Para o antropólogo Eduardo S. Brondizio é necessário aproximar o debate ambiental e a discussão sobre o desenvolvimento socioeconômico. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil |
Só mesmo um antropólogo que trabalha na Amazônia e não estuda índio para perceber, ainda que tacitamente, as consequências da luta pela proteção da floresta na vida do amazônida. Em entrevista à Revista Fapesp, Eduardo Brndízio diz que na Amazônia há "uma inabilidade em valorizar os recursos regionais e promover uma economia transformativa e não extrativista, para beneficiar a região e sua população."
Além de antropólogo, o paulista de 54 anos, Eduardo Brondizio estudou agronomia na Universidade de Taubaté, onde se interessou pela mudança no padrão de uso da terra de comunidades rurais. Passou pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e ajudou a fundar a ONG SOS Mata Atlântica. Fez doutorado em antropologia ambiental na Universidade de Indiana da qual se tornou professor titular e chefiou o Departamento de Antropologia.
Brondizio e seus alunos comparam dados estatísticos e de sensoriamento remoto e entrevistam famílias de ribeirinhos e de imigrantes recém-chegados, para compreender como elas tomam decisões sobre migração e uso da terra com impacto na transformação social e na paisagem regional.
O acompanhamento de parte das famílias é feito há quase 30 anos. Várias delas não vivem mais em áreas rurais. São encontradas nas periferias das cidades, para onde se transferiram em busca de oportunidades, num processo de transformação da Amazônia que se acelerou de forma exponencial desde os anos 1970.
Segundo Brondízio, a "inabilidade" em substituir a economia de fronteira por uma economia sustentável tem efeitos sociais importantes na região. "A poluição dos rios e problemas urbanos aumentam e conflitos sociais se multiplicam. Há um processo muito rápido de urbanização e os municípios não conseguem acompanhar as demandas por serviços públicos e sociais e por manejo ambiental criadas pela transformação", diz ele.
Ainda de acordo com o pesquisador, a violência urbana é assustadora, afetando cidades grandes e pequenas. "Além da expansão do tráfico de drogas, ela reflete a falta de uma economia transformativa capaz de criar mais renda e oportunidades para a população. A maioria dos municípios está insolvente e dependente de transferências federais, assim como muitas famílias", afirma ele.
O pesquisador se mostra abismado com a invisibilidade do problema urbano na Amazônia que ele chama de “elefante na sala” do desenvolvimento sustentável. "Mais da metade da população de Belém está vulnerável a inundações, que trazem lixo e esgoto. Quase a totalidade do esgoto e boa parte do lixo gerado nas mais de 700 cidades da região vão para os rios. Ninguém fala de poluição na Amazônia. Isso é incrível", disse Brondízio à Revista Fapesp.
Veja aqui a íntegra da entrevista
Em tempo, além de antropólogo estudioso da Amazônia, Brondízio é também um ambientalista. Foi fundador da ONG que hoje pertencia a Mario Mantovani, a SOSma. Essa origem no movimento ambientalista talvez seja a fonte da forma educada que Brondízio usa para se referir à falta de alternativas econômicas deixada na esteira da luta pela proteção ambiental.
O que ele chama de "Inabilidade em valorizar os recursos regionais e promover uma economia transformativa e não extrativista, para beneficiar a região e sua população" este blogger chama de "asfixia da economia de fronteira sem alternativas sustentáveis".
São duas formas de descrever o mesmo fenômeno.
Vejam aqui outros posts nos quais tratei desse tema, sendo o melhor deles, na minha opinião, O crime perfeito.
Porque o povo da Amazônia não quer o Fundo Amazônia
A preservação da miséria florestal na Amazônia
Sarney Filho revoluciona o discurso sobre a proteção da Amazônia
Aliás, é precisamente por essa razão que me refiro neste blogg ao ambientalismo corriqueiro como ambientalismo de ½ ambiente com o numeral ½ no lugar do substantivo "meio": nossos ambientalistas enxergam apenas a parte que lhes convém do meio ambiente.
Também foi por essa razão que eu criei o www.desambientalismo.com cuja proposta original era tratar justamente da desumanidade das estratégias de preservação do meio ambiente, mas que está abandonado por falta de tempo e energia.
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