Quando Chico Mendes foi assassinado, em 1988, o fundamentalismo ambiental brasileiro nasceu. Quando a freira norte americana Dorothy Stang foi assassinada, em 2005, Marina Silva usou a comoção internacional para criar unidades de conservação à sorrelfa e expulsar milhares de colonos amazônidas assentados na região da BR 163, a quase mil quilômetros de distância de onde ocorreu o crime. Na Amazônia o ambientalismo viceja sobre cadáveres.
Anos antes de ser assassinado, Chico Mendes vivia rodeado de ambientalistas. O jornalista americano Andrew Revkin, que escreveu uma densa reportagem sobre o assassinado de Mendes, mencionou o drama desses ambientalistas. Eles tinham a missão de alertar o mundo para o desmatamento no Brasil, mas não conseguiam uma única manchete de jornal.
Um desses ambientalistas, Stephen Schwartzman, se queixava para outro, o cineasta inglês Adrian Cowell, de que era fácil mobilizar pessoas contra a pesca de baleias no Japão, porque baleias sangrando ao serem mortas e esquartejadas pelos baleeiros japoneses produziam imagens chocantes que viravam notícia rapidamente. Por outro lado, na questão do desmatamento, as imagens mostravam minutos e minutos de uma floresta interminável que passava a ideia de que não havia e problema.
Era difícil emplacar uma manchete sobre desmatamento.
Não foi difícil perceber que Chico mendes, que era gordinho, baixinho e rechonchudo, parecia com uma beleia minke (sem trocadilho).
Os ambientalistas começaram então um plano sinistro. Carregaram Chico Mendes pela mão a todos os eventos internacionais que puderam e criaram uma imagem mundial de um protetor da natureza e salvador dos povos desvalidos e violentados da Amazônia. A antiga antipatia mútua dos seringueiros com os índios foi apaziguada por ação dos ambientalistas, afinal os dois grupos não poderiam figurar como antagonistas.
Depois os fundamentalistas do mogno atiçaram Chico Mendes diuturnamente contra um dos maiores assassinos do Acre. A família Alves chegara ao Acre já fugindo de um assassinado ocorrido no Paraná. Chico foi instado sistematicamento contra os Alves.
O resultado? Chico foi assassinado e os ambientalistas, finalmente, conseguiram suas manchetes.
Enquanto você lê esse texto deve haver pelo menos uma dezena de pessoas tentando construir o próprio martírio na Amazônia. Tem um bispo alemão no Xingu que procura quem dê um tiro nele há mais de trinta anos e não encontra. A turma já percebeu a malandragem e não entra na dele nem por um carrada de mogno serrado. Às vezes dá certo, como no caso da freira americana, mas o problema é que demora e não há como controlar o timming. Há momentos em que os verdes poderiam usar bem um defunto, mas nada acontece.
Então os ambientalistas recorreram a outra tática. Não tem mais indigente na Amazônia, só tem ambientalista. Levou um tiro e morreu na Amazônia, pronto, era ativista ambiental desde criancinha. Dias atrás mataram um foragido da justiça do Maranhão que estava escondido no Pará e adivinhem!? Virou ativista ambiental na hora, seringueiro de poronga e tudo.
Os ambientalistas aprenderam que os jornalistas do sul publicam qualquer coisa que eles disserem. Ninguém checa, ninguém verifica, ninguém desconfia. A fonte é do bem? A informação encaixa nos estereótipos? Então é verdade.
Vou fazer uma coisa horrível agora e tomara que Aldo Rebelo não leia esse post. Vou citar o Karl Marx (iiirrc!!): "A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. O diabo é que a repetição não cessa.
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Em tempo, este post foi publicado no blog do Código Florestal no dia 15 de junho de 2011. Releia: Código Florestal e a necrofilia dos verdes. Foi escrito por ocasião do assassinato de um corretor de lotes de lotes da reforma agrária no Pará. Para quem não sabe corretagem de lote da reforma agrária é atividade ilegal.
Resolvi republicá-lo hoje (com alguma modificações) depois de ler uma reportagem na Folha sobre uma chacina no Mato Grosso. O repórter da Follha escreveu sobre invasores de propriedade que vendiam madeira de forma de ilegal e contratavam trabalhadores em condições análogas às de escravo. Oito foram mortos, só três eram invasores, os outros cinco eram escravos em analogia.
Mas o jornalista da Folha redimiu a todos. Afinal, eram cadáveres. Os ambientalistas e os jornalistas adoram um cadáver.
O caso de Colniza merecia um aprofundamento. O assentamento não é assentamento. Os mortos venderam a madeira de uma área privada protegida. É um amontoado de anti-clichês. Infelizmente, este, como tandos outros assuntos profícuos, não poderão ser abordados por este blogger por pura falta de tempo.
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