Há duas semanas publiquei um post sobre a inexistência de tecnologia para recuperação de florestas. O post fazia referência a uma das pesquisas inconclusas da Embrapa que investiga efeitos ecológicos e custos financeiros de arranjos de recuperação florestal. Fui criticado por, supostamente, ter criticado a Embrapa. Não critiquei. Fiz apenas uma observação. A Embrapa não sabe como recuperar uma floresta nativa porque simplesmente ninguém sabe.
Sou de um tempo em que os cientistas ficavam felizes quando alguém apontava uma lacuna de conhecimento. Conheço pesquisadores que trabalharam a vida inteira sem jamais ter experimento a chance de enxergar uma lacuna de conhecimento. É da falta de conhecimento, e não dele em si, que vivem os cientistas. Pelo menos os cientistas de verdade.
O fato da Embrapa ter mais de um linha de pesquisa tentando encontrar e aperfeiçoar técnicas de recuperação florestal é uma evidência de que há mais sombra do que luz sobre a prática.
Eu tenho uma antipatia antiga pelo trabalho do Ingo Isernhagen. Quando eu soube do projeto de pesquisa dele sobre recuperação florestal em parceria com a ONG Instituto Socioambiental (ISA), lá em 2012, tentei entrar em contato com ele de várias formas.
Tinha a curiosidade de saber se o trabalho não estava excessivamente viesado pelo fetiche anti-agro do ISA. Tentei saber se o trabalho previa o levantamento de custos para que se pudesse, ao final do projeto de pesquisa de longo prazo, estimar a viabilidade econômica dos arranjos de recuperação. Tentei sem sucesso falar com o Sr. Isernhagen através de vários conhecidos que tenho na Embrapa. Talvez tenha sido influência do ISA, talvez não.
Mas não foi por essa antipatia que escrevi o post. O fato é que não existe tecnologia viável para recuperação florestal e esse é um grande problema para a agenda de implementação do Código Florestal depois da lenga-lenga do CAR.
Um projeto de pesquisa sobre reflorestamento com nativas do Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal, da Esalq, já chegou a uma conclusão importante: Quase tudo o que se sabia sobre recuperação florestal estava errado.
"Historicamente se pensava que sair plantando árvores recuperava floresta", diz o Professor Ricardo Rodrigues, um dos pesquisadores do projeto. "Constatamos que essa era a maior causa de não vingar nada", aponta Luiz Barbosa, outro pesquisador envolvido. (conheça aqui o projeto do Laerf)
Eu tenho convicção de que, na maioria das situações reais, recuperar floresta nativa é uma atividade antieconômica. Dá prejuízo. Embora seja uma atividade socialmente querida, do ponto de vista do investidor, é como jogar dinheiro no fogo. É por isso que ninguém pratica e reclama quando é obrigado a praticar.
Mas esse é um conhecimento empírico. Vem do conhecimento que tenho como Engenheiro Agrônomo e da experiência que tive trabalhando em campo na Amazônia.
Acredito que, se forem bem conduzidos, os experimentos científicos que investigam métodos de recuperação florestal chegarão a essa conclusão e transformarão conhecimento empírico em conhecimento científico: aquilo que tem viabilidade econômica não terá importância ecológica e aquilo que tem alguma utilidade ambiental será economicamente inviável. Já escrevi isso aqui no blog várias vezes e, aliás, é nesse rumo que apontam, tanto os dados preliminares do Sr. Ingo Isernhagen, quanto as pesquisas do Laerf.
Se a conclusão for essa não será o fim do mundo. Entender porque os sistemas de recuperação florestal são antieconômicos será o primeiro passo para tornar a atividade atrativa ao investidor privado.
O risco é os cientistas sociais caírem na esparrela de forçar (torturar) os arranjos de pesquisa e os dados para provar (ou demonstrar) uma viabilidade irreal. Aí afundaremos de vez na ignorância. Era essa a minha preocupação quando tentei falar com o Ingo Isernhagen há 4 anos.
A Embrapa pode ajudar muito, tanto pelos rudimentos de conhecimento que já podem ser extraídos do trabalho do Isernhagen, quanto pelos trabalho do projeto Biomas desenvolvido em parceria com a CNA. O Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal, da Esalq, também já tem um acumulo de conhecimento na área, assim como os estudos do Icone.
Talvez fosse o caso de alguém patrocinar um Seminário de Recuperação Florestal que ajuntasse toda essa turma. Melhor ainda se esse alguém fosse do Agro.
Veja também:
Sou de um tempo em que os cientistas ficavam felizes quando alguém apontava uma lacuna de conhecimento. Conheço pesquisadores que trabalharam a vida inteira sem jamais ter experimento a chance de enxergar uma lacuna de conhecimento. É da falta de conhecimento, e não dele em si, que vivem os cientistas. Pelo menos os cientistas de verdade.
O fato da Embrapa ter mais de um linha de pesquisa tentando encontrar e aperfeiçoar técnicas de recuperação florestal é uma evidência de que há mais sombra do que luz sobre a prática.
Eu tenho uma antipatia antiga pelo trabalho do Ingo Isernhagen. Quando eu soube do projeto de pesquisa dele sobre recuperação florestal em parceria com a ONG Instituto Socioambiental (ISA), lá em 2012, tentei entrar em contato com ele de várias formas.
Tinha a curiosidade de saber se o trabalho não estava excessivamente viesado pelo fetiche anti-agro do ISA. Tentei saber se o trabalho previa o levantamento de custos para que se pudesse, ao final do projeto de pesquisa de longo prazo, estimar a viabilidade econômica dos arranjos de recuperação. Tentei sem sucesso falar com o Sr. Isernhagen através de vários conhecidos que tenho na Embrapa. Talvez tenha sido influência do ISA, talvez não.
Mas não foi por essa antipatia que escrevi o post. O fato é que não existe tecnologia viável para recuperação florestal e esse é um grande problema para a agenda de implementação do Código Florestal depois da lenga-lenga do CAR.
Um projeto de pesquisa sobre reflorestamento com nativas do Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal, da Esalq, já chegou a uma conclusão importante: Quase tudo o que se sabia sobre recuperação florestal estava errado.
"Historicamente se pensava que sair plantando árvores recuperava floresta", diz o Professor Ricardo Rodrigues, um dos pesquisadores do projeto. "Constatamos que essa era a maior causa de não vingar nada", aponta Luiz Barbosa, outro pesquisador envolvido. (conheça aqui o projeto do Laerf)
Eu tenho convicção de que, na maioria das situações reais, recuperar floresta nativa é uma atividade antieconômica. Dá prejuízo. Embora seja uma atividade socialmente querida, do ponto de vista do investidor, é como jogar dinheiro no fogo. É por isso que ninguém pratica e reclama quando é obrigado a praticar.
Mas esse é um conhecimento empírico. Vem do conhecimento que tenho como Engenheiro Agrônomo e da experiência que tive trabalhando em campo na Amazônia.
Acredito que, se forem bem conduzidos, os experimentos científicos que investigam métodos de recuperação florestal chegarão a essa conclusão e transformarão conhecimento empírico em conhecimento científico: aquilo que tem viabilidade econômica não terá importância ecológica e aquilo que tem alguma utilidade ambiental será economicamente inviável. Já escrevi isso aqui no blog várias vezes e, aliás, é nesse rumo que apontam, tanto os dados preliminares do Sr. Ingo Isernhagen, quanto as pesquisas do Laerf.
Se a conclusão for essa não será o fim do mundo. Entender porque os sistemas de recuperação florestal são antieconômicos será o primeiro passo para tornar a atividade atrativa ao investidor privado.
O risco é os cientistas sociais caírem na esparrela de forçar (torturar) os arranjos de pesquisa e os dados para provar (ou demonstrar) uma viabilidade irreal. Aí afundaremos de vez na ignorância. Era essa a minha preocupação quando tentei falar com o Ingo Isernhagen há 4 anos.
A Embrapa pode ajudar muito, tanto pelos rudimentos de conhecimento que já podem ser extraídos do trabalho do Isernhagen, quanto pelos trabalho do projeto Biomas desenvolvido em parceria com a CNA. O Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal, da Esalq, também já tem um acumulo de conhecimento na área, assim como os estudos do Icone.
Talvez fosse o caso de alguém patrocinar um Seminário de Recuperação Florestal que ajuntasse toda essa turma. Melhor ainda se esse alguém fosse do Agro.
Veja também:
Publicado por Código Florestal em Segunda, 15 de fevereiro de 2016
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