A hora e a vez da juquira: Cientistas desorientados calculam o valor da floresta em pé

Não há quem conheça a roça e não saiba o que é juquira. Juquira é o mato que cresce no campo. A palavra é uma corruptela do termo junqueira que, na origem, tem o mesmo significado. Pode ser rala, mole ou grossa, o famoso juquirão. Juquira é tudo o que não presta. Ou melhor, era tudo o que não prestava. Agora parece que vai prestar. Graças ao novo Código Florestal, Amém!

A lei exige que todas as propriedades rurais do país mantenham uma área de Reserva Legal para fins e conservação ambiental. Reserva Legal é o nome chic da juquira. Mas se o proprietário não tiver mais essa juquira chic por causa da agricultura ou da famigerada criação de gado, de acordo com a lei, ele pode comprar uma Cota de Reserva Ambiental (CRA). CRA é outro nome chic de juquira.

Foto: Divulgação/Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais adaptada pelo blog

O proprietário que tiver mais juquira do que manda a lei poderá emitir Cotas de juquira. A Cota de Juquira é um título legal negociável representativo de áreas com vegetação nativa ou em regeneração, ou seja, juquira, além da área exigida como Reserva Legal. O produtor poderá vender essas cotas de juquira para donos de outras propriedades que estejam com menos reserva florestal (juquira) do que o exigido pela lei.

A juquira, quem diria, será negociada em bolsa de valores e a foice entrará em processo de extinção. Foi-se a foice.

Cientistas desorientas reunidos no Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais criaram o projeto “Mercado de CRA no Brasil”. O objetivo é levantar dados para saber qual seria o valor exato, em Reais, da juquira excedente existente no Brasil. “Fizemos pesquisa com pessoas da área rural de todos os biomas para saber quanto elas estavam dispostas a pagar e por quanto elas estavam dispostas a vender o CRA”, disse Raoni Rajão, cientista desorientado que coordena o projeto.

Os dados foram utilizados para encontrar o preço de equilíbrio imaginário onde a oferta imaginária de juquira e cruza com a demanda imaginária de juquira equivalente. Na Amazônica, por exemplo, num dos cenários imaginários propostos pelos cientistas desorientados, o preço do hectare de juquira excedente, o equivalente a uma Cota de Juquira, seria de R$ 3.094.

Vejam só!! Quem diria!! Um alqueire de juquira, que nós costumávamos amaldiçoar e torar o é no toco na base da foice, valerá R$ 15 mil reais, de acordo com os cientistas desorientados. Segundo eles, o valor inclui o preço da terra, mais o custo de ver a juquira crescer somado aos custo da transação.

Eu sempre achei que o sertão viraria mar antes da juquira valer alguma coisa. É como escreveu o Rosa: "Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa."

Em tempo, a Cota de Juquira é um dos itens do novo Código Florestal cuja constitucionalidade foi questionada pela Procuradores Geral da República junto ao Supremo Tribunal Federal. A depender da decisão da suprema corte a juquira pode voltar não valer nada e nós poderemos ser felizes novamente voltando à ordem normal das coisas.

Comentários

Unknown disse…
Texto que eu preferiria não ter lido... Como a tal Rosa citada, desconfio que o escritor não deva conhecer muito bem de juquira e talvez nem conheça a Amazônia ou Região Amazônica. Por exemplo, aqui no Pará, juquira só pode ser limpa e retorar à pasto, se tiver menos de 20 anos e, se tiver mais de 5, precisa até de projeto com Engenheiro Florestal. Nada mais justo do que considerar sim, juquira como Área de Reserva Legal!!!