantar na America a ideia de que o gás e o petróleo de xisto provocavam problemas ambientais sérios, financiaram documentários, produziram filmes em Hollywood. Existem hoje nos Estados Unidos movimentos sociais contra a exploração de xisto betuminoso.
Não adiantou muito, mas eles perceberam o problema e trabalharam na defesa dos seus interesses.
E nós? O que nós (da pecuária) faremos?
Vamos ficar aqui duvidando do potencial da ciência & tecnologia associadas a muito dinheiro e a trabalho duro? Vamos esquecer que essa associação viabilizou a extração de gás de xisto? Já botou o homem na lua e um robot em Marte? Já produziu telefones celulares, carros e máquinas fotográficas digitais? Já destruiu mercados sólidos como o nosso?
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